Hoje falei com o Marcos Augusto Damasceno do Vale. Marquinhos é um micro-empresário cruzeirense, contemporâneo meu. Um batalhador, digno, de boa família, um jovem cristão.
Rapidamente, como se estivéssemos num sinal a abrir, falamos sobre Blogs (ele também administra um – www.servindoaosenhor.site90.com - ), e demonstrou grande simpatia pelo que escrevo de vez em quando (é impossível ser brilhante mais de duas vezes por ano) e nos despedimos. A gente percebe a sinceridade dos amigos.
Ele saiu e eu fiquei.
Acionei o controle de senha e chamei o próximo (chamei? A máquina é quem chama). Triste isso. É ótimo para controlar a fila, mas... e a emoção de dizer “Próximo!”.
Fiquei pensando na correria da vida moderna. Dorme-se cada vez menos, trabalha-se cada vez mais e nem se encontra tempo para ver as pessoas.
Apesar disso, sou um homem feliz. Pela manhã atendo pessoas, à tarde atendo pessoas e até meia-noite faço aquilo que mais gosto – fico com a família, jogo futebol(com menos qualidade do que gostaria) e escrevo (mais por teimosia que por necessidade e talento).
Hoje, por ser mais feliz, sorrio mais e o contato com as pessoas se tornou um grande prazer e satisfação.
A visita do Marquinhos me fez muito bem.
Fico a observar as pessoas que atendo e tenho aprendido muito com elas.
A maioria nos oferecem aulas gratuitas de otimismo, de boa educação, de felicidade. Outras nos fazem entristecer com a vaidade e a mesquinhez humana. Foi também, o que aconteceu hoje.
Por volta das 10:30, observei um senhor que entrava na repartição.
Tirou o boné, cumprimentou um rapaz e ficou ali. Não reclamou de nada, não pediu para ser atendido, não exigiu as prerrogativas que o Estatuto do Idoso lhe garante (ou deveria garantir). Não esperou muito, pois entrou exatamente no momento em que eu concluía um atendimento. Pedi que se aproximasse e tomasse assento.
Era um senhor de 80 anos, agricultor, morador do Projeto Taquari entre os rios Tauari e Gregório.
Queria a carteirinha que o DETRAN expede aos cidadãos acima de 65 anos e aos portadores de necessidades especiais e lhes assegura o acesso gratuito aos veículos de transporte coletivo de passageiros.
Alegre, conversador, explicou que o “rapaz do ônibus”, queria cobrar a passagem e como era sabedor do direito, tinha vindo buscar apoio.
Enquanto preenchia seu requerimento percebi a grandeza e a humildade daquele camarada. Convidou-me para um dia(em breve eu espero) visitar seu terreno a uns 150 km daqui.
Conferia ainda a documentação (2 fotografias e a fotocópia do RG), quando percebi que uma senhora, na fila estava indignada por ter perdido a vez para aquele cidadão. Falava com os mais próximos, como a buscar apoio às suas "verdades absolutas" e ao seu "direito líquido e certo", violado.
Seu Manoel foi embora satisfeito, agradecido e nem percebeu o “incômodo” que sua condição de cidadão humilde, pobre e analfabeto (a almofada de carimbos como testemunha) estava causando àquela pessoa bem vestida, que alegava pressa, superioridade e direitos.
Nem me dei ao trabalho de tentar explicar o que ela deveria saber. Ela jamais entenderia. Tirei por menos, mas prometi para mim que ela não sairia impune.
Tenho uma característica (herdada de minha mãe) que é pior que uma boa “esculhambaçao”. Ofereci àquela criatura que não deve ter idosos na família e nem vai envelhecer, o meu olhar de pena. Meu melhor olhar de pena.
Pedi a Deus que a colocasse na minha frente. Fui atendido.
Sentou e mais uma vez reafirmou seu direito violado (por mim), justificando que era “pessoa ocupada”.
E um senhor de 80 anos não é? Arrisquei.
“Pode até ser, mas não é problema meu!”
Fiquemos por aqui.
Um comentário:
Valeu...você cumpre sem prometer e isso é um Dom Divino. Continue fazendo seu trabalho, pois você pode até não notar, mas sempre será elogiado por outros(o que é melhor).
Marcus Vale
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