Dia da Amazônia - Comemorar o quê?

Hoje é comemorado o dia da Amazônia, mas entendo não haver muito o que comemorar.

A gente fica sabendo das coisas, por mais que não devéssemos ficar sabendo.

A coisa deve ter sido mais ou menos assim:

Um cidadão comprou um seringal e resolveu plantar boi. Alugou motosserras, comprou peixe salgado, contratou alguns peões e os mandou iniciar a derrubada. A dimensão do dano: 600 hectares de floresta derrubados. Para se ter idéia do tamanho da área basta dizer que o sujeito que foi levar combustível para as motosserras se perdeu no meio do caminho.

No fim da derrubada, ocorreu o maior massacre de macacos da história. Apesar de considerados espertos, no desespero de escapar, eles vão procurando as árvores mais altas e quando elas tombam, eles tombam junto.

Tudo calculado. A multa do IBAMA, o recurso, mais outro, uma instância acima. Dez anos.

No fim, quase nada. Comentários, suspeitas, despeitas, prejuízo ambiental.

Assim funcionam as coisas em alguns lugares da Amazônia.

Não há muito o que comemorar. Minha indignação é bem maior que a inspiração para escrever um bom artigo ufanista sobre a floresta, seus rios, sua grandeza.

Os ricos, os poderosos, gostariam de por fogo no mundo e que nós assistíssemos passivamente.

Quanto a isso, nós temos nos comportado perfeitamente. É isso que tem sido feito.

A questão ambiental por aqui rende votos. Os eleitores decidem seu voto pela proposta, pela valentia e pelo ataque do candidato às leis ambientais.

Prometer a um agricultor que ele vai poder desmatar todo o seu lote é a garantia do voto e ainda decide eleições.

Os excessos e os desmandos dos órgãos ambientais, assim como excessos de qualquer instituição, devem ser combatidos. A lei ambiental quando aplicada com a medida correta e o bom senso, não.

É uma pena, triste mesmo, que os que mais sofrerão com o aquecimento global, a sede, e as doenças sejam, até pela pobreza intelectual, os que mais sofrerão.

Os poderosos poderão comprar oxigênio e água mineral. Os pobres poderão lamentar.

Quanto a isso, eu gostaria de estar enganado.