Este é um blog de opinião. As postagens escritas ou selecionadas refletem exclusivamente a minha opinião, não sofrendo influência ou pressão de pessoas ou empresas onde trabalho ou venha a trabalhar.

domingo, 9 de novembro de 2014

"SERÁ QUE ESTOU ME TORNANDO CONSERVADOR?"

POR MOISÉS DINIZ - Nas últimas semanas tenho lido muita coisa pela imprensa afora, de esquerda, de direita, de extrema-esquerda, ultra reacionária, de todo tipo. Além das asneiras publicadas pela direita, falando, inclusive, de golpe militar, algo também estranho vem sendo publicado pela esquerda: o controle dos meios de comunicação, mesmo que seja a regulação econômica, como define a presidente Dilma.


Desde que entrei no Partido Comunista, há trinta anos, que sempre discordei da forma em que os partidos comunistas e de esquerda, no poder, tratavam a mídia.

A primeira desconfiança se dava na desproporção do poder mal utilizado. Que socialismo ou governo de esquerda eram aqueles que precisavam cercear a imprensa, controlar sindicatos, banir partidos, etc, quando detinham o poder político, o poder econômico, as terras e até as forças armadas? Algo de errado havia naquelas repúblicas socialistas. O déficit não foi outro: caíram quase todas.

Sempre desconfiei de que, quando a esquerda não faz o dever de casa, acaba descambando para o autoritarismo, quando descobre que a direita e a mídia estão dentro do mesmo trem. E aí não sobra outro caminho: defendem o controle da mídia.

Por que os intelectuais da esquerda e a sua militância não se perguntam o que a esquerda, no poder, fez para que a sociedade civil organizada pudesse ter também os seus meios de comunicação de massa?

Por que um governo de esquerda escancarou concessões aos clãs de Sarney, Collor, Barbalho et caterva e não abriu milhares de rádios e tvs comunitárias, estudantis, sindicais, indígenas, rurais, de grupos de cultura, de religiões populares, além dos poderosos canais de tvs dos bispos?

Acho que eu não estou me tornando conservador, apenas mantendo a minha posição de que imprensa a gente não controla, a gente impõe a disputa, abre concorrência. E deixa o povo assistir e julgar.

De minha parte, independente da opinião dos partidos de esquerda ou de direita, vou continuar me posicionando contra qualquer controle dos meios de comunicação, porque a mesma direita que, agora, combate o controle da mídia, é a mesma que, quando no poder, age pelo cerceamento da imprensa.

São duas escolas velhas que precisam se entender com o presente, para não virarem fumaça no futuro. São duas irmãs gêmeas: se harmonizam no cerceamento à imprensa e divergem noutras questões. Por exemplo, a esquerda, no poder, controla e amordaça os movimentos sociais e a direita os prende e, as vezes, os mata.

Vamos continuar apostando que a melhor forma de tratar o monopólio da mídia é garantindo equipamento de comunicação social nas mãos da sociedade civil organizada do outro lado da tela.

*Moisés Diniz é membro da Academia Acreana de Letras, autor do livro O Santo de Deus