Este é um blog de opinião. As postagens escritas ou selecionadas refletem exclusivamente a minha opinião, não sofrendo influência ou pressão de pessoas ou empresas onde trabalho ou venha a trabalhar.

domingo, 29 de abril de 2012

Bolota e a História que fala

Estamos tentando montar um canavial lá pelas bandas da Vila Santa Rosa. Graças a esse empreendimento doméstico, sem recursos do Ministério da Agricultura, ontem à tarde lá em Mâncio Lima, conheci o Bolota, um dos últimos "senhores de engenho" do Juruá.

Francisco Bernardo Correia, o Bolota como gosta de ser chamado, nasceu em Russas/CE em 11 de janeiro de 1927.
 
Filho de José Bernardo Cordeiro e Francisca Bernardo, chegaram em Mâncio Lima, antiga Vila Japiim, em 1930 juntamente com 41 pessoas financiados pelo "Coronel" Mâncio Lima que buscava conterrâneos para tocar seus roçados. "Desses 41 que vieram só tem 4 vivos, eu e três irmãs minhas - Maria de 96 anos, Luzia de 94 e a Chiquinha de 93, mas se for contar mesmo, hoje já passa de 1000 pessoas."

"Eu já fui escravo". Diz sorrindo, já explicando de que forma: "Com 10 anos eu já era `tangerino` do Luiz Felipe, um patrão que tinha aqui e produzia 600 kg de açúcar por dia, só de cana piojota, ganhando apenas 2 kg de açúcar por dia".

Viúvo de Adalgisa Rebouças Cordeiro com quem foi casado por cinco anos e não teve filhos. 

No alto Rio Môa, no Seringal República, casou com Rosali Evaristo da Silva do povo Nukini. Do novo casamento, que dura eté hoje, tiveram 5 filhos, todos bem sucedidos. 

Na República, cultivou um grande canavial e montou um engenho de ferro para produzir açúcar. Curiosamente, o engenho foi adquirido de Luiz Felipe, seu antigo patrão por 12 contos de réis. 

Durante o governo Sarney, com a nova constituição e a criação do Parque Nacional da Serra do Divisor, foi obrigado a abandonar (sem indenização) o seringal se fixando definitivamente em Mâncio Lima.
 
A vocação para a cana de açúcar o levou a manter um pequeno canavial (de onde retiramos as mudas) e um engenho artesanal nos fundos da casa situada na Avenida Japiin próximo ao Colégio São Francisco.

Bolota é um homem admirável, um senhor de 85 anos com a energia de um garoto. Bolota e sua maneira alegre e franca é a História que fala. Fala de muitas coisas, principalmente de uma época de heróis.          


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Te cuida, Vicente!

Qualquer aumento de combustível será sempre suspeito. Há dias postei algo sobre a ilusão da ligação rodoviária definitiva entre Cruzeiro do Sul e Rio Branco. Com os mercenários que temos por aqui... 

Citei o estranho aumento de combustível nos postos daqui. Agora está mais que comprovado que o aumento foi planejado e decidido pelos donos de postos. 


Grande Vicente, um exemplo de capitalista, um exemplo de coragem, exemplo de ousadia de tentar sobreviver entre as feras. 

Acredito que Vicente não sabe bem o risco que corre. Sua ousadia em desafiar gente tão poderosa pode custar caro, acho até que deveria pedir proteção policial.

De minha parte, apenas a admiração e o respeito por um homem simples que tendo a chance de ser mercenário escolheu ser apenas um pouco mais justo e a pena de não ser viável ir até a Vila Lagoinha abastecer meu veículo. Ah, se fosse mais perto...!

Seu Vicente é um homem de fé, seguidor do evangelho de Cristo a quem entrega as ofensas, mas não custa nada anotar num papelzinho o nome dos pilantras que o ameaçam, ou gravar uma conversa e passar na delegacia da Polícia Federal e denunciar. 

Faça isso, Vicente, antes que eles vençam a "concorrência".

sábado, 21 de abril de 2012

Com os "sujões" lá dentro?

Tinha prometido não falar sobre a patifaria na Câmara de vereadores de Cruzeiro do Sul, mas um fato novo me fez mudar de ideia. A notícia foi publicada em vários sites de notícias daqui. Um deles anunciou:


O movimento de grande relevância, é válido, mas até certo ponto, diria que a intenção é válida, mas...

Não adianta lavar para sujarem novamente, que não adianta lavar agora, melhor esperar um pouco e aí com escova de aço, a gente tira o cascão, inclusive o mentor da sujeira. 

É lógico que faço uma brincadeira. É assim mesmo, não precisa ser violento para protestar, basta ter coragem e vontade de mudar o que precisa ser mudado.
Nem precisa um cartaz produzido em gráficas a um custo absurdo, basta uma cartolina e um pincel atômico...
Imagem: do mesmo site do link acima.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Orgulho de ser cruzeirense...

Duas imagens de Cruzeiro do Sul. 
A dos urubus é na Rua Pará nas proximidades da Escola Corazita Negreiros captada por um celular no dia 10/04/12. 
A outra, de hoje, é na Praça da Gamela, em frente ao Hortência Center.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sinceramente, com a BR-364 trafegável você melhorou de vida?

Há cinco meses tenho me questionado quanto a isso. 
Sempre acreditei que com o tráfego liberado de inverno a verão, com a rodovia trafegável mesmo durante o inverno as coisas por aqui melhorassem. Que o custo de vida diminuísse, que a carestia e o sorriso de desdém dos empresários cruzeirenses arrefecesse. Nada disso aconteceu. Pior, silenciosamente ele tem aumentado.

A triste conclusão tem a capacidade de me fazer perder umas das pouquíssimas ilusões que me restavam. 

E agora, o governo fez um enorme esforço para tirar o Juruá do isolamento, o povo reconhece o esforço,  aplaude, mas existe um problema. Nossos empresários são mercenários e cruéis.

Antes, quando a única forma de abastecimento no inverno era o rio, os comerciantes enfrentavam maiores dificuldades. A maior delas era tirar o máximo sem escandalizar demais. 

Hoje, que os caminhões, mesmo os pequenos, abastecem seus supermercados com produtos da Ceasa ou do Macro em apenas 6 ou 7 horas de viagem os preços dos produtos são os mesmos praticados na época do inverno, como se a estrada estivesse fechada, intrafegável.

E ninguém fala nada, ninguém percebe nada.

A gasolina, como que por milagre ou "coincidência", na semana passada amanheceu mais cara em todos os postos do município. Coincidentemente, pois do contrário estaria configurado a formação de cartel, mas sendo "coincidência"... não há crime. 

É muito descaramento, e o dono da maioria dos postos é convidado a explicar o aumento, e ele explica, rindo da nossa inteligência..."...é que num dava mais pra segurar, e aí noís passô a diferença pro cunsumidô..."

Só esqueceram de combinar com os postos de Tarauacá (abastecidos com combustível de Cruzeiro do Sul) e assim, por não terem sido convidados para combinar a "coincidência" eles não aumentaram a deles.

Tristemente, admito que a BR-364 trafegável no inverno até Cruzeiro do Sul não refletiu em melhoria para o povo.

Lamento dizer que os pobres ainda não se beneficiaram da estrada, e mais, que nunca se beneficiarão. Todo o esforço em torná-la trafegável mesmo no inverno, agora eu percebo a armadilha, tinha uma intenção sórdida. A de tornar mais ricos os que já mandavam na cidade. Eles sim, estão usufruindo da riqueza, pois o povo não tem visto diferença de preço nas prateleiras dos supermercados. A riqueza gerada pelo menor tempo no transporte e armazenamento dos produtos não tem sido dividida com os pobres, mas também, é muita ilusão...

A estrada tem aumentado a desigualdade. Isso ninguém quer admitir, mas basta comparar custos, fretes, basta observar o silêncio que os empresários tem mantido nos últimos meses.

Nossos empresários são uns coitados endinheirados. A maioria analfabetos e inescrupulosos, por terem ascendido socialmente exercitando a exploração, consideram uma ameaça e uma temeridade, gestos de humanidade e de lucros menores.

São pessoas assim que sustentam os políticos, e ai...

O esforço não foi coletivo? Por décadas fomos iludidos como crianças por promessas, sofrendo com o isolamento, massacrados, humilhados, e para quê? 

Valeu a pena tanta privação? Até o Fundo Previdenciário do Estado foi usado, foi o sacrifício de milhares de pessoas que tornou possível a integração, para vermos alguns mercenários se dando bem... É muito sórdido.

Daqui a poucos meses a BR-364 será totalmente asfaltada, e se não for nunca, se ficar como está, inacabada, tanto faz, pois 5 meses é tempo largo para me fazer entender que sempre estive enganado. 

Talvez essa seja seu pior legado, o de me fazer perder a esperança.

sábado, 7 de abril de 2012

Judas-Asvero


Nem preciso repetir da minha admiração pelo estilo de Euclides da Cunha. Hoje, Sábado de Aleluia, reproduzo o seu conto “Judas-asvero” publicado em “A Margem da História” e “Um Paraíso Perdido”.  Encontrei o texto em diversos sites e tomei o cuidado de verificar (comparando ao texto impresso de uma publicação de 1968) a grafia original, mas é bem possível que alguns erros tenham sobrevivido. Uma boa leitura para o sábado. Não esqueça o dicionário.

JUDAS-ASVERO
            
No sábado de Aleluia os seringueiros do Alto Purus desforram-se de seus dias tristes. É um desafogo. Ante a concepção rudimentar da vida santificam-se-lhes, nesse dia, todas as maldades. Acreditam numa sanção litúrgica aos máximos deslizes.

Nas alturas, o Homem-Deus, sob o encanto da vinda do filho ressurreto e despeado das insídias humanas, sorri, complacentemente, à alegria feroz que arrebenta cá em baixo. E os seringueiros vingam-se, ruidosamente, dos seus dias tristes.

Não tiveram missas solenes, nem procissões luxuosas, nem lavapés tocantes, nem prédicas comovidas. Toda a Semana Santa correu-lhes na mesmice torturante daquela existência imóvel, feita de idênticos dias de penúrias, de meios-jejuns permanentes, de tristezas e de pesares, que lhes parecem uma interminável sexta-feira da Paixão, a estirar-se, angustiosamente, indefinida, pelo ano todo afora.

Alguns recordam que nas paragens nativas, durante aquela quadra fúnebre, se retraem todas as atividades – despovoando-se as ruas, paralisando-se os negócios, ermando-se os caminhos – e que as luzes agonizam nos círios bruxuleantes, e as vozes se amortecem nas rezas e nos retiros, caindo um grande silêncio misterioso sobre as cidades, as vilas e os sertões profundos onde as gentes entristecidas se associam à mágoa prodigiosa de Deus. E consideram, absortos, que esses sete dias excepcionais, passageiros em toda a parte e em toda a parte adrede estabelecidos a maior realce dos outros dias mais numerosos, de felicidade – lhes são, ali, a existência inteira, monótona, obscura, doloríssima e anônima, a girar acabrunhadamente na vida dolorosa e inalterável, sem princípio e sem fim, do círculo fechado das "estradas". Então pelas almas simples entra-lhes, obscurecendo as miragens mais deslumbrantes da fé, a sombra espessa de um conceito singularmente pessimista da vida: certo, o redentor universal não os redimiu; esqueceu-os para sempre, ou não os viu talvez, tão relegados se acham à borda do rio solitário, que no próprio volver das suas águas é o primeiro a fugir, eternamente, àqueles tristes e desfreqüentados rincões.

Mas não se rebelam, ou blasfemam. O seringueiro rude, ao revés do italiano artista, não abusa da bondade de seu deus desmanchando-se em convícios. É mais forte; é mais digno. Resignou-se à desdita. Não murmura. Não reza. As preces ansiosas sobem por vezes ao céu, levando disfarçadamente o travo de um ressentimento contra a divindade; e ele não se queixa. Tem a noção prática, tangível, sem raciocínios, sem diluições metafísicas, maciça e inexorável – um grande peso a esmagar-lhe inteiramente a vida – da fatalidade; e submete-se a ela sem subterfugir na covardia de um pedido, com os joelhos dobrados. Seria um esforço inútil. Domina-lhe o critério rudimentar uma convicção talvez demasiado objetiva, ou ingênua, mas irredutível, a entra-lhe a todo o instante pelos olhos adentro, assombrando-o: é um excomungado pela própria distância que o afasta dos homens; e os grandes olhos de Deus não podem descer até aqueles brejais, manchando-se. Não lhe vale a pena penitenciar-se, o que é um meio cauteloso de rebelar-se, reclamando uma promoção na escala indefinida de bem-aventurança. Há concorrentes mais felizes, mais bem protegidos, mais numerosos, e, o que se lhes figura mais eficaz, mais vistos, nas capelas, nas igrejas, nas catedrais, e nas cidades ricas onde se estadeia o fausto do sofrimento uniformizado de preto, ou fugindo na irradiação de lágrimas, e galhardeando tristezas…

Ali, - é seguir, impassível – e mudo, estoicamente, no grande isolamento da sua desventura.

Além disto, só lhe é lícito punir-se da ambição maldita que o conduziu àqueles lugares para entregá-lo, manietado e escravo, aos traficantes impunes que o iludem, e esse pecado é o seu próprio castigo, transmudando-lhe a vida numa interminável penitência. O que lhes resta a fazer é desvendá-la e arrancá-la da penumbra das matas, mostrando-a, nuamente, na sua forma apavorante, à humanidade longínqua…

***

Ora, para isso, a Igreja dá-lhe um emissário sinistro: Judas; e um único dia feliz: o sábado prefixo aos mais santos atentados, às balbúrdias confessáveis, à turbulência mística dos eleitos e à divinização da vingança.

Mas o monstrengo de palha, trivialíssimo, de todos os lugares e de todos os tempos, não lhes basta à missão complexa e grave. Vem batido de mais pelos séculos e fora tão pisoado, tão decaído e tão apedrejado que se tornou vulgar na sua infinita miséria, monopolizando o ódio universal e apequenando-se, mais e mais, diante de tantos que o malquerem.

Faz-se-lhe mister, ao menos acentuar-lhe as linhas mais vivas e cruéis; e mascarar-lhe no rosto de pano, e laivos de carvão, uma tortura tão trágica, e em tanta maneira próxima da realidade, que o eterno condenado pareça ressuscitar ao mesmo tempo que a sua divina vítima, de modo a desafiar uma repulsa mais espontânea e um mais compreensível revide, satisfazendo à saciedade as almas ressentidas dos crentes, com a imagem tanto quanto possível perfeita da sua miséria e das suas agonias terríveis.

E o seringueiro abalança-se a esse prodígio de estatuaria, auxiliado pelos filhos pequeninos, que deliram, ruidosos, em risadas, a correrem por toda a banda, em busca das palhas esparsas e da farragem repulsiva de velhas roupas imprestáveis, encantados com a tarefa funambulesca, que lhe quebra tão de golpe a monotonia tristonha de uma existência invariável e quieta.

O judas faz-se como se fez sempre: um par de calças e uma camisa velha, grosseiramente cozidos, cheios de palhiças e mulambos; braços horizontais, abertos, e pernas em ângulo, sem juntas, sem relevos, sem dobras, aprumando-se, espantadamente, empalado, no centro do terreiro. Por cima uma bola desgraciosa representando a cabeça. É o manequim vulgar, que surge em toda a parte e satisfaz à maioria das gentes. Não basta ao seringueiro. É-lhe apenas o bloco de onde vai tirar a estátua, que, é a sua obra prima, a criação espantosa do seu gênio longamente espalhado de revezes, onde outros talvez distingam traços admiráveis de uma ironia sutilíssima, mas que é para ele apenas a expressão concreta de uma realidade dolorosa.

E principia, às voltas com a figura disforme: salienta-lhe e afeiçoa-lhe o nariz; reprofunda-lhe as órbitas; esbate-lhe a fronte; acentua-lhe os zigomas; e aguça-se o queixo, numa massagem cuidadosa e lenta; pinta-lhe as sobrancelhas, e abre-lhe com dois riscos demorados, pacientemente, os olhos, em geral tristes e cheios de um olhar misterioso; desenha-lhe a boca, sombreada de um bigode ralo, de guias decaídas aos cantos. Veste-lhe depois, umas calças e uma camisa de algodão, ainda servíveis; calça-lhe umas botas velhas, cambadas…

Recua meia dúzia de passos. Contempla-a durante alguns minutos. Estuda-a.

Em torno a filharada, silenciosa agora, queda-se expectante, assistindo ao desdobrar da concepção, que a maravilha.

Volve ao seu homúnculo: retoca-lhe uma pálpebra; aviva um ríctus expressivo na arqueadura do lábio; sombreia-lhe um pouco mais o rosto, cavando-o; ajeita-lhe melhor a cabeça; arqueia-lhe os braços; repuxa e retifica-lhe as vestes…

Novo recuo, compassado, lento, remirando-o, para apanhar de um lance, numa vista de conjunto, a impressão exata, a síntese de todas aquelas linhas; a renovar a faina com uma pertinácia e uma tortura de artista incontentável. Novos retoques, mais delicados, mais cuidadosos, mais sérios: um tenuíssimo esbatido de sombra, um traço quase imperceptível na boca refegada, uma torção insignificante no pescoço engravatado de trapos…

E o monstro, lento e lento, num transfigurar-se insensível, vai-se tornando em homem. Pelo menos a ilusão é empolgante…

Repentinamente o bronco estatuário tem um gesto mais comovedor do que o parla! ansiosíssimo, de Miguel Ângelo; arranca o seu próprio sombreiro; atira-o à cabeça de Judas; e os filhinhos todos recuam, num grito, vendo retratar-se na figura desengonçada e sinistra o vulto do seu próprio pai.

É um doloroso triunfo. O sertanejo esculpiu o maldito à sua imagem. Vinga-se de si mesmo: pune-se afinal, da ambição maldita que o levou àquela terra; e defronta-se da fraqueza moral que lhe parte os ímpetos da rebeldia recalcando-o cada vez mais do plano inferior da vida decaída onde a credulidade infantil o jungiu, escravo, à gleba empantanada dos traficantes, que o iludiram.

Isto, porém, não lhe satisfaz. A imagem material da sua desdita não deve permanecer inútil num exíguo terreiro de barraca, afogada na espessura impenetrável, que furta o quadro de suas mágoas, perpetuamente anônimas, aos próprios olhos de Deus. O rio que lhe passa à porta é uma estrada para toda a terra. Que a terra toda contempla o seu infortúnio, o seu exaspero cruciante, a sua desvalia, o seu aniquilamento iníquo, exteriorizados, golpeantemente, e propalados por um estranho e mudo pregoeiro…

Embaixo, adrede construída, desde a véspera, vê-se uma jangada de quatro paus boiantes, rijamente travejados. Aguarda o viajante macabro. Condu-lo, prestes, para lá, arrastando-o em descida, pelo viés dos barrancos avergoados de enxurros.

A breve trecho a figura demoníaca apruma-se, especada, à popa da embarcação ligeira.

Faz-lhe os últimos reparos: arranja-lhe ainda uma vez as vestes; arruma-lhes às costas um saco cheio de ciscalho e pedras; mete-lhe à cintura alguma inútil pistola enferrujada, sem fechos, ou um caxerenguengue gasto; e fazendo-lhes curiosas recomendações, ou dando-lhe os mais singulares conselhos, impele, ao cabo, a jangada fantástica para o fio da corrente.

E judas feito Asvero vai avançando vagarosamente para o meio do rio. Então os vizinhos mais próximos, que se adensam, curiosos, no alto das barrancas, intervêm ruidosamente, saudando com repetidas descargas de rifles, aquele botafora. As balas chofram a superfície líquida, erriçando-a; cravam-se na embarcação, lascando-a; atingem o tripulante espantoso; trespassam-no. Ele vacila um momento no seu pedestal flutuante, fustigado a tiros, indeciso, como a esmar um rumo, durante alguns minutos, até se reaviar no sentido geral da correnteza. E a figura desgraciosa, trágica, arrepiadoramente burlesca, com os seus gestos desmanchados, de demônio e truão, desafiando maldições e risadas, lá se vai na lúgubre viagem sem destino e sem fim, a descer, a descer sempre, desequilibradamente, aos rodopios, tonteando em todas as voltas, à mercê das correntezas, "de bubuia" sobre as grandes águas.

Não para mais. A medida que avança, o espantalho errante vai espalhando em roda a desolação e o terror; as aves, retransidas de medo, acolhem-se, mudas, ao recesso das frondes; os pesados anfíbios mergulham, cautos, nas profunduras, espavoridos por aquela sombra que ao cair das tardes e ao subir das manhãs se desata estirando-se, lutuosamente, pela superfície do rio; os homens correm às armas e numa fúria recortada de espantos, fazendo o "pelo sinal" e apertando os gatilhos, alvejam-no desapiedadamente.

Não defronta a mais pobre barraca sem receber uma descarga rolante e um apedrejamento.

As balas esfuziam-lhe em torno; varam-no; as águas, zimbradas pelas pedras, encrespam-se em círculos ondeantes; a jangada balança; e, acompanhando-lhe os movimentos, agitam-se-lhe os braços e ele parece agradecer em canhestras mesuras as manifestações rancorosas em que tempesteiam tiros, e gritos, sarcasmos pungentes e esconjuros e sobretudo maldições que revivem, na palavra descansada dos matutos, este eco de um anátema vibrado há vinte séculos.

– Caminha, desgraçado!

Caminha. Não pára. Afasta-se no volver das águas. Livra-se dos perseguidores. Desliza, em silêncio, por um “estirão” retilíneo e longo; contorneia a arqueadura suavíssima de uma praia deserta. De súbito, no vencer uma volta, outra habitação; mulheres e crianças, que ele surpreende à beira rio, a subirem, desabaladamente, pela barranca acima, desandando em prantos e clamor. E logo depois, do alto, o espingardeamento, as pedradas, os convícios, os remoques.

Dois ou três minutos de alaridos e tumulto, até que o judeu errante se forre ao alcance máximo da trajetória dos rifles, descendo…

E vai descendo, descendo… Por fim não segue mais isolado. Aliam-se-lhe na estrada dolorosa outros sócios de infortúnio; outros aleijões apavorantes sobre as mesmas jangadas diminutas entregues ao acaso das correntes, surgindo de todos os lados, vários no aspecto e nos gestos; ora muito rijos, amarrados aos postes que os sustentam, ora em desengonços, desequilibrando-se aos menores balanços, atrapalhadamente, como ébrios; ou fatídicos, braços alçados, ameaçadores, amaldiçoando; outros humílimos, acurvados num acabrunhamento profundo; e por vezes, mais deploráveis, os que se divisam à ponta de uma corda amarrada no extremo do mastro esguio e recurvo, a balonçarem, enforcados…

Passam todos aos pares, ou em filas, descendo, descendo vagarosamente…

Às vezes o rio alarga-se num imenso círculo; remansa-se; a sua corrente torce-se e vai em giros muito lentos perlongando as margens, traçando a espiral amplíssima de um redemoinho imperceptível e traiçoeiro. Os fantasmas vagabundos penetram nestes amplos recintos de águas mortas, rebalsadas; e estacam por momentos. Ajuntam-se. Rodeiam-se em lentas e silenciosas revistas. Misturam-se. Cruzam então pela primeira vez os olhares imóveis e falsos de seus olhos fingidos; e baralham-se-lhes numa agitação revolta os gestos paralisados e as estátuas rígidas. Há a ilusão de um estupendo tumulto sem ruídos e de um estranho conciliábulo, agitadíssimo, travando-se em segredos, num abafamento de vozes inaudíveis.

Depois, a pouco e pouco, debandam. Afastam-se; dispersam-se. E acompanhando a correnteza, que se retifica na última espiral dos remansos – lá se vão, em filas, um a um, vagarosamente, processionalmente, rio abaixo, descendo…

(Euclides da Cunha. Um Paraíso Perdido. Rio Branco. Fundação Cultural do Estado do Acre, 1998, p.109-114)
Imagem ilustrativa: espacounicocriativo.com

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo João


Naquele tempo, Jesus saiu com os seus discípulos para além da torrente de Cedron, onde havia um jardim, no qual entrou com os seus discípulos. Judas, o traidor, conhecia também aquele lugar, porque Jesus ia freqüentemente para lá com os seus discípulos. Tomou então Judas a coorte e os guardas de serviço dos pontífices e dos fariseus, e chegaram ali com lanternas, tochas e armas. Como Jesus soubesse tudo o que havia de lhe acontecer, adiantou-se e perguntou-lhes:
 “A quem buscais?”
Responderam:
“A Jesus de Nazaré”.
Jesus respondeu:
“Sou eu”.
Também Judas, o traidor, estava com eles. Quando lhes disse Sou eu, recuaram e caíram por terra. Perguntou-lhes ele, pela segunda vez:
“A quem buscais?”
Disseram:
“A Jesus de Nazaré”.
Replicou Jesus:
“Já vos disse que sou eu. Se é, pois, a mim que buscais, deixai ir estes”.

Assim se cumpriu a palavra que disse: “Dos que me deste não perdi nenhum”. Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou dela e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro:
“Enfia a tua espada na bainha! Não hei de beber eu o cálice que o Pai me deu?”
Então a corte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o ataram. Conduziram-no primeiro a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano. Caifás fora quem dera aos judeus o conselho: “Convém que um só homem morra em lugar do povo”. Simão Pedro seguia Jesus, e mais outro discípulo. Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no pátio da casa do sumo sacerdote, porém Pedro ficou de fora, à porta. Mas o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, saiu e falou à porteira, e esta deixou Pedro entrar. A porteira perguntou a Pedro:
“Não és acaso também tu dos discípulos desse homem?”
Respondeu Pedro:
“Não o sou.”
Os servos e os guardas acenderam um fogo, porque fazia frio, e se aqueciam. Com eles estava também Pedro, de pé, aquecendo-se. O sumo sacerdote indagou de Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Jesus respondeu-lhe:
“Falei publicamente ao mundo. Ensinei na sinagoga e no templo, onde se reúnem os judeus, e nada falei às ocultas. Por que me perguntas? Pergunta àqueles que ouviram o que lhes disse. Estes sabem o que ensinei”.
A estas palavras, um dos guardas presentes deu uma bofetada em Jesus, dizendo: “É assim que respondes ao sumo sacerdote?” Replicou-lhe Jesus:
“Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?”
Anás enviou-o preso ao sumo sacerdote Caifás. Simão Pedro estava lá se aquecendo. Perguntaram-lhe:
“Não és porventura, também tu, dos seus discípulos?”
Pedro negou:
“Não!”
Disse-lhe um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha:
“Não te vi eu com ele no horto?”
Mas Pedro negou-o outra vez, e imediatamente o galo cantou. Da casa de Caifás conduziram Jesus ao pretório. Era de manhã cedo. Mas os judeus não entraram no pretório, para não se contaminarem e poderem comer a Páscoa. Saiu, por isso, Pilatos para ter com eles, e perguntou:
“Que acusação trazeis contra este homem?”
Responderam-lhe:
“Se este não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti”.
Disse, então, Pilatos:
“Tomai-o e julgai-o vós mesmos segundo a vossa lei”.
Responderam-lhe os judeus:
“Não nos é permitido matar ninguém”.
Assim se cumpria a palavra com a qual Jesus indicou de que gênero de morte havia de morrer. Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe:
“És tu o rei dos judeus?”
Jesus respondeu:
“Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?”
Disse Pilatos:
“Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?”
Respondeu Jesus:
“O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo”.
Perguntou-lhe então Pilatos:
“És, portanto, rei?”
Respondeu Jesus:
“Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz”.
Disse-lhe Pilatos:
“O que é a verdade?”
Falando isso, saiu de novo, foi ter com os judeus e disse-lhes:
“Não acho nele crime algum. Mas é costume entre vós que pela Páscoa vos solte um preso. Quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?”
Então todos gritaram novamente e disseram:
“Não! A este não! Mas a Barrabás!”
Barrabás era um salteador. Pilatos mandou então flagelar Jesus. Os soldados teceram de espinhos uma coroa e puseram-lha sobre a cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura. Aproximavam-se dele e diziam:
“Salve, rei dos judeus!”
E davam-lhe bofetadas. Pilatos saiu outra vez e disse-lhes:
“Eis que vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele nenhum motivo de acusação”.
Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse:
“Eis o homem!”
Quando os pontífices e os guardas o viram, gritaram:
“Crucifica-o! Crucifica-o!”
Falou-lhes Pilatos:
“Tomai-o vós e crucificai-o, pois eu não acho nele culpa alguma”.
Responderam-lhe os judeus:
“Nós temos uma lei, e segundo essa lei ele deve morrer, porque se declarou Filho de Deus”.
Estas palavras impressionaram Pilatos. Entrou novamente no pretório e perguntou a Jesus:
“De onde és tu?”
Mas Jesus não lhe respondeu. Pilatos então lhe disse:
“Tu não me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar e para te crucificar?”
Respondeu Jesus:
“Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado. Por isso, quem me entregou a ti tem pecado maior”.
Desde então Pilatos procurava soltá-lo. Mas os judeus gritavam:
“Se o soltares, não és amigo do imperador, porque todo o que se faz rei se declara contra o imperador”.
Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Lajeado, em hebraico Gábata. Era a Preparação para a Páscoa, cerca da hora sexta. Pilatos disse aos judeus:
“Eis o vosso rei!”
Mas eles clamavam:
“Fora com ele! Fora com ele! Crucifica-o!”
Pilatos perguntou-lhes:
“Hei de crucificar o vosso rei?”
Os sumos sacerdotes responderam:
“Não temos outro rei senão César!”
Entregou-o então a eles para que fosse crucificado. Levaram então consigo Jesus. Ele próprio carregava a sua cruz para fora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota. Ali o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. Pilatos redigiu também uma inscrição e a fixou por cima da cruz. Nela estava escrito: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus”. Muitos dos judeus leram essa inscrição, porque Jesus foi crucificado perto da cidade e a inscrição era redigida em hebraico, em latim e em grego. Os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos:
“Não escrevas: ´Rei dos judeus´, mas sim: ´Este homem disse ser o rei dos judeus´”.
Respondeu Pilatos:
“O que escrevi, escrevi”.
Depois de os soldados crucificarem Jesus, tomaram as suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. A túnica, porém, toda tecida de alto a baixo, não tinha costura. Disseram, pois, uns aos outros:
“Não a rasguemos, mas deitemos sorte sobre ela, para ver de quem será”.
Assim se cumpria a Escritura: “Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sorte sobre a minha túnica”. Isso fizeram os soldados. Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe:
“Mulher, eis aí teu filho”.
Depois disse ao discípulo:
“Eis aí tua mãe”.
E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa. Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir plenamente a Escritura, disse:
“Tenho sede”.
Havia ali um vaso cheio de vinagre. Os soldados encheram de vinagre uma esponja e, fixando-a numa vara de hissopo, chegaram-lhe à boca. Havendo Jesus tomado do vinagre, disse:
“Tudo está consumado”.
Inclinou a cabeça e rendeu o espírito.
Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro, que com ele foram crucificados. Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água. O que foi testemunha desse fato o atesta (e o seu testemunho é digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a fim de que vós creiais. Assim se cumpriu a Escritura: “Nenhum dos seus ossos será quebrado”. E diz em outra parte a Escritura: “Olharão para aquele que transpassaram”. Depois disso, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, mas ocultamente, por medo dos judeus, rogou a Pilatos a autorização para tirar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu. Foi, pois, e tirou o corpo de Jesus. Acompanhou-o Nicodemos (aquele que anteriormente fora de noite ter com Jesus), levando umas cem libras de uma mistura de mirra e aloés. Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em panos com os aromas, como os judeus costumam sepultar. No lugar em que ele foi crucificado havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado. Foi ali que depositaram Jesus por causa da Preparação dos judeus e da proximidade do túmulo.
Palavra da Salvação.

Meditando a Palavra
Mete a espada na bainha!
Os discípulos de Jesus não eram propriamente uns pacifistas… Além das frequentes altercações no interior do grupo, dois deles até ganharam o apelido de “filhos do Trovão” [Boanerges], por manifestarem a intenção de pedir o fogo do céu sobre os samaritanos (Mc 3, 17).

Convém lembrar que a Palestina estava sob dominação romana. As águias das legiões invasoras estavam por toda parte. Ainda que as autoridades religiosas e os herodianos compactuassem com a ocupação (e até lucrassem com isso!), no meio do povo havia um ódio surdo contra Roma. Houve revoltas populares e uma guerrilha permanente movida pelos zelotas. Os exegetas reconhecem um ou dois zelotas entre os Doze, em especial o segundo Simão (cf. Lc 6, 15). Em outra passagem, o Evangelho registra que entre os Doze havia “duas espadas” (Lc 22, 38).

Hoje, no momento da prisão de Jesus, Simão Pedro saca da espada e fere a cabeça de um dos homens enviados pelos sacerdotes do Templo, decepando-lhe a orelha. A pronta reação do Senhor foi um imperativo seco: “Mete a espada na bainha!” E, de imediato, tocou a ferida do servo, curando-o (Lc 22, 51).

Creio que este exemplo é suficiente para que todo cristão desista, de uma vez por todas, do uso da violência para corrigir os erros individuais e sociais. Quando, nos últimos tempos, setores cristãos adotaram métodos e conceitos marxistas para “construir o Reino”, estimulando a luta de classes e acendendo rastilhos de ódio como reação aos pecados do sistema, certamente não seguiam os ensinamentos de Cristo.

Jesus se entrega. Abandona-se nas mãos de seus algozes. Nos primeiros tempos da Igreja, todo cristão sabia que seu futuro incluía os leões da arena e os carrascos do Imperador. E era com alegria – e sem ódio! – que eles enfrentavam o martírio no Coliseu e os trabalhos forçados nas minas de metal.

Jesus é o manso cordeiro antevisto por Isaías: “Brutalizado, ele se humilha, não abre a boca; como um cordeiro é arrastado ao matadouro, como uma ovelha emudece diante dos tosquiadores, ele não abre a boca.” (Is 53, 7) É a esse Cordeiro de Deus que nos dirigimos, em cada Eucaristia, pedindo a paz: “Cordeiro de Deus / que tirais o pecado do mundo / dai-nos a paz!”

Ora, como pediremos a paz se tambores de guerra ruflam permanentemente em nossos corações?

Orai sem cessar: “Escuto o que diz o Senhor; Ele diz: ‘Paz’”. (Sl 85 [84], 9)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança retirado do site http://www.msc.com.br/paixao-de-nosso-senhor-jesus-cristo-segundo-joao/.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Até tu, Demóstenes?

Sobre os últimos acontecimentos da política brasileira, mais precisamente, da lamaceira da política, fiquei arrasado. 

Confesso que durante o mensalão até de Lula eu cheguei a duvidar, mas do Senador Demóstenes, nunca. Demóstenes parecia um homem de conduta ilibada, ético, arrochado, por isso mesmo, relator da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, responsável pela Lei da Ficha Limpa.

Mas é político. E sendo político...

Quando soube do escândalo, logo me veio a lembrança uma frase declamada por um amigo ao definir os políticos: "Ou você é honesto ou é político". Longe da generalização fácil e injusta, não poderia deixar de lembrar Jeferson Peres, José Alencar... ainda que ciente da possibilidade de falcatruas acobertadas e dissimuladas ao longo de suas carreiras políticas. 

Mas do Senador Demóstenes Torres do DEMOCRATAS, nunca "maldei". Claro que confiar em alguém que defende um partido político que nasceu da dissidência do PDS (antiga ARENA que dava sustentação à ditadura militar) não é muito inteligente, mas o Senador Demóstenes...

Já passei da idade do ímpeto. Antigamente me alegrava com o desmascaramento de um pilantra, hoje me chateio com a expiação de um para salvar seus pares. O que a gente fica sabendo de maldade e pilantragem é importante, mas o que me incomoda é o não revelado, é o que se acoberta para acomodar os demais.

Demóstenes e sua ligação com a ilicitude nos surpreende? Nem tanto, não por ser político, não por ser Democratas, mas por ser Demóstenes, por ser um lobo em fantasia de cordeiro.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Se fosse do mapinguari, vá lá, mas do chimpanzé...

Tanta coisa mais importante no mundo para postar e me ponho a perder tempo com notícias sem fundamento. 

Normalmente não tenho tempo de acreditar em muita coisa. Quando era desocupado (isso há mais de 23 anos) até dedicava algum tempo com irrelevâncias. Hoje não, só de vez em quando, e se tratar-se de algo inadiável. 

Mas essa merece destaque, não pela relevância, mas pela maldade. 
É o seguinte: Um chimpanzé teria emprenhado uma donzela no interior do Amazonas. Veja a notícia que corre mundo. 


Não é de se admirar, na terra que boto sai da água para copular, é perfeitamente possível que um chimpanzé também apronte as suas.

Tudo bem, qualquer um pode ter suas fantasias, mas logo com um chimpanzé..., sei lá! Deve ter alguém rindo na história. Como na lenda do boto, que assume filho de vizinho, tio, pai e até de irmão da grávida, o pobre primata africano vai assumir o bruguelo.

Enquanto lá nas brenhas da floresta, onde ninguém sabe onde fica, o mapinguari deve bolar de rir, zoando com todo mundo, livre de ser obrigado pela justiça de pagar pensão alimentícia sob pena de ir parar na penal.

Agora, só uma perguntinha da defesa: Tem chimpanzé na floresta amazônica?