Recebi este post de um amigo de Itapira-SP e acho oportuno divulgar.
Dia dos namorados é dia de falar de amor e o amor é
lindo. Acredito em dois tipos
de amores entre as pessoas. O primeiro no sentido cristão, aquele amor
sentimento que une os casais e dá liga a um convívio de longa duração.
Este implica doação, esforço cotidiano, permanente construção e
solidificação dos vínculos.
O amor romântico é da ordem da
tragédia. Este amor é retratado magnificamente pelos autores da Idade
Média. Em matéria de ser humano confio mais nos medievais do que nos
homens modernos. Segundo André Capelão (séc. 12) em seu "Tratado do Amor
Cortês", o amor é uma doença que acomete o pensamento de uma pessoa e a
torna obcecada por outra pessoa, criando um vício incontrolável que
busca penetrar em todos os mistérios da pessoa amada: suas formas, seu
corpo, seus hábitos. Trata-se de um anseio desmedido, uma visão
perturbada que invade o coração dos infelizes.
Os acometidos dessa doença tornam-se angustiados e
dispersos. Não existe nada mais ridículo que um homem ou uma mulher
apaixonados. Esses infelizes deliram em abraçar, conversar, beijar e
deitar-se com o ser amado, mas jamais conseguem fazê-lo plenamente, e
essa impossibilidade é essencial na dinâmica do desejo perturbado. Corpo
e alma estremecem anunciando a febre da distância.O amor romântico é
uma doença. Nada tem a ver com felicidade. Por isso sua tendência é
destruir o cotidiano, estremecendo-o. Ou o cotidiano o submeterá ao
serviço das instituições sociais como família, casamento e herança
patrimonial, matando-o.
Por isso, os medievais diziam que o amor não
sobrevive ao cotidiano. O cotidiano respira banalidade e aspira à
segurança. Viver de maneira segura é sinônimo de viver na monotonia e a
paixão se move em sobressaltos e abismos. Uma pessoa afetada pela paixão
não pensa bem.
O século 12 conheceu a triste história do filósofo
Abelardo e sua amada Heloisa. As semelhanças dessa história com os
contos de amor cortês como Tristão e Isolda ou Romeu e Julieta ou Lancelot e Guinevere é grande. Nesses contos, há
sempre um impeditivo ético à paixão. Um dos amantes é sempre casado com
alguém virtuoso ou um porá em risco a vida do outro devido ao ódio ou a
inveja de um terceiro. Por isso os amantes, se forem virtuosos, e sempre
são, devem abrir mão do amor. O desejo se despedaça contra o fogo da
virtude, mas não morre, apenas arde em agonia.
Daí a grande sacada dos medievais: quando desejo e
virtude se contrapõe, a "maldição de amor" assalta a alma. Sentir-se
pecador é não merecer a beleza do amor que, em suma, destrói a alegria,
atiça o desejo e piora a doença. A melhor rota é fugir do amor, porque
uma vez ele instalado, a regra é a dor. Abelardo morreu castrado pelo
tio da Heloisa e ela triste foi trancada num convento. Romeu e Julieta,
Tristão e Isolda e Lancelot e Guinevere ou suicidaram-se ou foram
assassinados.
Hoje até as ciências humanas tentam explicar o amor. Essa afetação científica não me interessa porque a minha descrença nas explicações das ciências humanas está além da possibilidade de cura. Parafraseando Pascal quando se refere a Descartes acho as ciências humanas incertas e inúteis. O máximo a que ela pode chegar é dizer que o amor romântico seria uma invenção a serviço da ideologia burguesa e patriarcal.
Para os chamados “cientificistas” o amor seria
apenas uma sopa com mais ou menos serotonina ou alguma miserável
conjunção de neurônios, como num tipo de demência senil. Esta explicação
também eu desprezo porque pouco me importa qual lado do cérebro está em
atividade quando alguém se sente apaixonado.
Um dos males da época brega em que vivemos é achar
que todo mundo seja capaz de amar como se este fosse um direito do
cidadão. Com a idade e o estrago que o cotidiano faz sobre nossas vidas e
suas demandas de acomodação dos afetos, ou a instrumentalização deles a
serviço do sucesso material, a tendência é nos tornarmos imunes ao
"vírus o amor".
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