Negou-me a natureza, alguma habilidade musical, a coragem do vaqueiro, a desenvoltura da dança, o drible perfeito, a velocidade do atleta, a estatura suficiente e tolerável, o desembaraço do discurso improvisado, a loucura do herói, a paixão religiosa, e quem sabe até, a crença no analista.
Por outro lado, talvez como uma compensação ou compaixão natural, cresci invocado, sempre no improviso, me esquivando, planejando, pensando mais do que poderia efetivamente realizar. Nunca desafiando gigantes, mas sempre lhe tirando a medida, observando-lhe as fragilidades para melhor vence-lo.
Também, nunca me encontrei sem uma opinião. Por isso não posso aceitar que alienígena nenhum, fale mal da nossa cidade, menosprezando-a apenas porque não é daqui, e fazendo questão de não ser.
Eis então uma indigesta opinião, que pela situação que ocupava naquele momento não pude dar:
Por alguns anos estive pensando em conhecer o mundo. Aí me dei conta de que ainda não conhecia Rodrigues Alves, Thaumaturgo, o Ramal dos Carobas, o Gama, e tantos outros lugares e pessoas da minha própria região. Afinal, o que poderia encontrar de bom numa grande cidade? Me diga, (desculpe pela gramática) sinceramente, o que existe no Rio ou em São Paulo que não possa ser encontrado em Marechal Thaumaturgo ou em Porto Walter?
Os babacas logo dirão: Um shoping, um metrô, um viaduto, uma casa de baladas, e por aí vai a cretinice e o excremento cerebral de alguns conhecidos.
É, meu amigo, nesse particular você tem razão. Realmente não temos shopings, viadutos, metrôs, nosso trânsito não tem engarrafamentos, não temos seqüestros, internet, ôpa! Aí já muda de figura. Temos sim, e internet banda larga, fibra ótica. E porque temos, estamos conectados ao mundo, estamos globalizados.
Por isso mesmo, porque sêmo do interior mais num sêmo besta, é que vemos e comparamos a “felicidade” e o “progresso” dos civilizados e bestializados centros urbanos, a nossa vidinha simples e monótona de cidadezinha do interior.
Dirão eles: só mesmo vendo de perto, para entender o que é um grande centro urbano. Será verdade? Se fores cristão, deves ter uma idéia do inferno, mesmo sem precisar sentir o mormaço das caldeiras nem a pressão das moendas do inimigo. Da mesma forma, não preciso conhecer as grandes cidades para odiá-las.
Para que servem os engarrafamentos? Para que servem os sequestros? Para que servem os shopings quando não se tem dinheiro?
Para que servem as milícias, os comandos dos morros, os donos de boca?
Também temos nossos bandidozinhos, infelizmente, mas nossos ladrões e malfeitores são tipos inocentes, amadores, que assaltam a lotérica e compram passagem na Gol, ou aprendizes imitadores dos ladrões e traficantes que a mídia do eixo Rio-São Paulo idolatram e elevam á condição de heróis.
Nossos ladrões e malfeitores, o terror do bairro (cada bairro tem os seus), são os filhos da comadre tal, que foram criados junto com os meus filhos, um deles é até meu afilhado. É assim.
Nos ressentimos ainda, e bastante, de um estudo sociológico e mesmo psiquiátrico sobre o perfil mental da população do Juruá. Temos uma inexplicável vocação para o estoicismo e à auto-flagelação. Temos uma tendência mórbida que nos impele para o suicídio. Suicídio político, penso...
Assim tem sido na política. Necessitamos de heróis, de homens valentes. Quanto maior a valentia e a humildade do candidato, maior o número de votos. Papais-noéis, fadas, princesas, duendes e monstros têm deitado e rolado sobre a nossa cretinice e abstração.
Se somos a rota da droga, quem são os consumidores?
Nossa região realmente não possui os atrativos que os caras do sul-sudeste apreciam. Nosso povo serve água, manda entrar, deixa usar o banheiro, convida para almoçar, visita doentes, vizinha, partilha.
Numa coisa meu interlocutor tem razão: Ao longo dos anos, temos feito a riqueza de muitos perdulários. Assim foi no seringal, assim é nas mercearias da cidade. Por nossas origens estarem com os pés fincadas no sistema de aviamento dos antigos seringais, temos um espírito subserviente, precisamos de patrões.
Quando vamos ao comércio, não compramos no comércio tal, compramos no fulano de tal. Compramos uma gasolina caríssima e nos admiramos com a "bondade" do dono do posto em sortear uma moto ou um carro entre os clientes.
Por aqui, Deus tem sido muito mais paciente e amoroso, apesar de todos os nossos pecados (os das escolhas políticas são os maiores).
Por nossas origens, guardamos conosco um sentimento de perseguição, nos fazemos de vítimas. Como se ainda vivêssemos no seringal e em cada um deles houvesse um capataz-matador de seringueiros, como se ainda não pudéssemos “tirar saldo” sob o risco de recebê-lo como uma descarga de papo-amarelo a poucos metros do barracão.
Um sentimento de perseguição... Apesar das escolas, das universidades.
Os que mais reclamam da falta de oportunidades, são os que menos se deram uma oportunidade. Quer um exemplo? Pense num amigo seu que sempre foi dedicado, tirava boas notas, lia, se informava, tinha idéias, sugeria. Seu amigo cdf vive reclamando da sorte, ou está tranqüilo?
Mas aos poucos vamos conhecendo suas artimanhas e nos precavemos.
Aos poucos, lentamente mesmo, nosso povo vai descobrindo que o salvador da pátria foi uma criação da Rede Globo e que o "Sassá Mutema" sobrevive hoje, da venda das antenas parabólicas Century.
Portanto, aventureiros, civilizados e preconceituosos homens do sul, deixem-nos com nossos pecados e manias. Saberemos ir tocando nossas vidas com as dificuldades de cada momento. Nossa história, centenária, está cheia de exemplos. Não tememos desafios, porque somos forjados com a bravura dos melhores sertanejos e guerreiros da floresta, mesmo à revelia de muitas coisas.
Simples assim: Os incomodados que se retirem.
Por outro lado, talvez como uma compensação ou compaixão natural, cresci invocado, sempre no improviso, me esquivando, planejando, pensando mais do que poderia efetivamente realizar. Nunca desafiando gigantes, mas sempre lhe tirando a medida, observando-lhe as fragilidades para melhor vence-lo.
Também, nunca me encontrei sem uma opinião. Por isso não posso aceitar que alienígena nenhum, fale mal da nossa cidade, menosprezando-a apenas porque não é daqui, e fazendo questão de não ser.
Eis então uma indigesta opinião, que pela situação que ocupava naquele momento não pude dar:
Por alguns anos estive pensando em conhecer o mundo. Aí me dei conta de que ainda não conhecia Rodrigues Alves, Thaumaturgo, o Ramal dos Carobas, o Gama, e tantos outros lugares e pessoas da minha própria região. Afinal, o que poderia encontrar de bom numa grande cidade? Me diga, (desculpe pela gramática) sinceramente, o que existe no Rio ou em São Paulo que não possa ser encontrado em Marechal Thaumaturgo ou em Porto Walter?
Os babacas logo dirão: Um shoping, um metrô, um viaduto, uma casa de baladas, e por aí vai a cretinice e o excremento cerebral de alguns conhecidos.
É, meu amigo, nesse particular você tem razão. Realmente não temos shopings, viadutos, metrôs, nosso trânsito não tem engarrafamentos, não temos seqüestros, internet, ôpa! Aí já muda de figura. Temos sim, e internet banda larga, fibra ótica. E porque temos, estamos conectados ao mundo, estamos globalizados.
Por isso mesmo, porque sêmo do interior mais num sêmo besta, é que vemos e comparamos a “felicidade” e o “progresso” dos civilizados e bestializados centros urbanos, a nossa vidinha simples e monótona de cidadezinha do interior.
Dirão eles: só mesmo vendo de perto, para entender o que é um grande centro urbano. Será verdade? Se fores cristão, deves ter uma idéia do inferno, mesmo sem precisar sentir o mormaço das caldeiras nem a pressão das moendas do inimigo. Da mesma forma, não preciso conhecer as grandes cidades para odiá-las.
Para que servem os engarrafamentos? Para que servem os sequestros? Para que servem os shopings quando não se tem dinheiro?
Para que servem as milícias, os comandos dos morros, os donos de boca?
Também temos nossos bandidozinhos, infelizmente, mas nossos ladrões e malfeitores são tipos inocentes, amadores, que assaltam a lotérica e compram passagem na Gol, ou aprendizes imitadores dos ladrões e traficantes que a mídia do eixo Rio-São Paulo idolatram e elevam á condição de heróis.
Nossos ladrões e malfeitores, o terror do bairro (cada bairro tem os seus), são os filhos da comadre tal, que foram criados junto com os meus filhos, um deles é até meu afilhado. É assim.
Nos ressentimos ainda, e bastante, de um estudo sociológico e mesmo psiquiátrico sobre o perfil mental da população do Juruá. Temos uma inexplicável vocação para o estoicismo e à auto-flagelação. Temos uma tendência mórbida que nos impele para o suicídio. Suicídio político, penso...
Assim tem sido na política. Necessitamos de heróis, de homens valentes. Quanto maior a valentia e a humildade do candidato, maior o número de votos. Papais-noéis, fadas, princesas, duendes e monstros têm deitado e rolado sobre a nossa cretinice e abstração.
Se somos a rota da droga, quem são os consumidores?
Nossa região realmente não possui os atrativos que os caras do sul-sudeste apreciam. Nosso povo serve água, manda entrar, deixa usar o banheiro, convida para almoçar, visita doentes, vizinha, partilha.
Numa coisa meu interlocutor tem razão: Ao longo dos anos, temos feito a riqueza de muitos perdulários. Assim foi no seringal, assim é nas mercearias da cidade. Por nossas origens estarem com os pés fincadas no sistema de aviamento dos antigos seringais, temos um espírito subserviente, precisamos de patrões.
Quando vamos ao comércio, não compramos no comércio tal, compramos no fulano de tal. Compramos uma gasolina caríssima e nos admiramos com a "bondade" do dono do posto em sortear uma moto ou um carro entre os clientes.
Por aqui, Deus tem sido muito mais paciente e amoroso, apesar de todos os nossos pecados (os das escolhas políticas são os maiores).
Por nossas origens, guardamos conosco um sentimento de perseguição, nos fazemos de vítimas. Como se ainda vivêssemos no seringal e em cada um deles houvesse um capataz-matador de seringueiros, como se ainda não pudéssemos “tirar saldo” sob o risco de recebê-lo como uma descarga de papo-amarelo a poucos metros do barracão.
Um sentimento de perseguição... Apesar das escolas, das universidades.
Os que mais reclamam da falta de oportunidades, são os que menos se deram uma oportunidade. Quer um exemplo? Pense num amigo seu que sempre foi dedicado, tirava boas notas, lia, se informava, tinha idéias, sugeria. Seu amigo cdf vive reclamando da sorte, ou está tranqüilo?
Mas aos poucos vamos conhecendo suas artimanhas e nos precavemos.
Aos poucos, lentamente mesmo, nosso povo vai descobrindo que o salvador da pátria foi uma criação da Rede Globo e que o "Sassá Mutema" sobrevive hoje, da venda das antenas parabólicas Century.
Portanto, aventureiros, civilizados e preconceituosos homens do sul, deixem-nos com nossos pecados e manias. Saberemos ir tocando nossas vidas com as dificuldades de cada momento. Nossa história, centenária, está cheia de exemplos. Não tememos desafios, porque somos forjados com a bravura dos melhores sertanejos e guerreiros da floresta, mesmo à revelia de muitas coisas.
Simples assim: Os incomodados que se retirem.
Um comentário:
a mais pura e absoluta verdade
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