Senti a mesma emoção e a mesma certeza de ter visto a História acontecendo tal no 11 de Setembro de 2001.
Uma escavadeira e um caçamba ainda trabalhavam retirando os últimos entulhos de mais algumas casas retiradas do lugar onde deverá ser construída a ponte sobre o Rio Juruá.
Por que história? Não é a ponte. A ponte será o futuro. A história será a extinção do Bairro da Lagoa, um bairro que é a última lembrança do fracasso do modelo econômico que alavancou a favelizaçao de Cruzeiro do Sul, principalmente a partir do final dos anos 70. Refiro-me a falência dos seringais.
Um bairro como tantos outros em todas as cidades ribeirinhas na Amazônia, um bairro de pessoas de bem, trabalhadores, comerciantes, de pescadores e até de alguns pecadores, por que não?
Um bairro que será extinto, mas que é igual em forma e conteúdo ao que se forma diante do barranco do Fórum, no Porto do Buraco.
Não adianta olhar a demolição das humildes palafitas com um pensamento vingador.
O Bairro da Lagoa será para sempre o símbolo da nossa miséria humana.
É uma invenção nossa, um gargalo, é o filho bastardo de todas as administrações que passaram pela prefeitura e uma concentração de eleitores.
Ali pela Lagoa, estão os emigrados das estradas de seringa, dos despossuídos, daqueles que com a própria miséria fizeram a riqueza de poucos seringalistas.
Onde estão os seringalistas? Basta olhar nos comércios a origem familiar dos proprietários. São os remanescentes, filhos ou netos de patrões seringalistas.
E o modelo do seringal se reproduz na cidade. O antigo patrão é agora o empresário, o dono do supermercado, e o antigo seringueiro é o favelado consumidor, mas que precisa ser readaptado, urbanizado.
A dominação é a mesma. No seringal de hoje, poucos ou ninguém tira saldo.
O Bairro da Lagoa é formado por ex-seringueiros.
O Bairro da Lagoa tem data para acabar. Quem não fez ainda a sua foto de despedida é só aguardar por aqui mesmo. Farei outras ainda.
Um comentário:
Sou muito chegado em suas colunas. O problema, n é construir a ponte pq essa vai ser um marco de desenvolvimento na região. O problema é o descaso e desrespeito com essa gente q tanto luta em busca de um lugar ao sol, contudo, se vê obrigada a viver de forma muitas vezes miserável por conta de faltas de políticas públicas e humanas....
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