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sábado, 20 de junho de 2009

"Hora legal" deve ser legal.

Nos últimos dias uma polêmica ganhou novamente as manchetes em Cruzeiro do Sul e região. Tenho acompanhado pelo “Jornal da Manhã”, o melhor jornal de rádio em Cruzeiro do Sul, muito bem conduzido por Alexandre Gomes.

É sobre uma possível nova mudança no horário acreano que nos deixaria no mesmo horário de Brasília e do restante do País.

Dessa vez a lei não é de autoria de um senador acreano, conforme alguns politiqueiros vez por outra ainda tentam fazer acreditar. O autor da proposta (que falta apenas um pouquinho para ser aprovada) é um senador amazonense e de oposição. Se o autor do projeto é oposição ou situação, isso é o que menos deve importar nesse momento e nem acho sensato politicarmos (politicar deriva de politicagem, eu acho) um tema tão complexo.

Contudo, temos que expressar nossa opinião. Devemos, afinal, “hora legal” deve ser legal mesmo e ajudar no desenvolvimento do país. Deve ser decidido por quem “faz a hora”, pelos trabalhadores e não pelos chegados ao ócio.

Ano passado, quando a hora legal do Acre adiantou uma hora eu concordei. Concordei porque acredito que tem sido legal (apesar de ainda dormir pelo horário antigo e acordar pelo novo). Agora, diante da nova possibilidade, antes mesmo de manifestar uma opinião, abordo uma questão insolúvel - o tempo.

O tempo - um tema por demais escorregadio e não cabe ser analisado apenas pela gramática, pelos cálculos matemáticos, pela história, pela filosofia, pela física ou pela teologia.

Definir tempo é arriscado demais porque é relativo. Pergunte a um velocista, a um presidiário, a um desempregado, a um perdulário, a uma criança, a um paciente terminal. Cada resposta um conceito diferente.

Mas afinal, o que é o tempo?
E sou eu quem deve saber? Quando começamos a achar que sabemos, vem alguém e diz: “Você está uma hora atrasado, adiante seu relógio”.

Aos domingos, saio de casa às 11:00h e chego em Guajará às 10:30, isso porque meu sogro não mudou o relógio dele que continua estacionado no tempo passado. Decidir sobre o próprio tempo é um direito dele. Ao exercitar o direito de revolta ele justifica a máxima de que “para toda opressão, um tipo de resistência”. O relógio na parede uma hora atrasado é um protesto. Silencioso, mas é um protesto.

O tempo não é o calendário? Um lugar onde moram os dias e nos envelhece?

Poucos sabem, mas as mudanças no calendário e no tempo tem sido frequentes desde a antiguidade e muitas vezes com soluções pra lá de contestadas.

Em 1580 um jesuíta que também era astrônomo e matemático chamado Cristophorus Clavius (1537-1612) confrontou o calendário Juliano (criado por Julio César) com as posições dos astros e concluiu que a contagem dos dias estava errada. Os humanos estavam atrasados.
Assim, em 1582, o Papa Gregório XIII instituiu através de uma Bula Papal, o Calendário Gregoriano e corrigia a diferença acumulada entre os calendários civil e o solar.
A Bula Papal, pelo menos quanto à adoção do ano bissexto, aproveitou uma idéia de 238 a.C., onde os sábios egípcios de Ptolomeu III sugeriram a adição de 1 dia a cada 4 anos para compensar a diferença que existia entre os dois calendários.

A polêmica do Calendário Gregoriano ficou por conta da decisão do Papa de suprimir 10 dias do calendário (os dias 5,6,7,8,9,10,11,12,13 e 14). O mês de outubro de 1582 teria apenas 21 dias. Com isso, do dia 4 de outubro de 1582 o calendário “saltou” para o dia 15 de outubro de 1582. Na mesma data, também o início do ano passou a ser o dia 1 de janeiro(antes era em março).

Mudanças no calendário podem e são usadas ao longo dos tempos para corrigir erros ou para atender interesses, como na França revolucionária.

O horário é uma convenção social e atende aos interesses das elites. Se ele nos contempla ou nos “ferra” é um mero detalhe e acaba sendo fruto das nossas escolhas.

Vivêssemos ainda no campo feito nossos pais ou avós antes do imperativo da urbanização, mudanças no horário ou no calendário não nos afetariam.

Ano passado, viajando pelo Rio Juruá em pleno verão, observei agricultores nas costas de praias, que se descortinavam na neblina do amanhecer, em plena atividade. Ali, as mudanças de horário não chegarão nunca. Ali, o horário, a rotina de trabalho não é convenção política, é lógica. Enquanto o sol é suportável eles trabalham, quando começa a queimar, eles param para recomeçar quando esmaecer. Quando cai a chuva, eles param, quando escurece, eles se recolhem.

Lá, na beira do rio, quem decide o horário e o calendário é a natureza e a necessidade.

Mas eu entendo que o comércio tem suas metas e suas estratégias. Que os políticos têm as suas certezas e as suas incertezas.
E que os pobres tem apenas a vida porque Deus é bom e não cobra impostos.

Por isso, sugiro que o nosso possível novo “horário legal”deva ser legal mesmo.
E, antes que eu esqueça, devo admitir que ano passado fui contra e hoje reconheço as vantagens daquela mudança. Novamente sou contra, mas estou disposto a negociar caso tenha oportunidade.

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