Final infantil do Futsal dos Jogos Escolares 2009.
Os alunos da escola Padre Marcelino Champagnat entraram em quadra cabisbaixos.
Estariam com medo? Fixei-me nas feições de cada um deles. Não, não era medo. Seria, talvez, o peso da própria responsabilidade?
O adversário já estava lá, imponente, com o uniforme irretocável, ostentando firulas e habilidades fora do comum, talvez com o intuito de impressionar nossos atletas.
Nossos jogadores não apresentavam um uniforme digno nem demonstravam habilidades. Mas já eram vencedores. Esse seria meu discurso de motivação caso a derrota fosse confirmada.
O duelo evidenciava opostos. De um lado, alunos de uma escola particular, vigorosos, corados, bem nutridos, nivelados em peso e altura, que dispõem de uma quadra e farto material esportivo para treinamento.
Do outro, alunos de uma escola municipal, sem espaço para atividades físicas, sequer recreativas, alunos oriundos dos bairros mais pobres da cidade. Era o nosso time.
Nosso time estava longe da homogeneidade física. Por isso, nosso time tinha os menores e os maiores jogadores. O treinador também era o maior.
O Bezerrão estava lotado e dividido em duas torcidas. À direita, a torcida do Instituto Santa Terezinha e a esquerda, a torcida da Marcelino Champagnat formada por alunos, ex-alunos e professores na mais perfeita e santa euforia.
Inicia o jogo e tudo levava a crer que os 2 gols sofridos nos primeiros minutos se transformariam em goleada e a escola Marcelino Champagnat sairia dali com um carregamento de gols e uma derrota histórica.
Mas havia algo especial naquele jogo. O treinador, os jogadores e a própria torcida pareciam tranquilos demais. Menos o professor de História, que via na derrota dos seus alunos a justificativa da desigualdade. A reprodução da sociedade e dos privilégios, como se estivessem ali apenas para garantir uma vitória que não era deles.
Como se estivessem ali para seguir um roteiro pré-determinado, sem direito a escolhas.
Mas eles escolheram vencer e fizeram História.
Parece exagero, mas a vitória dos alunos da Escola Pe. Marcelino tem algo de comovente e sociológico.
Perdessem o jogo, e tudo estaria dentro da mais imperfeita e injusta normalidade social. A sociedade em que vivemos.
Pelas convenções sociais, baseadas no preconceito e na discriminação que fundamenta o capitalismo, não poderiam ter vencido, deveriam ter aceitado o placar adverso e baixado a cabeça.
Assim reproduzindo, relações de poder e principalmente econômicas, tão comuns e visíveis a um simples olhar.
Eram apenas crianças, mas reproduziam a sociedade. A desigual e surpreendente sociedade em que vivemos, capaz de nos surpreender e abestalhar sábios.
Uma vitória cheia de lições: Mesmo os ricos, treinados para o sucesso ao menor esforço, fácil, a vitória por consequência, devem estar preparados para os revezes.
Mesmo os pobres, sobreviventes, a um enorme preço, superando todas as contrariedades e expectativas, podem atingir seus objetivos.
A vitória da Marcelino Champagnat, vista pelo professor de História é um ensinamento primoroso: O de que é possível transformar a realidade e que não existem vencedores nem perdedores até que se encerre o jogo.
E mais, não importa o lugar, a origem familiar, o uniforme que se tenha que usar, a escola em que se estude, ou o que se pense dos outros.
Sempre será possível ir um pouco além dos limites impostos à sua condição social.
A vitória dos nossos alunos evidencia isso.
A vitória ou a derrota será sempre uma escolha pessoal e a educação é ainda a melhor tática para driblar as adversidades.
Parabéns, vencedores! Continuem treinando (agora com os livros) e alcançarão vitórias ainda maiores em palcos maiores e mais importantes que o Bezerrão.
Antonio Franciney de Almeida Rocha
Professor de Hisória
3 comentários:
Se enganou, n é professor???? Afinal de quanto os meninos ganharam?? E como foi essa virada??
Por isso nunca acreditei q o mais privilegiado sempre saísse vencedor. A vitória é dos q priorizam vencer e lutam por ela, dando valor ás mínimas coisas, e n dos que nascem em berço de ouro...
Eu já sabia, assim como você também, afinal, nós somos fruto disso. Mas o esporte nao é a imitaçao da vida? Perder ou vencer é uma escolha pessoal.
Parabéns professor por continuar sendo um homem tão critico e justo do mesmo jeito dos meus tempos de colégios,analizando de uma forma simples e real.Me gusta mucho su blog,sua aluna Harriethe Clemente Alvanari.
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