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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dia Internacional do Trabalhador

Desde 1890 e por todo o século, afirma-se no calendário como o Dia Internacional da Solidariedade dos Trabalhadores, com a notável exceçao dos EUA, pátria dos mártires de Chicago.
Ao longo do séc. XX o 1º de Maio foi a data escolhida para diversas manifestações de trabalhadores.
Durante a Ditadura Militar (64-85), a data foi mantida mas sofreu uma sutil e ideológica mudança de nome. Virou Dia do Trabalho. "Trabalhador" sugere luta por direitos, "trabalho" sugere obediência, compromisso, respeito.

Hoje também:

É Dia da Literatura Brasileira
Para registrar a data, dois poemas, um de Mário de Andrade e outro da própria lavra.

Ode ao Burguês (Mário de Andrade)

Eu insulto o burgês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
"_ Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
_ Um colar... _ Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!...


Peloponeso (Antonio Franciney)

Sob as vestes brancas dos ensoberbados
Vai o orgulho das estrelas todas
Cintilantes.
Sob os pés destes miseráveis
Vai a escória de soldados.
Tenores, barítonos, crianças sem pai
Em triste harmonia ensaiam um canto
Que enoja, que fede
E pela vida vai.
No círculo fechado do Peloponeso
O idealismo dos atenienses
Combatendo o ardil dos espartanos
(página infame que acabei de ler)
É o combate à História
É o combate à idéia
Dos que marcham pra morte.
(Quatro Colinas, pág.32)

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