O melhor texto sobre a inauguração da ponte foi escrito hoje pelo jornalista Leandro Altheman no seu blog Terra Náuas. Veja na íntegra:
Com
a abertura da ponte, alguns contrastes que já eram evidentes para os olhares
mais aguçados, tornaram-se visíveis agora a todos. O mais óbvio, é de que a
obra da ponte que oferece uma arquitetura e confere uma ar de modernidade à
anatomia urbana de Cruzeiro do Sul, tem no seu "Lado B"(de bunda), a
feiúra da porta de entrada da cidade.
E
não estou falando somente das casas da Lagoa, não.
"Sempre
só falam mal dos pobres, mas quem está mais sujando e poluindo essa parte da
cidade é a classe empresarial", disse o líder comunitário Chaguinha da
Lagoa.
Falar
mal das casas mal enjambradas da lagoa, é chover no molhado e qualquer
apresentador de TV a serviço do patronato enche a boca para dizer.
Agora
quero ouvir dizer que quem construiu a cidade literalmente "de bunda"
para o Juruá, foi a classe empresarial. Nada contra aqueles que produzem "emprego
e renda", como diz o bordão tradicional, mas o poder público e a sociedade
deveriam cobrar um pouquinho mais de quem pode mais.
A
imagem do Boulervard Thaumaturgo, jogando todo o esgoto na frente da cidade, é
tão despudorada quando a do menino do Miritizal que no dia da abertura da ponte
arriou seu shorts rasgado e posicionou a sua bunda em uma das aberturas da
ponte. "Vou inaugurar a ponte", disse o menino. Mirando o Juruá com o
"olho que nada vê" ele despejou o conteúdo imundo de suas tripas que
por sorte não acertou nenhum catraia que navegava em baixo.
Nosso
Juruá não tem a mesma sorte e o rio que possibilita a vida nesta região, seja
humana, animal ou vegetal recebe diariamente a ingratidão de seus habitantes
mais ilustres.
Além
do esgoto, o lixo é jogado sem nenhum constrangimento, todos os dias, nas suas
margens.
Na
verdade, a abertura da ponte sobre o Juruá será apenas a primeira, de muitas
outras obras implantadas em aço, cimento e asfalto que ao invés de
'modernizarem' nossa cidade vão apenas evidenciar o distanciamento que existe
entre a realidade de poucos e a da maioria.
Não,
não sou um estraga prazer, apenas estou fora da ufania em torno da ponte e da
BR. São obras importantes, sim, mas é preciso ter pé no chão para evitar que o
sonho se transforme em pesadelo. É preciso antes de tudo, que a sociedade seja
capaz de apontar o rumo que deseja para sua cidade, para seu povo, para sua
juventude.
Legenda: Ao lado da recém-aberta ponte do Juruá, os urubus são os vigilantes que indicam a presença da morte. Os urubus aceitaram posar para a foto desde que seu cache fosse doado para instituições de caridade.
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