Este é um blog de opinião. As postagens escritas ou selecionadas refletem exclusivamente a minha opinião, não sofrendo influência ou pressão de pessoas ou empresas onde trabalho ou venha a trabalhar.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Um por todos


José Luiz Teixeira (*)

A compra das Casas Bahia pelo Grupo Pão de Açúcar, realizada recentemente, seria proibida na minha ilha.
Assim como a "Utopia", de Thomas Morus, também tenho na imaginação uma pequena porção de terra cercada de água por todos os lados na qual estabeleceria minha sociedade ideal.
Ali não seria permitido que uma só pessoa ou grupo fosse dono de grandes corporações - como está acontecendo agora com o empresário Abílio Diniz que passa a deter, sozinho, o controle de várias redes de lojas de varejo do Brasil.
Na minha ilha, cada cidadão só poderia ter uma unidade de cada coisa - seja lá o que fosse.
Só poderíamos ter uma casa, um carro, um sítio, um supermercado, um barco, um banco, um ônibus, um avião, uma fábrica e assim por diante.
Devo esclarecer que não tenho nada pessoal contra Abílio Diniz, homem que merece admiração por seu extraordinário talento empresarial.
Cito-o apenas como exemplo, com a seguinte questão: por que só ele precisa ter todos os supermercados que existem?
Não poderia ser apenas o proprietário da unidade da Praça Pan-americana, no Alto de Pinheiros, em São Paulo, uma das mais chiques da rede?
Somente com a renda desse ponto, imagino que levaria o mesmo padrão de vida que tem atualmente, com casa, sítio, barco, viagens, incluindo-se aí até eventuais caprichos de sua jovem esposa.
Os demais supermercados da rede pertenceriam a pessoas diferentes, todos integrados obviamente a uma cooperativa para que mantivessem a eficiência do negócio.
Perderíamos um bilionário; em compensação, ganharíamos vários ricos, todos eles consumindo praticamente os mesmos bens de consumo do Abílio Diniz.
A indústria e o comércio venderiam mais lanchas, mais carrões, os restaurantes caros estariam mais cheios...


Outro exemplo para ilustrar o sistema econômico da minha ilha: os ônibus. Por que todo o transporte coletivo de uma cidade precisa ficar nas mãos de três ou quatro empresários que acabam monopolizando o setor?
Seria muito melhor se cada ônibus tivesse um proprietário, como já ocorre em São Paulo com as cooperativas de ex-perueiros.
Parece que essa experiência está dando certo, apesar das guerras que eles travam entre si por território e linhas da periferia. Mas essa é outra história.
O fato é que não se pode dizer que um perueiro, dono de seu próprio micro-ônibus, seja rico. Não se pode negar, igualmente, que ele esteja melhor de vida do que um motorista assalariado.
Há muitos outros casos a comprovar que nesse sistema (capitalista, é bom lembrar) a distribuição da riqueza seria mais justa.
Poderia me alongar no assunto, mas quero poupar de mais devaneios aqueles que tiveram a paciência e a generosidade de chegar até o final desta crônica.
E antes que alguém me mande ser utópico naquele lugar (na minha ilha, espero), que me responda: por que não?
Teríamos mais milionários, mais ricos, mais classe média e, sem dúvida, os pobres não viveriam na...(perdão, presidente, pela má palavra) miséria.

* José Luiz Teixeira é jornalista. Formado pela Faculdade Cásper Líbero, trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais as rádios Gazeta, Tupi e BBC de Londres, e os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Folha da Tarde.


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