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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Meu amigo colocou um piercing

Voltei para dizer que meu amigo colocou um piercing.

E daí? Isso é problema dele. Se ele quisesse usar outra coisa isso também seria problema dele, não meu.

Estranho, não? Como os valores mudam...

Lembro que lá onde morei, há trinta anos atrás, o uso do piercing já era bastante difundido, eu mesmo lembro do meu pai colocando piercings que ele fazia de pedaços de arame torcido com um alicate.

Quando ele colocava um piercing, o cabra estrebuchava, mas não tinha jeito. Era a moda e a necessidade.

Era no porco. E era uma argola no focinho. Às vezes até três de uma vez, caso o teimoso resolvesse arrumar um jeito de continuar fuçando.

Porco de piercing tinha que contentar-se com a mandioca do roçado que trazíamos num caçuá pelo menos duas vezes por semana.

Com uma argola no focinho, o infeliz tornava-se um prisioneiro, escravo do terreiro. Porco de piercing até tinha liberdade para ir aonde quisesse, mas comia tampado, e do que o dono desse.

Mas hoje, parece que é o contrário.

Hoje, até pessoas “normais” usam piercing, até professores...

O Piercing parece que caminha para tornar-se a afirmação do "homem".

O uso do piercing foi absorvido por pessoas ditas "normais" a partir dos anos 80. Antes disso, era visto como moda de criminosos e pervertidos.

Ousemos, contudo.
Não sou psicólogo, apesar de entender que a moda deva ser explicada muito mais pelas Ciências Sociais que propriamente pelas “ciências da mente”.

O piercing pode ser, tanto sinônimo de liberdade, como de falta dela. Quem usa piercing parece querer expressar alguma revolta ou frustração.

Olha só o que encontrei num desses sites de respostas:

"Muita gente achava que seria (o piercing) uma moda passageira como tantas outras, mas se atentarmos bem a época e ao fenômeno iremos notar uma nítida relação entre a descristianização, ou paganização, da sociedade, que se seguiu aos decênios 60 e 70 - basta ver o declínio da prática religiosa nesta época.

Mas o que teria esta paganização a ver com o piercing e com a tatuagem?

Ora o cristão entende, com razão, que seu corpo é Templo do Espírito Santo, criado pelo Bom Deus para ser usado para o Bem. Para o cristão o corpo não é um pedaço desprezível de carne com o qual podemos fazer qualquer coisa e muito menos que o temos como propriedade absoluta, mas como dom de Deus, do qual teremos que prestar contas pelo seu uso, bom ou mau.

Com a perda desta noção cristã da relação entre o uso da vontade racional orientada pela Fé e da realidade material da pessoa humana, passaram a encarar o corpo e suas necessidades como os únicos parâmetros orientadores da vontade, o que em terminologia cristã seria expresso como que se deixaram dominar pelas tentações da carne, ou pela concupiscência, sendo por isto mesmo que se viu, antes do aparecimento do piercing e da tatuagem, uma explosão da falta de pudor nas modas e na castidade entre os jovens daqueles decênios que antecederam os anos 80.

O uso do piercing especificamente esta ligado a vaidade imoderada ou, quando há exagero ou mutilação, a um desejo perverso de transgredir normas e portanto estão ligados ao sensualismo ou ao orgulho."

Não irei tão longe. Acho que é modismo e pronto. Que não diminui o indivíduo em nada. Até porque eu mesmo já avaliei melhor algumas antigas posições sobre alguns assuntos e preconceitos.

Principalmente partindo do principio de que amigo meu não tem defeitos e inimigo se não tiver eu arrumo.

Simples assim: Meu amigo colocou um piercing e como ele é meu amigo, nem por isso deixarei de falar com ele.

Talvez a essa altura você me pergunte se eu colocaria um.

Bem, às vezes (quase sempre) eu penso na morte e então quando eu morrer...
Façam comigo o que bem entenderem, só não esqueçam que eu era nascido em 1971 e que naquela época quem usava piercing era o porco.

4 comentários:

Fabrício Sales disse...

Olha amigo franciney, gostaria de ter escrito esse artigo seu. Ele esta simplesmente fantástico. Concórdo em genero, número e grau com você.

Ah e só pra constar, eu nasci em 1983 e desde aquela época já me passaram todas as ponderações muito bem feitas por você.

Grande abraço do seu amigo Fabrício!

Terra Náuas disse...

Prezado Franciney;
Li com satisfação o seu texto que tem dois momentos bem distintos. No primeiro a comparação com os suínos de seu tempo d emenino, achei ótimo, de uma veia humorística sarcástica maravilhosa.

Já na segunda parte, onde vc faz uma análise mais aprofundada, vinculando ao paganismo, creio que do ponto de vista cristão vc está está correto, mas gostaria de acrescentar algo sob uma outra ótica.
O uso de adereços no corpo pelos povos é muito comum e antigo e geralmente traz algum significado religioso ou social. Por exemplo, os brincos utilizados pelos Xavantes quando eles atingem a maturidade, entre outros inúmeros exemplos.
Pelo ponto de vista destes povos o uso de adereços e pinturas corporais fora deste contexto é uma vulgarização e incorre em um desrespeito não apenas ao próprio corpo, mas ao corpo social a qual petence o indivíduo . Para estes povos a qual são prejorativamente chamados "pagãos" também existe a noção de sagrado, tal qual nas religiões abraâmicas (judaismo, cristianismo e islamismo).

Saudações
Leandro

Marcus Vale disse...

Ótimo artigo...O ser humano sempre quer a qualquer custo usar de modismo pra ser diferente e não somos abrigados a aceitar atitudes desse tipo como normal.

Anônimo disse...

Cara!!!! q comentário estupendo esse sobre pircing!!! Bem, n tenho nenhum amigo q use essas marmotagens, e tbm se tivesse n deixaria de falar com ele por causa disso, afinal, n é p eu, q ele deverá prestar contas. Sei q tenho tendências a ser um cara preconceituoso, porém cada um vive sua vida como achar melhor, desde q n interfira em meus conceitos e costumes, até um filho meu, caso venha esquecer as orientações dadas e desde que maior de idade e n esteja sob minha jurisdição.
Além de sábio seu comentário, é bíblico: Nosso corpo é templo do Espírito Santo, e foi criado p honra e gloria de Deus.