Texto de Eliana Catanhede
publicado na FOLHA DE SÃO PAULO de 18 de abril de 2013 BRASÍLIA - Com a
Comissão de Direitos Humanos da Câmara fechada e 93% dos paulistanos defendendo
a redução da idade penal, 29 moradores de rua e mais um viciado são mortos em
Goiânia, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Com razão, o planeta está em choque com a
morte de três pessoas na maratona nos EUA. E quem está em choque com a morte de
30 infelizes sem amor-próprio e sem proteção do Estado brasileiro?
Ontem, houve uma debandada de deputados da
Comissão de Direitos Humanos e dezenas de pessoas continuaram gritando para
afugentar o deputado e pastor Marco Feliciano. Nem a portas fechadas a comissão
consegue funcionar.
Do outro lado, 40 evangélicos
decidiram dar um troco e invadiram a Comissão de Constituição e Justiça para
exigir a saída dos deputados José Genoino e João Paulo Cunha, condenados pelo
mensalão.
Ao que se saiba, nem os
deputados, nem os evangélicos, nem os manifestantes contra Feliciano estão
discutindo o que realmente interessa nem a questão mais urgente de direitos
humanos: um possível grupo de extermínio na capital de Goiás.
A única estridência partiu da ministra Maria
do Rosário, pedindo à Procuradoria-Geral da República que a Polícia Federal
entre em ação. A ministra é do PT, e o governador Marconi Perillo, do PSDB, mas
a questão não é partidária nem apenas local.
Com tantas mortes há oito meses,
não é absurdo supor que a polícia estadual esteja, no mínimo, lavando as mãos;
no máximo, envolvida.
Os moradores de rua vêm sendo
atacados a tiros, a facadas e espancados até a morte, um atrás do outro, e nada
acontece. Até ontem, quando alguns suspeitos foram presos, não havia gritaria,
nem manifestações, nem a presença do Congresso e nem mesmo operações
diligentes.
É como se as vítimas, já tão
punidas pela vida, não fossem nada, apenas um fardo, um acidente. E os direitos
humanos, onde ficam?
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