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terça-feira, 30 de novembro de 2010
Poema não cura dor de dente, mas...
O Tédio (Henrique Hine)
A doença que me punge e
esteriliza a mocidade e o espírito,
Resulta de uma chaga que nunca
cicatriza.
Muito embora comum a toda gente,
a de que sofro, atroz hipocondria,
Tanto me torna pensativo e
doente, que já não sei o que é paz nem alegria..
Sendo o mais sábio clínico do
mundo, sois também um filósofo notável, do
Peito humano auscultador
profundo, curareis este mal inexorável.
Que me destrói o organismo
fibra-a-fibra
Que me enevoa o cérebro e o
condensa.
Eu tenho um coração que já não
vibra
Suporto uma cabeça que não pensa.
Este tédio mortal, tédio
agoureiro,
Que me envenena, que me escurece
os dias,
É como os beijos dado á dinheiro,
numa noite de orgias.
Contudo a enfermidade, o morbus
que o devora,
É um produto fatal do século de
agora.
Uma emoção vibrante, um abalo
violento, pode cura-lo
Creio. Apenas num momento. O
tédio é uma sombria, uma
Fatal loucura. É a treva
interior, a grande noite escura.
Onde se esquece tudo. A sorte, a
vida amada. O nosso
Próprio ser e só se lembra o
nada.
---diga-me. Alguma vez amou?
Nunca em seu peito estrugiu das
paixões o temporal desfeito?
Como as vagas de um mar que se
agita e encapela, ao soturno rumor do vento
E da procela?
Paciente: Nunca.
Doutor: Pois meu caro. Procure a
agitação constante.
Um prazer esquisito, um gozo
triunfante.
Já visitou a Grécia, o Oriente a
terra santa?
Os sítios onde tudo hoje evoca e
decanta, as glorias uma idade imorredoura
E eterna, que amesquinha e
deslumbra a geração moderna?
E a humanidade, como Judas da
lenda.
E entre as mulheres todas, cujos
lábios beijei
Em bacanais e bodas,
Mulher nenhuma eu vi sobre a
terra tamanha
Que para mim não fosse uma visão
estranha.
Como parti voltei. Sem achar
lenitivo para este mal doutor.
Que assim me trás cativo.
Que a esta cidade inteira palmas e
aclamações constantemente arranca.
Talvez lhe restitua a gargalhada
franca.
O truão de que falas, o palhaço
querido
Que anda no Coliseu assim tão
aclamado, tem um riso
De morte, um riso mascarado, que
encobre a dor sem fim
Do tédio e do cansaço...sou eu
este Palhaço.
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Um comentário:
FRANCINEY,
muito interessante esse poema. Ainda não conhecia.
Parabéns pelo blog, estou sempre por aqui te prestigiando, desfrutando de teus saberes!
Abraços!
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