Foi publicado ontem na imprensa acreana uma entrevista com o Presidente Lula.
É impressionante, mas Lula conhece mais o Acre do que muitos acreanos. Cita nomes, números, percentuais.
É sem dúvida o mais acreano dos presidentes da nossa centenária república.
Com razão, o Presidente quer saber: O que acontece na política do Acre? Por que apesar de ajudar tanto o Acre, ele próprio e Dilma foram sempre tão mal votados? O que passa pela cabeça do eleitor acreano?
Citou Marina, Chico Mendes, Osmarino... Personalidades mundiais que não encontraram apoio dentro do próprio estado.
Eu também não entendo, Sr. Presidente. Mas vamos especular.
O problema poderia ser os irmãos Vianas, conforme alguns pestes apregoam? Óbvio que não. Qual é o problema? Jorge e Tião venceram as eleições praticamente sem fazer campanha, ganharam apenas pelo trabalho realizado. Tião Viana ganhou em Cruzeiro do Sul quando todos acharam que perderia e perdeu em Rio Branco, dá para entender? Eu duvido que tenha havido na História do Acre um governador que tenha trabalhado mais que Jorge Viana. Quero que alguém me aponte um Senador acreano melhor que Tião Viana.
Seria a "administração técnica" do Governador Binho? Não viviam reclamando da politicagem? Então, ser técnico é ruim? Não vejo em que o atual governo tenha prejudicado a administração do estado. Por acaso Binho foi pior que Flaviano? Como somos esquecidos, meu Deus... naquele governo dos anos 80 ocorreu a maior onda de miséria e suicídio no Estado causado pela fome e endividamento dos funcionários do Estado. Enormes filas nos bancos à espera de um cheque-salário que invariavelmente atrasava. E hoje o governador daquele tempo está aí, eleito, amigo dos jovens, dos pais do jovens, dos avós dos jovens... dá para entender?
Seria o desgaste natural que um grupo político enfrenta após sucessivos mandatos? Lógico que não também, porque se assim fosse, certos candidatos que se empavonam por estarem "ajudando pobre há mais de 30 anos" não teriam a menor chance.
Seria, quem sabe, o analfabetismo? Até poderia ser, se o governo do Acre não tivesse implantado um núcleo de Ensino Superior em cada município do Estado. Como pode um professor esquecer a miséria que era o salário e as dificuldades para estudar, para fazer uma faculdade, uma pós-graduação?
Definitivamente não é o analfabetismo clássico. Não aquele de letras, seria talvez o descrito por Brecht como o "analfabeto político". Por ele, é possível o elemento ter um "curso superior" e continuar analfabeto. E como cego não pode tirar cisco do olho de ninguém... Mas os números da educação apontam para uma redução no número de analfabetos... Dá para entender?
Então, seria ainda, possivelmente, uma rebeldia desse povo antes "tapado" e alienado em relação à política?
Antes o povo que era escravo, oprimido, agora não é mais. Pode-se dizer que a educação salvou o nosso povo do obscurantismo? Pode até ser, mas acho que alguém que não sabe agradecer uma graça recebida não pode ser livre. Será sempre um escravo. Um escravo da ingratidão.
A gente roda, roda, se bate, fica tonto e não entende o que acontece com o acreano.
Agora, cá comigo, eu tenho formulado algumas hipóteses:
Por aqui, não basta investir em educação, reformar escolas, prédios, em formação de professores, melhorar salários, fazer concursos públicos.
Não basta fazer estradas, pontes, obras de infra-estrutura. Para que serve uma ponte, uma estrada se o indivíduo não sabe para onde vai? Se é um tonto?
Não basta "botar luz" na casa de ninguém, luz na vida de algumas pessoas. Alguns serão eternamente cegos. E a um cego, tanto faz ser dia...
O governo do Presidente Lula fez muito por nosso Estado, muito mais do que, por nossa ingratidão, mereceríamos.
Mas faltou uma coisa, apenas uma coisa... jogar pão aos miseráveis, dar passagem, distribuir sacolão, brinquedos, dar remédio "de graça". Nosso povo não quer saber de "aprender a pescar", nosso povo acostumou-se a receber peixe de graça e ainda reclamar da qualidade.
Por aqui o que funciona ainda é o coronelismo, o voto de cabresto, o barracão, o aviamento, o borrador, o mateiro, a peixeira...
Que seja verdade, que seja assim, mas o que Lula, nem eu, nem ninguém entende, é a ingratidão. Isso é injustificável.
Então, Sr. Presidente, não perca seu tempo, o caso é gravíssimo e incurável.
2 comentários:
Passei aqui para mais uma vez lhe parabenizar pelo texto, pelo blog, e escrever o quão é o meu respeito e meu apreço, pelas coisas interessante ebelas que escreves.
Abraços e fique com DEUS
Prezado Franciney,
Tal como você também já fiquei tonto de tanto procurar entender.As vezes penso que é a junção de tudo e logo depois acho o que abstraí dos fatos políticos não tem nada a ver .Só espero que ,sinceramente, esses números eleitorais não sirvam de pretexto para a ruptura total dos avanços conseguidos até aqui, a despeito ,sim, de algumas falhas no percurso.Espero que o novo governo tenha a sensibilidade para separar o joio do trigo, para o bem do nosso amado Acre que é bem maior do que qualquer efêmera (por isso é histórica)conjunção política.
Parabéns pela coragem de expor suas dúvidas.É como diz a aquele trecho da música dos Engenheiros " a dúvida é o preço da pureza e é inútil ter certeza".Um abraço e vamos em frente.
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