Este é um blog de opinião. As postagens escritas ou selecionadas refletem exclusivamente a minha opinião, não sofrendo influência ou pressão de pessoas ou empresas onde trabalho ou venha a trabalhar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Atalhadores de vento

Uma tarde em Porto Walter, a terrível notícia: O Raimundo da Tia Fransquinha, primo do meu pai (por parte de pai) e primo da minha mãe (por parte de mãe), estava morto.


Eu devia ter já uns 13 anos e estava longe demais para compreender ou tentar compreender a morte (hoje mais perto? Hoje mais longe, certamente).


Era homem trabalhador, pai de uns cinco filhos, estava construindo uma casa maior quando durante uma tempestade, um pau caiu sobre a casa em construção e o matou.


Estive no velório e a simplicidade só não era maior que a dor de todos ali.


Meu amigo Virgulino, o hoje dedicado gerente da Real Norte, é o mais velho daquelas crianças que ficaram órfãs naquela vilazinha do alto Juruá e tocaram a vida com a dignidade comum aos cristãos e pessoas de boa família.


Dia desses, falando sobre o assunto com um conhecido, ele apresentou uma versão da tragédia que até então eu desconhecia. Para ele, a causa, a explicação para aquele temporal e tantos outros que varriam a localidade era apenas um: Os atalhadores de vento.


Segundo ele, pelo menos quatro bons atalhadores de vento residiam ali: O Seu Javam, a tia Saruê, a Dona Val e o Seu Enéas. Este último era tão poderoso, que recordo sua esposa lamentando sua ausência em casa durante um temporal, motivo pelo qual, segundo ela, colhera um enorme prejuízo quando um vento inesperado sapecou sua máquina de costura bem no meio do terreiro (pense num furacão, pense num prejuízo!). Dizia ela com as mãos na cabeça: “Se o Enéas tivesse em casa nada disso teria acontecido.” E mais: “Isso foi vento atalhado, quando ele vem assim (atalhado) é uma desgraça!”


Mas como seria isso, atalhar vento, desviar temporal? Esses poderes, antigamente, eram fartamente divulgados e respeitados na comunidade. Um bom atalhador de vento era capaz de salvar uma cidade ou no caso do Enéas, salvar pelo menos a máquina de costura.


Imagine um sujeito desses lá nos Estados Unidos, heim? Contratado pelo Ministério da Defesa só para atalhar tornados?


Penso que o New York Times estamparia numa manchete: “O furacão Marieta (já observou que furacões tem nome de mulher? Por que será? Dizem que é porque quando passam pela vida de um besta, levam tudo o que o cabra tem) ganha força no Mar do Caribe e se dirige para a costa leste americana.” E mais, explicando a manchete: “As autoridades pedem que a população não entre em pânico, pois todas as medidas já foram tomadas inclusive com a contratação de um feiticeiro brasileiro, sumidade em atalhar tornados e furacões. O atalhador de furações já treina na NASA há um mês onde tem demonstrado grande habilidade em atalhar meteoros, já tendo inclusive atalhado um satélite de comunicação russo que estava em rota de colisão com um dos nossos. O governo de Israel até fez uma proposta ao especialista brasileiro, que recusou graças a Deus e pelo bem do povo americano o FBI o mantém sob forte esquema de segurança. Os israelenses pensavam em empregá-lo para proteger Tel Aviv atalhando mísseis dos inimigos árabes.”


Pense num cabra importante!


Mas, cá comigo, que os mais antigos me desculpem, não tenho fé suficiente para acreditar num poder desses. Mas...


Durante seis anos fui Examinador de Trânsito e trabalhei com um camarada que quando o tempo levantava, ele rabiscava o chão com um graveto na direção do temporal e dizia: “Vai dar tempo terminar a baliza”. Fingia acreditar. Às vezes chovia (quando tinha de chover), às vezes não (quando não tinha).


Bem que poderia ter uns dez daqueles por aqui para atalhar além de ventos e coriscos, a inveja, o ciúme, a perseguição e as injúrias.

Bem, mas isso é fé e pelo que sei, ela ainda remove montanhas.

Um comentário:

Luíz Almeida / Manaus-Am, disse...

Amanhecia o dia em Quatro Colinas, nuvens tímidas e cinzentas começava a se formar no firmamento,os q n gostavam de trabalhar arrumava logo um pretexto, os trabalhaores independente do tempo se dirigia p sua lida, foi o caso do Raimundo da tia Fransquinha.....Começava o entardecer precoce, ventos uivantes parecia reger uma sinfonia macabra e aterrorizante... Depois o silêncio taciturno parecia envolver misteriosamente o vilarejo... Ao cair do crepúsculo a fatídica notícia corre o vilarejo, assombrando e deixando todos estarrecidos... Um galho de um "açacuzeiro" alcança o Raimundo em sua fuga da tempestade, tombando-o instantaneamente......