Um dia desses, como eventualmente faço, convidei minha esposa e fomos ao Cine Romeu. Apenas mais três pessoas tiveram a mesma idéia naquela noite e como o filme não roda para uma platéia de cinco, o gerente cumprimentou a cada um de nós pedindo desculpas e suspendeu a seção das nove, assim como já fizera na seção das seis.
Antes de descer não pude deixar de contemplar a “gamela” da praça e seu bebódromo. Ali, centenas de pessoas tomavam a sua dose de Wanderlei Andrade ou Reginaldo Rossi no melhor estilo música de corno e se abasteciam com suas latinhas de cerveja, principalmente daquela que deixa redondo.
E daí, qual é a bronca? Qual é o problema não ter havido cinema naquela noite? O que nós temos a ver com isso? Talvez você se pergunte. E eu tentarei te convencer do perigo que corremos.
Cinema em Cruzeiro do Sul era apenas uma lembrança. O último, onde já funcionara o Cine R. Tavares chamava-se Cine Chaplin e exibia basicamente filmes de Kung Fu e sacanagem. A garotada fazia a festa.
Aliás, falando em sacanagem, já torrei a memória tentando lembrar o nome ou mesmo a fisionomia do perverso porteiro que sempre me pedia documentos na entrada porque apesar de ter a idade necessária para assistir filmes daquele tipo, eu não atingira ainda o patamar de estatura que o sem-vergonha estabelecera como padrão de um maior de idade. Sadicamente ele colocava o braço na porta impedindo a entrada e quem passasse por baixo sem tocar teria menos de 18 anos e nesse caso, para não correr riscos, impedia a entrada.
Quanto ele estava enganado! Um primo meu, menor de idade, apenas porque atingira a estatura suficiente para tocar no braço do cara, nunca foi incomodado. Enquanto que eu, não podia nem pensar em esquecer a identidade... Ah, cabra infeliz, aquele!
Mas o Cine Chaplin faliu e se não abrirmos o olho, o Cine Romeu também conhecerá o mesmo destino.
Cinema é cultura. E DVD em casa, pirata, também não é? Não deixa de ser, mas sinceramente, não dá para comparar àquela tela imensa, àquele som stéreo, àquela sensação maravilhosa de fazermos parte do filme, de nos sentirmos o próprio herói.
Será que apelando aos amigos para valorizarem um pouco mais o nosso único cinema, estou correndo o risco de parecer ultrapassado? Foi o que ouvi de um intelectual. Não me darei por vencido e continuarei na batalha, pedindo aos amigos uma forçazinha para o Sr. Altevir.
Possivelmente a esta altura, você já está se perguntando o que eu estou ganhando para fazer um marketing desses em prol de um investimento privado que deve render o suficiente para continuar sobrevivendo. Absolutamente nada, além é claro, da garantia de num sábado à noite depois da missa na Catedral, pegar o elevador do Hortência Center e no último andar do prédio, comprar um ingresso, um saco de pipocas, um refrigerante e assistir a um bom filme. Filme no cinema, gente, no escurinho, sem intervalos nem propagandas, onde alguém sempre tenta empurrar o melhor produto como se ele fosse realmente o melhor produto.
Ainda que lá fora, no bebódromo, o Wanderlei Andrade continue oferecendo aos freqüentadores a sua dose de cultura. “Ele tem tudo prá ser corno.”
Um comentário:
O que posso dizer em relação ao seu blog é que ele é perfeito, abordando os mais variados temas, sempre pondo a cultura como prioridade. É bom saber que temos pessoas que se preocupam com isso, o cine romeu também me preocupa e se não fosse a perseverança do sr Altevir, provavelmente já tinha fechado suas portas! Enfim, quero aqui parabenizar-te pela excelente idéia de criar mais uma opção de cultura e entretenimento da gente.
Quando estiver afim visite o meu
www.textosetexticulos.blogspot.com
Abraços de um grande amigo e apreciador seu!
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