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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

MEU CAMARADA EM COPACABANA

O tema era corporativismo. Conversa vai, conversa vem, lembrei de um causo, que aparentemente não tem muito a ver com o assunto, mas no final as coisas acabam se encaixando:
Aconteceu com um camarada amigo meu, e a verdade é de igual tamanho da invenção, porque pelo tempo que faz, já esqueci boa parte da história, por tal motivo é que o improviso vai permear uma história tão original. Mas aconteceu mesmo, pode duvidar.

Meu camarada, legítimo representante de um partido de esquerda, sujeito simples, humilde, foi convidado para representar o seu município numa plenária do partido em Rio Branco, para, juntamente com outros camaradas mais graduados representarem o Acre num encontro nacional, com representantes de todos os estados da federação e até uma representação de Cuba, isso no Rio de Janeiro, cara!

Era sério e formal. Camisas do Che, botons do Che, chaveiros do Che, agendas, bonés e todas as conjunturas possíveis. Os discursos, a mais-valia, o materialismo histórico, a alienação do trabalhador, a ideologia dominante (que, aliás, só é ideologia porque é dominante) e por aí se consumia o tempo.

Estar no Rio de Janeiro e não poder ir à praia é uma tremenda sacanagem. Arrumaram um tempo na tarde do último dia do encontro e lá se foram nossos conterrâneos tomar banho de salmoura com bosta de carioca.

Veja só, o indivíduo já tomou banho nas melhores águas do mundo, no Igarapé Preto, no Rio Moa, até de cacimba com cuia de coité, mas, feito um abestado, precisa experenciar outras águas, apenas pelo orgulho de dizer: já estive em Copacabana! Todo castigo pra vagabundo é pouco!

Antes de entrar na água, as recomendações de praxe. Entrou no mar e era maravilhoso.
Lá vem um banzeiro (pois é, banzeiro mesmo) e, tudo bem. Mais outro, e tudo beleza, chegando mesmo a achar que água de rio, mar, igarapé, fosse tudo igual. Meu amigo esqueceu que estava no mar e de frente para a praia e diante de uma pergunta mais complexa, (o grau de complexidade do tema e a posição dos interlocutores, definiria a distração). Rapidamente começou uma plenária e antes que terminasse de pontuar o tema, um daqueles banzeiros malditos o derrubou feio, fazendo-o engolir areia, arrancando de todos gargalhadas estrepitosas. Que se alongaram quando o viram tateando na água como se houvesse perdido algo, algo valioso como um relógio, uma jóia quem sabe. Gente, o infeliz procurava a chapa. A perereca mutante se transformara em peixe e no momento do acidente aproveitou para escapar e camuflar-se.

Uma tragédia. Maior ainda porque naquela noite, o infeliz, inscrito desde o primeiro dia, representaria o Acre nos discursos de encerramento do encontro. Fechou a cara e a boca, mas garantiu que faria o discurso, com dente ou sem dente. Tentaram um substituto. Insistiu que faria. E daí? Não tinha dentes mesmo...Se não queriam passar vergonha era só tê-lo avisado do banzeiro...

Já no hotel, trancou-se no quarto e não falou com ninguém.
Começou o encontro. Momentos de tensão. Sentado na primeira fila só fazia ok, legal com o polegar. Nenhuma palavra, só ok, acenos de cabeça, uma paz de avexar qualquer monge.
Aí, pegando a Variante, para chegar mais rápido e encerrar a história , o locutor do evento anunciou o novo palestrante.

E é justamente aqui, no final da história, que entra o corporativismo. É exatamente por isso que não posso terminar a piada. Como se pode notar, isso não é coisa muito boa.

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