Há cinco anos falecia Frei
Mansueto. Quem frequentou a Universidade Federal do Acre no Campus de Cruzeiro
do Sul até 1998 sabe de quem estou falando. Quem esteve preso (ou trabalhando como eu) na Guimarães Lima
na mesma época também.
Mansueto era um homem de
autoridade, incansável e dedicado aos menos favorecidos.
Também era crítico.
Recordo que certa vez ali no pátio do acanhado campus da UFAC (onde hoje
funciona o CEFLORA e não era mais que cinco salas) calou um oficial que proferia uma palestra alusiva à semana do Exército. O pobre
oficial a certa altura, empolgado com a atenção da platéia acabou dizendo: “Senhores, o Exército Brasileiro não conhece a derrota!” Pra que..., Mansueto
pediu a palavra e perguntou: O senhor poderia falar qual guerras ele venceu? O
palestrante rapidamente citou a Guerra do Paraguai e a Campanha da Itália na
Segunda Guerra Mundial. Agradeceu pela resposta mas botou um “trava palestra”
quando perguntou: "E Canudos o senhor não cita?"
Depois, já na sala de aula,
explicou que nada tinha contra o Exército, mas é que como professor não poderia
deixar que ninguém adestrasse seus alunos com meias verdades. Valeu, Frei!
Em outra oportunidade, durante
um culto ecumênico, após fazer sua parte, teve que ouvir calado um colega
“descer a marreta” nos principais pilares da teologia católica. Diante da
agressão, todos os olhares se voltaram para o Frei, que curiosamente permanecia
indiferente. Depois da desastrada pregação,
exigiu diante do corpo docente que o colega se retratasse. Comentam que uma
parte do discurso teria sido assim: "Agora, na presença dos colegas nós vamos
discutir religião". O colega da marreta, animado, foi logo pegando a Bíblia e
preparando mais algumas marretadas, no que foi atalhado pelo Frei: "Guarde sua
Bíblia, colega, de escritura o senhor deve saber tudo, nós vamos falar é de
amor, de tolerância, de respeito". Valeu Frei, por mais uma lição!
Além de ter nos ensinado o “Pater noster, qui es in
caelis”(era professor de Latim e Filologia Românica) era também professor de
política. Gostávamos de acreditar que era comunista. Suas aulas não dispensavam
revistas como a Veja ou a Manchete. Frei Mansueto gostava de alertar quanto à
distância entre a teoria e a prática. E como estava amparado na verdade..., ah, se tava!
Por essas e outras, a lembrança do Frei é uma boa
lembrança. A celebração religiosa da nossa colação de grau (Letras/UFAC – 1996)
foi conduzida por ele no auditório do Centro de Treinamento Diocesano ao lado da Igreja
Nossa Senhora Aparecida.
(na foto de 1996, o Frei, eu e o Prof. Doutor João Carlos de Carvalho).
O Boletim Interno da Província São Lourenço de Brindes
dos Frades Menores Capuchinhos do Paraná e Santa Catarina (Brasil) assim
noticiou sua morte e um inventário da sua obra missionária com destaque à missão no Acre. (doc. em PDF pág. 75)
Na noite entre 22 a 23.6.2007,
faleceu em Santa Cruz de Aidússina (Eslovênia), frei Mansueto Bozic.
Nasceu
em Vipacco (território italiano, atualmente da Eslovênia) aos 5.8.1928, filho
de José Bozic e Teresa Kete. Continue lendo Aqui
Um comentário:
Muito legais as lições do Frei! Estamos precisando de algumas dessas por aqui! Ótima reverência a tua a ele. Valeu, amigo. Um abraço!
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