Hoje, sem barulho nenhum, Porto
Walter comemorou mais um aniversário de emancipação. Que todos tenham esquecido...
Quanto a mim, não me é permitido.
Parabéns a todos os portuwaltenses
num poema de Fernando Pessoa.
(...) Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância
pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra
vez sonho aqui...
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui
vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a
voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os
Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes
ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de
alguém de fora de mim?
Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a
alma menos minha.
Outra vez te revejo — (...) e
tudo —,
Transeunte inútil de ti e de
mim,
Estrangeiro aqui como em toda a
parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de
recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas
que rangem
No castelo maldito de ter que
viver...
Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das
sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre
desconhecida,
E entra na noite como um rastro
de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em
que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico
vejo só um bocado de mim —
Um bocado de ti e de mim!...
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