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sábado, 13 de fevereiro de 2010

Carnaval, outra vez?

Como já estamos em pleno carnaval (digo, menos os policiais, os funcionários da saúde, os agentes funerários), posto um ótimo artigo da Profª Adriane Picchetto Machado abordando o tema do consumo e abuso de bebidas alcóolicas. Vale a pena conferir:



O USO DO ÁLCOOL COMO PROBLEMÁTICA SOCIAL

O Alcoolismo é um problema de dimensões muito sérias na nossa sociedade e no mundo atual, e um dos fatores agravantes, que contribuem para o seu desenvolvimento  é a extrema tolerância (quase incentivo) com que é tratado.
O uso do álcool é visto como fazendo parte da nossa cultura, sendo a permissividade ao seu uso extrema. É considerado normal uma pessoa beber com certa freqüência e até mesmo se embriagar em ocasiões especiais (festas, comemorações, shows, etc.).
Estima-se que no Brasil, as pessoas que tem problemas com drogas (da maconha ao LSD) somam somente 0,1% da população e com o álcool a dependência atingiria 10% dos brasileiros.
Há uma relação direta do consumo de bebidas alcóolicas com  diversas doenças, o número de acidentes de trânsito e de trabalho, a diminuição da produtividade em empresas, a violência (taxa de homicídios, suicídios, agressões, infrações).
As políticas públicas sempre voltaram-se para a repressão ao uso das drogas, porém em relação ao álcool se observa uma tolerância, sendo comum a venda de bebidas alcóolicas à menores.  Em contrapartida, muito pouco se faz no campo da prevenção, através da educação para a saúde.
Infelizmente, as drogas lícitas, em particular o álcool e o tabaco foram,  através da publicidade, elevadas à condição de promotoras de sucesso, poder e bom gosto. A mídia tem um papel preponderante neste fenômeno, já que "vendem" sucesso, conquista, felicidade, ligados a condutas de ingestão de álcool ou cigarro.
O abuso de álcool pode ser considerado como o problema número um de saúde pública entre jovens. O governo, em suas campanhas, deixa claro os perigos da maconha e da cocaína e ignora o álcool.  Um dos fatores importantes que levam a esta situação é o fato de que os adolescentes sabem que não vão ter overdose e existe a comodidade de que a bebida é legalizada e de preço relativamente acessível. Também o ato de beber é visto pelos jovens como sendo um comportamento adulto, o que vêm a incentivar os adolescentes ao uso do álcool como forma de auto-afirmação.
  Certos números demonstram o alcance de tal problemática:
- hoje, no Brasil, se produz mais de 20.000 marcas de aguardente;
- em 1999, foram consumidos mais de 1.500.000 litros de bebidas alcoólicas;
- 90% da população do Brasil faz uso de bebidas alcóolicas de forma ocasional
- 30% dos que bebem apresentam abusos e problemas com o consumo
- 10% criam dependência, que chamamos alcoolismo ( Carazzai, 2000)
- pesquisa do centro brasileiro de informações sobre drogas psicotrópicas (CEBRID) mostra que 70,4% dos estudantes de 1º e 2º graus da rede estadual da cidade de São Paulo começam a beber por conta própria entre 10 e 12 anos.
- em pesquisa feita em Porto Alegre – a idade do primeiro gole é 10 anos e do primeiro porre, 13 anos.

Esta permissividade em relação ao uso do álcool reflete em outra grande problemática da nossa sociedade atual : o Trânsito. Em geral, as pessoas não consideram as alterações  no desempenho no trânsito trazidas pelo álcool como importantes, e não são poucas as tristes histórias de mortes de jovens vítimas da inconsciência e da falta de informação.
Os efeitos do álcool no trânsito podem ser devastadores, sendo que o álcool produz no indivíduo as seguintes alterações quanto às capacidades e pré-requisitos à condução segura:
1. Sob a ação de bebidas alcóolicas, ainda que em doses insuficientes para prejudicar a motricidade, os condutores se sentem corajosos, ousam mais, não consideram os riscos e têm dificuldade para considerar as possíveis conseqüências dos seus atos. podemos dizer que a percepção de risco fica comprometida.
2. Também a possibilidade de avaliar as suas próprias condições para a direção veicular se torna inexistente, desta forma, o indivíduo que se alcooliza relata ficar mais esperto depois de algumas doses.
3. O álcool inibe as funções do córtex cerebral inicialmente, produzindo no condutor um  cansaço maior do que o habitual, provocando sonolência e fadiga muscular e sensorial.
4. Pelo uso do álcool as funções sensoriais se tornam lentificadas, como o tempo de reação, julgamento, decisão, etc. Também a visão apresenta alterações, ficando o indivíduo comprometido quanto à avaliação das distâncias e velocidade.
5. Na pessoa que se encontra alcoolizada, a atenção concentrada a um único objeto produz sonolência, e no trânsito, em geral,  olhamos de forma fixa na mesma direção, outro grande risco para a direção segura.
6. No condutor alcoolizado pode haver uma importante falta de coordenação motora, transtornos de equilíbrio, diminuição do rendimento muscular e diminuição do controle dos movimentos.

E então, que cuidados devemos tomar no Trânsito?

• Não há porque tomar café forte ou amargo, leite, banho frio, dar caminhadas ou “tomar ar”.  A pessoa fica mais ativa, mas tão bêbada quanto antes. A eliminação ocorre de forma natural e é lenta, podendo levar de 06 a 08 horas.
• Nunca aceite carona de alguém alcoolizado
• Ofereça-se para dirigir se alguém que conhece não se encontrar em condições
• Tente impedir alguém embriagado de dirigir
• Nunca insista para que alguém tome mais um drinque
• Se for sair e souber que vai beber – vá de táxi
• Combine com os amigos quem será o  “motorista da vez”

Devemos, como sociedade, encarar a problemática do álcool de acordo com a ótica do problema social, de saúde pública, que é a real dimensão do uso do mesmo em  nosso país. E a possibilidade de resolução está em cada um de nós, numa mudança de mentalidade, de busca de transformação desta realidade séria e preocupante que hoje se apresenta mascarada na forma da permissividade e tolerância.

"Seria bom que a embriaguez fosse encarada como algo grotesco. Não associá-la a alegria e diversão faria muita diferença. Continuamos achando que ficar bêbado numa festa é divertido" (Vaillant, 1999)
 



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