Começa a movimentação de foliões e de cristãos.
Foliões em direção à cerveja e cristãos em direção às igrejas, aos sítios, chácaras ou ao recolhimento doméstico.
Nem preciso falar que não sou lá muito chegado a carnaval. Pelo menos não da forma que a maioria faz, mergulhando no Gamelao e na cerveja, soltando a franga e revelando certos instintos não revelados ao longo do restante do ano.
Pelo menos isso o carnaval tem de bom, que é permitir a um ser humano que por imposição social tem que parecer homem, se vestir de mulher, botar uma peruca, salto alto, um par de brincos e virar a rainha da bateria.
Hoje, enquanto estou sentado escrevendo, dezenas, centenas, milhares de aproveitadores estão fazendo contas, planejando, calculando os riscos e os lucros da venda de cerveja. Os lucros da venda da cerveja...
Ano passado, durante uns três minutos correu um boato dentro do Gamelao de que um infeliz caíra abatido por uma peixeirada bem no meio da rua.
Era verdade. Como se aquilo fosse algo natural, comum, ninguém correu, a banda de música continuou tocando, e o único incômodo que os vendedores de cerveja e proprietários dos camarotes reclamaram ao olhar aquele “corpo estendido no chão”, era pela demora do SAMU, que mal conseguia andar com o povo na frente.
Não houve tumulto, correria, pânico, como se aquela morte estivesse dentro de uma previsão lógica, racional. O SAMU levou o corpo, e como tivesse ficado no asfalto uma poça de sangue, alguém arrumou uma pá com areia e cobriu o sangue. O couro comeu até a madrugada.
Mas afinal, carnaval é uma festa do bem ou do mal? Se fosse extinta do calendário alguém morria por isso? Lembro de uma música do Antonio Marcos, chamada “Vai meu irmão”. Um trecho da letra diz:
“A festa é do demônio ou é de Deus?! / Dos dois, respondem sempre os fariseus... / A oração é pra nos redimir, / E o samba-enredo é pra nos divertir!”
Depende do uso que você fizer dela. Os católicos por exemplo, organizam seu Cristoval que é o carnaval com Cristo. Igualmente aos católicos, cada igreja organiza suas atividades para a evangelização.
Sou meio maluco, mas imagino um ano em que ao invés de bagunça, mortes, bebedeiras, permissividades e descomposturas, tenhamos um super-feriado de quatro dias em que ao final destes, os jornais não falem de um “saldo” de tantas mortes nas estradas, de tantos crimes e violências.
Como pode ser saldo o que é prejuízo? Quando acabar o maluco sou eu...
Voltarei ao tema amanha, falando sobre as origens do carnaval. Fui!
Um comentário:
Muito bem, vc definiu com maestria essa bagunça em q se transformou o carnaval. Entretanto, faltou mencionar os filhos do carnaval q daqui a 9 meses darão o ar da graça, povoando nosso pedaço de chão, miseravelmente, como quem os concebeu, sem lar, sem pai, sem terem tido a opção de escolher se queriam vir ou não.
Ainda tem as garotinhas de 14/15/16 anos q vi na rua ao passar ao lado do sambódromo no caminho p o trabalho. Nesse caso quem é o áliciador ou abusador? É quem vê uma menina dessa idade com corpo de mulher toda maliciosa e esbanjando sensualidade? ou os pais q permitem uma fedelha dessa está na rua fora de hora, sem ter responsabilidade com seu nariz??
Tire suas conclusões.
Postar um comentário