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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O homem que não matou ninguém, mas...



Era pelo início de janeiro de 1989 e as poucas coisas que funcionavam no Estado andavam obscuras. Lá pelas bandas da fronteira tinham assassinado um sindicalista e os assassinos tinham se entocado pelo mundo para não serem pegos. Dos assassinos apenas seus nomes e as fotos.
Foi nesse momento que um cruzeirense inocentemente entrou nas catracas numa operação policial.
Estava de férias na capital, “playboysando” como se diria hoje, envergando uma calça de linho e uma camisa de mangas longas da mais fina viscose, sapato social brilhando mais que lombo de pão doce e só para completar o estilo, um Ray-ban originalíssimo adquirido no Beco do Mercado.
Com voo marcado para o dia seguinte resolveu aceitar o convite de um amigo e dar uma chegadinha em Cobija para comprar uns presentes para a turma que alimentava saudades por aqui.
Tudo certo, apesar do sacolejo e das dificuldades de uma estrada de barro, sorte que o tempo andava bom e as chuvas tinham dado um tempo.
Tudo certo até quase entrar na cidade, a poucos quilômetros do antigo aeroporto Presidente Médici.
Lá estava uma blitz, não uma blitz comum, daquelas em que o guarda verifica os documentos do motorista e ainda deseja boa viagem, mas uma daquelas pente-fino, onde o motorista e todos os ocupantes do carro tem que sair escorar nele com as mãos pra cima, ser corrigido e ainda abrir o bagageiro e as sacolas para ver o policial revirar tudo.
O Opala apesar de velho, se encontrava em dias até com a Vigilância Sanitária, o amigo motorista também, o que temer? Além disso, não era homem de andar armado e como o que traziam era legal...
E tudo certo mesmo, até o momento que o desgraçado de um cabozinho ridículo, com um bigode de "espana gapó"(diz-se de bigode à moda de Saddan Hussein ou bigode de foca), cismou com a foto na sua carteira de identidade de funcionário civil do 7º BEC. (foto abaixo)
O bigode de foca chamou um sargento e ai a coisa foi subindo, esquentando, demorando, chegando ao ponto de um major, vindo sabe-se lá de onde, lhe dar voz de prisão sob a acusação de assassinato sob o qual recaía um mandado de prisão.
_ Assassinato? Major, só pode ser brincadeira ou vocês tão me confundindo com alguém, eu nunca matei ninguém, olhe o meu nome ai no documento...
_ Pois é, o seu documento complica mais a sua situação, você tá tentando sair do Estado com uma identidade falsa. Você é o assassino do Chico Mendes...
Duas ligações, primeiro uma para o comandante do exército local e outra para Cruzeiro do Sul desfizeram o enrasco, mas pense no rolo!
Infeliz semelhança física que o confundia com o criminoso do sindicalista assassinado semanas antes.

Um ponto a mais ou a menos, o causo, pensado (ou ocorrido) para homenagear um amigo meu, cabra bom, uma figura chamado Durval Vieira que do outro lá, o matador, só tinha a aparência física.  
As fotos, do ano passado, foram autorizadas pelo próprio, assim como a brincadeira.

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