Era pelo início de janeiro de
1989 e as poucas coisas que funcionavam no Estado andavam obscuras. Lá pelas
bandas da fronteira tinham assassinado um sindicalista e os assassinos tinham
se entocado pelo mundo para não serem pegos. Dos assassinos apenas seus nomes e
as fotos.
Foi nesse momento que um
cruzeirense inocentemente entrou nas catracas numa operação policial.
Estava de férias na capital, “playboysando”
como se diria hoje, envergando uma calça de linho e uma camisa de mangas longas
da mais fina viscose, sapato social brilhando mais que lombo de pão doce e só
para completar o estilo, um Ray-ban originalíssimo adquirido no Beco do
Mercado.
Com voo marcado para o dia
seguinte resolveu aceitar o convite de um amigo e dar uma chegadinha em Cobija
para comprar uns presentes para a turma que alimentava saudades por aqui.
Tudo certo, apesar do sacolejo e
das dificuldades de uma estrada de barro, sorte que o tempo andava bom e as
chuvas tinham dado um tempo.
Tudo certo até quase entrar na
cidade, a poucos quilômetros do antigo aeroporto Presidente Médici.
Lá estava uma blitz, não uma
blitz comum, daquelas em que o guarda verifica os documentos do motorista e
ainda deseja boa viagem, mas uma daquelas pente-fino, onde o motorista e todos
os ocupantes do carro tem que sair escorar nele com as mãos pra cima, ser
corrigido e ainda abrir o bagageiro e as sacolas para ver o policial revirar tudo.
O Opala apesar de velho, se encontrava em dias
até com a Vigilância Sanitária, o amigo motorista também, o que temer? Além
disso, não era homem de andar armado e como o que traziam era legal...
E tudo certo mesmo, até o momento
que o desgraçado de um cabozinho ridículo, com um bigode de "espana gapó"(diz-se de bigode à moda de Saddan Hussein ou bigode de foca), cismou com a foto
na sua carteira de identidade de funcionário civil do 7º BEC. (foto abaixo)
O bigode de foca chamou um
sargento e ai a coisa foi subindo, esquentando, demorando, chegando ao ponto de
um major, vindo sabe-se lá de onde, lhe dar voz de prisão sob a acusação de
assassinato sob o qual recaía um mandado de prisão.
_ Assassinato? Major, só pode
ser brincadeira ou vocês tão me confundindo com alguém, eu nunca matei ninguém,
olhe o meu nome ai no documento...
_ Pois é, o seu documento complica
mais a sua situação, você tá tentando sair do Estado com uma identidade falsa.
Você é o assassino do Chico Mendes...
Duas ligações, primeiro uma para
o comandante do exército local e outra para Cruzeiro do Sul desfizeram o
enrasco, mas pense no rolo!
Infeliz semelhança física que o
confundia com o criminoso do sindicalista assassinado semanas antes.
Um ponto a mais ou a menos, o
causo, pensado (ou ocorrido) para homenagear um amigo meu, cabra bom, uma figura
chamado Durval Vieira que do outro lá, o matador, só tinha a aparência física.
As fotos, do ano passado, foram autorizadas
pelo próprio, assim como a brincadeira.
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