OS JORNALISTAS E O PAPA (Por Carlos Brickmann)
Este colunista não entende a
polêmica a respeito das necessidades da Igreja Católica. Com seus dois mil anos
de vida, com mais de um bilhão de seguidores, a Igreja sabe perfeitamente do que
precisa para continuar sua jornada, e pode dispensar palpites de quem mal sabe
a diferença entre um báculo e uma hóstia. Os cardeais são selecionados pela
inteligência, conhecimentos, visão política, capacidade de articulação (pois,
se não a tivessem, não chegariam lá). Quantos poderiam enfrentar cardeais num
debate?
A Igreja Católica, Apostólica,
Romana, é o que é; quem não a aprecia, quem discorda de seus ensinamentos, não
é obrigado a segui-la. Se o cavalheiro acredita que o fenômeno da transubstanciação
é impossível e não existe, não é católico; se não acredita nos ensinamentos de
Jesus, católico não é. Exigir que a Igreja se transforme para atender aos
anseios de cada um para então segui-la é excesso de soberba.
Caso não queira segui-la, ou
siga apenas alguns de seus ensinamentos e dogmas, tudo bem, é questão de
escolha pessoal. Este colunista, como judeu, acompanha o debate teológico da
Igreja Católica à distância, apenas para estar informado. Se a Igreja desaprova
o uso da camisinha e rejeita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, é questão
da Igreja, e não influi nem sobre o comportamento nem sobre a opinião do
colunista. Ler textos em que pessoas se consideram perseguidas pessoalmente por
ser homossexuais ou por ter feito um aborto e exigem que a Igreja mude para
atendê-las é muito cansativo, incompreensível.
A Igreja, certamente, não deve
interferir na vida civil, tentando impor suas ideias a quem não seja católico
ou não queira segui-las; que emita normas religiosas, para quem as aceita, sem
querer adaptar a suas teses as leis de um Estado laico. E quem quiser viver sem
levar em conta as ideias da Igreja que seja livre para fazê-lo,
independentemente da opinião do papa, dos cardeais ou dos bispos.
Por isso é difícil entender os
partidos pró-Bento 16 e contra Bento 16 que proliferam nos meios de comunicação
- há textos em que o ódio à Igreja transparece, como um que reclama daquele fio
de fumaça negra quando o novo papa não foi eleito e o fio de fumaça branca
quando o novo papa é escolhido (na opinião do comentarista, isso contribui para
a poluição e deveria ser eliminado).
Que cada um siga seu caminho,
pronto. Aliás, este colunista vai ainda mais longe: há corrupção no Vaticano?
Deve haver, claro: uma organização deste tamanho dificilmente estaria imune aos
pecados do mundo. Mas este é um problema do Vaticano, não de quem esteja de
fora. Como dizia um jornalista de alta linhagem, o José Carlos Del Fiol, que
foi subsecretário de Redação da Folha por muitos e muitos anos, se o dinheiro
não é seu nem meu, por que vamos nos preocupar com ele?
Deve haver corrupção, deve haver
pessoas da mais alta hierarquia envolvidas com atos antissociais, deve haver
gente insuspeitíssima cometendo crimes (aliás, numa organização que teve o papa
Borgia e sobreviveu a ele, por que pessoas hierarquicamente inferiores não
teriam deslizes de menor ou maior gravidade?)
Há, claro (e muitos casos já
foram revelados publicamente), inúmeros e horrendos episódios de pedofilia -e
não é pagando indenizações, como tem ocorrido com frequência, que se obterá o
esquecimento desses crimes. É com julgamentos civis, condenações aos culpados,
tudo associado à perda de prerrogativas eclesiásticas.
Mas a Igreja Católica não teria
sobrevivido durante tanto tempo se fosse apenas isso: é também uma fonte de fé
para muitas pessoas, é também um exemplo de apreço à cultura, às artes e às
letras. Música, escultura, pintura, arquitetura, tudo da melhor qualidade,
nasceu em função da Igreja Católica; foram monges católicos que, enclausurados
em seus mosteiros, copiaram obras clássicas e permitiram que chegassem a nós.
Não gosta do papa? Continue não
gostando. Não gosta da linha da Igreja? Não a siga. Acredita em outra
divindade? Sem problemas. Discorda do celibato dos sacerdotes? Não queira ser
sacerdote - deixe esta função para quem aceite as normas disciplinares a ele
impostas. Mas gastar o papel tão caro de jornais e revistas e desperdiçar a
paciência do consumidor de informação por achar que uma instituição com dois
mil anos de idade e um bilhão e meio de seguidores tem de se adaptar às suas
preferências pessoais, convenhamos, é meio muito.
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