Sobre o Debate: Na frente e por
trás da Câmeras
As especulações sobre quem possa
ter vencido o debate são vazias. Cada torcida declara o seu candidato, vencedor. Mas inequivocamente houveram sim,
vencedores.
Em primeiro, certamente o
público. Um debate televisionado como este alçou a política cruzeirense a um
degrau acima.
Vitória também, é claro, do
Sistema Juruá de Comunicação. Uma óbvia vitória técnica por um lado e outra não
tão óbvia vitória que é da linha editorial adotada da empresa que procurou garantir
igualdade de oportunidades para ambos os candidatos.
Certamente, uma vitória
pessoal também de Nelson Liano Jr.
Artífice e cabeça do processo que culminou com o debate nas telas, Nelson
saiu-se bem no papel de moderador, produzindo o mínimo de intervenção
necessária.
Mas a maior dificuldade veio
antes do debate: não é fácil ter jogo de cintura para colocar na mesma arena
dois adversários, principalmente quando não existe esta cultura na democracia
de Cruzeiro do Sul.
Profissionalmente, meu papel foi
produzir questionamentos que pudessem ser relevantes no processo eleitoral.
Optei pela questão do plano diretor, pois se já o tivéssemos aprovado, não
sobraria muito espaço para politicagem de varejo, como por exemplo na questão
do asfalto cujo andamento de trabalho segue simplesmente a lógica demagógica da
quantidade de votos, e não o planejamento de crescimento da malha urbana da
cidade. E nisso, ambos os lados pecam.
Pessoalmente tiro minhas
próprias conclusões, e é bom que se deixe claro que as posições assumidas no
blog Terranáuas refletem opinião pessoal e não meu trabalho de jornalista.
Na minha opinião, Vagner Sales
levou vantagem do início até aproximadamente a metade do debate.
Sua linguagem mais popular, mais
presente e mais pé-no-chão tem mais alcance eleitoral, mais penetração no
público, mais fácil de ser assimilada. O domínio sobre as ações da prefeitura
sob sua gestão também lhe conferiram vantagem.
Henrique por outro lado, durante
a apresentação das propostas pareceu-me um tanto quanto vago, idealista e
sonhador demais, não para mim, mas para o conjunto majoritário do eleitorado
cruzeirense. Pessoalmente acredito que o caminho adotado por Henrique, de fazer
de Cruzeiro do Sul uma referência nacional e até mundial, pelas suas potencialidades
humanas e biológicas, através do ecoturismo e da produção diferenciada, não é
apenas o melhor caminho, como o único possível para que Cruzeiro do Sul cumpra
o seu destino, seu propósito existencial, por assim dizer, de capital florestal
do Alto Juruá.
No entanto, pelo andar nas ruas,
nota-se que o eleitorado ainda não está maduro
e para esta imensa maioria, as propostas parecerão devaneios pueris.
Raramente o ribeirinho, ou o morador desempregado das periferias irá
estabelecer uma relação entre o "ecoturismo" e uma possibilidade real
e concreta de melhora de vida para sua família. Para estes só vendo para crer,
e as vezes mesmo vendo ainda não se crê.
Vagner também se saiu melhor ao
responder as críticas de Henrique sobre aspectos de sua gestão. Municiados de
números das ações de sua equipe, Vagner tinha quase sempre uma resposta na
ponta da língua, embasando a idéia (falsa ou não) de que Henrique de fato não
vive tão intensamente o dia-a-dia de Cruzeiro do Sul.
Talvez por este desconhecimento,
Henrique perdeu diversas oportunidades de uma investida mais incisiva em
Vagner, como por exemplo na questão dos Postos de Saúde. O fato de estarem
sendo construídos diversos postos, não explica por exemplo, o funcionamento
precário dos que já existem e muito menos como se farão funcionar os novos
postos. Mas a oportunidade escapou entre os dedos do desafiante.
O debate contudo, pendeu a favor
de Henrique quando o assunto passou a ser os supostos desvios de recursos da
gestão de Sales e os processos de improbidade administrativa a qual responde na
justiça. Vagner ficou visivelmente alterado culminando com os segundos de
silêncio que se seguiram a partir da pergunta de Henrique sobre o "Ficha Limpa". O extremo nervosismo
de Sales resultou no pedido de
retirada de Chico Melo dos
estúdios. Segundo Vagner, este o estaria "atrapalhando". Francamente,
de onde estava, vi apenas que Chico Melo havia levantado um papel na direção de
Henrique, mas é provável que tenha feito alguma "cara estranha" ao
ver a palidez de Vagner. Todos nós fizemos. A pergunta de Henrique foi um
legítimo tiro à queima-roupa.
Por duas vezes Vagner mais uma
vez quis usar o fato de que Henrique tenha vendido sua casa própria e que não
tenha declarado sua nova casa.
Henrique não quis explicar o
motivo da venda de sau casa própria, pois correria o risco de parecer piegas e
sensacionalista. Henrique não pode falar mas eu posso: ele vendeu sua casa para
custear o tratamento de um de seus filhos adotivos, que sofre de uma forma
particularmente virulenta e incurável de câncer no sistema linfático.
O tiro também saiu pela culatra
quando Vagner chamou Henrique de mentiroso por não ter declarado sua casa
própria, recentemente comprada. pela legislação ele só é obrigado a declarar a
partir do próximo ano.
"- Se quiser entrar na
justiça, entre, vai perder o seu tempo!" Fuzilou Henrique.
Um outro ponto favorável à
Henrique foram a questão das emendas. Vagner tentou colar a ideia de que
somente contam como recursos para Cruzeiro do Sul, aqueles que passam pelas
suas mãos através da prefeitura. Henrique respondeu à altura, mas poderia ter
sido mais claro para o eleitorado.
Em geral, acredito que o debate
serviu para que a população conhecesse melhor os candidatos. No entanto, como
um eleitor indeciso, na minha opinião Henrique não me convenceu de que possa
ser um melhor administrador do que Vagner, exceto por um aspecto: a
mal-versação de recurso público. Vagner pelo seu turno, também não convence de
que seu segundo mandato possa ser melhor que o primeiro. Na verdade tende a ser
pior, com o foco voltado exclusivamente para a eleição de Antônia Sales e sua
própria possível eleição para Dep. Federal, outro ponto que Henrique não soube
explorar.
O "Lunático" X O
"Macumbeiro"
Do lado de fora, a oportuna
presença da PM evitou que o acirramento das tensões entre os partidários
pudessem partir para o campo físico, mas não impediu, obviamente a troca de
impropérios entre as torcidas.
A torcida do azul, por exemplo,
chamou Henrique de "doido", "lunático" e "aluado".
A acusação de lunático partiu de
um ex-assessor e ex-aliado de Henrique, Marcos Neto. Evangélico e Ufólogo (não
acreditava que era possível ser as duas coisas) ele deve conhcer bem do
assunto. Afinal quem se dedica a estudar Objetos Voadores Não-Identificados
deve de fato ser capaz de identificar se um sujeito é proveninete da Lua,
Marte, Vênus ou quem sabe, do cinturão de asteróides.
Por outro lado, o time de
laranja lançou contra Vagner as acusações de "ficha suja" e
"macumbeiro".
Não entendi porque os laranjas
estavam gritando "fora macumbeiro" e perguntei a um dos partidários,
o porque da acusação.
-"É porque o pai de Antônia
Sales era o maior macumbeiro!"
- "Puxa, essa eu não
sabia." Disse.
A palavra "macumbeiro"
é um termo perjorativo que inclui centenas de práticas mágico-divinatórias e
curativas com as mais diferentes finalidades e intensidades. É um termo
impreciso e carregado de preconceito que deveria ser abolido do mesmo modo que
os "crentes" conseguiram substituir pela expressão "evangélico",
por moldar-se mais às suas necessidades de identidade social.
Desconheço qual tipo de
"macumba" possa ter feito o pai de Antônia Sales, mas uma coisa é
certa: a magia ucayalina merce respeito. Em Pucalpa não tem político, artista
ou empresário que se preze que não tenha o seu "brujo". Faz parte da
rica cultura selvática e o que o povo do Tawantinsuyu faz desde antes dos primeiros cristãos
pisarem nestas bandas, deveria ser alvo de respeito e não de deboche. No Peru
há um ditado que eu gosto muito "O peruano não acredita em magia, ele a
faz".
Merece respeito também porque se
o 'brujo" fez algum trabalho para ajudar Vagner e Antônia Sales,
aparentemente está dando certo.
Se Vagner fosse capaz de
declarar publicamente que é um adepto de 'brujeria", eu talvez fosse até
capaz de votar no 15. Algo que certamente ele não o fará, pois o meu voto não é
mais importante do que o de milhares de "crentes" que abominam tudo
aquilo que desconhecem. Vitória da hipocrisia, uma vez mais.
Um comentário:
Como dizia um certo filósofo e acredito piamente, CADA POVO MERECE O GOVERNO QUE TEM. O povo não é burro, porém, aje como sendo burro, e vai continuar assim por, sabe-se lá Deus até qdo. Wagner Sales, na minha humilde opinião é uma cópia mal feita de Amazonino Mendes. Populista, oportunista, enfim... E tem a sorte de contar com um eleitorado que a grande maioria tem como lema: "Rouba mais faz" O povo não aprende, e provavelmente n vai aprender nunca, é lamentável...
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