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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Há 100 anos...

No dia 7 de Setembro de 1912 o prefeito Rego Barros (Cap. Francisco Siqueira Rego Barros) inaugurava o Cais do Porto de Cruzeiro do Sul.
Não adianta procurar por aí. Provavelmente esta será a única manifestação de lembrança por parte de algum cruzeirense, muito menos de quem deveria lembrar a promover a valorização da cultura e da história de Cruzeiro do Sul. 
Ainda bem que está acabando o tempo de quem não tem tempo de  cuidar melhor da nossa história, do nosso passado. Eu entendo, infelizmente eles estão estão ocupados demais pensando no futuro dos próximos 4 anos.

No livro Nos Confins do Extremo Oeste, do Gen. Glimedes Rego Barros (filho do prefeito e que aqui chegou ainda criança), está a justificativa da obra que transcrevo:

"A sua construção foi um dos primeiros atos de Rego Barros. Obra modesta, como tudo mais, que possibilitavam os parcos recursos, verdadeiros óbolos consignados nas doações orçamentárias. 
Foi projetado e construído sob a sua direção, tendo como auxiliar o Ten. Tomé Rodrigues, da Companhia Regional.
A tradição oral afirmava ser o único existente às margens dos afluentes do Solimões.
Num resumo escrito em 1940, o seu idealizador dizia que 'era constituído de um pavilhão ou hangar sobre colunas de ferro, coberto com telhas de ferro zincado. Do passeio, em sua frente, ao nível da praça Visconde do Rio Branco, partia o piso constituído de planos com aproximadamente 4 metros de largura, até a barranca propriamente dita do rio, onde foi levantado o pavilhão. Do seu centro saía a escada até o nível das águas quando das maiores vazantes'...
Quanto aos 'sólidos alicerces' dizia: 'há 28 anos (em 1940) que resistem a enchentes do Juruá...' Ao escrever estas linhas já são decorridos 70 (em 1982) e ele continua firme, porém inútil para a função precípua, devido ao assoreamento do rio na sua frente.
O pavilhão era dotado de bancos de madeira e se destinava ao trânsito de passageiros.
'Iluminado à noite, para lá afluíam aqueles desejosos em apreciar a correnteza do rio ou nas noites enluaradas, quando as palestras eram por vezes animadas com jogos diversos, música ou danças'. 
Era também o local preferido para as alegres quermesses das 'Damas da Caridade' sob a presidência da minha mãe, uma associação filantrópica de amparo à infância e aos anciãos carentes.
Igualmente, conferências ou palestras se realizavam nesse ponto de encontro de namorados e seresteiros. Exercia assim o papel de pracinha das cidades interioranas.
Quanta tranquilidade, simplicidade e solidariedade desse grupo social que não conhecia ainda o rádio e muito menos a TV, que com as suas intermináveis novelas acabaram emparedando as famílias em suas residências, influindo, inclusive, no relacionamento dos seus próprios componentes. 
E o velho cais, em sua singeleza, retratava aquele sossego. Constituiu-se no marco de uma época de paz e prosperidade". 
(ipsis literis do livro Nos Confins do Extremo Oeste, de Glimedes Rego Barros lançado pela BIBLIEX em 1982. Páginas 113-117)
Algumas imagens do agora centenário Cais. Algumas imagens foram reproduzidas da própria obra citada.

O prefeito Rego Barros
 O Cais já na década de 80 com o Juruá se distanciando.

Do interior do Cais a visão da modernidade do Samambaia Club
 Vapor Juruá um dos que atracavam no Cais.

E hoje, o Cais está abandonado por quem deveria cuidar mais dele, afinal foi uma obra da prefeitura há exatos 100 anos. A última vez que um administrador olhou com zelo para o local foi na administração do prefeito Cesar Messias quando sofreu sua maior restauração. Depois..
Quando da reinauguração em 2002.

E hoje...













Um comentário:

Jairo, o Nolasco disse...

É que cuidar do patrimônio histórico não rende votos. A prioridade então fica em encher de remédios para dor de cabeça quem na barriga só traz lombrigas...Se não fosse por vc, meu caro Franciney, passaria esta data em imaculado branco.Parabéns.