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domingo, 29 de abril de 2012

Bolota e a História que fala

Estamos tentando montar um canavial lá pelas bandas da Vila Santa Rosa. Graças a esse empreendimento doméstico, sem recursos do Ministério da Agricultura, ontem à tarde lá em Mâncio Lima, conheci o Bolota, um dos últimos "senhores de engenho" do Juruá.

Francisco Bernardo Correia, o Bolota como gosta de ser chamado, nasceu em Russas/CE em 11 de janeiro de 1927.
 
Filho de José Bernardo Cordeiro e Francisca Bernardo, chegaram em Mâncio Lima, antiga Vila Japiim, em 1930 juntamente com 41 pessoas financiados pelo "Coronel" Mâncio Lima que buscava conterrâneos para tocar seus roçados. "Desses 41 que vieram só tem 4 vivos, eu e três irmãs minhas - Maria de 96 anos, Luzia de 94 e a Chiquinha de 93, mas se for contar mesmo, hoje já passa de 1000 pessoas."

"Eu já fui escravo". Diz sorrindo, já explicando de que forma: "Com 10 anos eu já era `tangerino` do Luiz Felipe, um patrão que tinha aqui e produzia 600 kg de açúcar por dia, só de cana piojota, ganhando apenas 2 kg de açúcar por dia".

Viúvo de Adalgisa Rebouças Cordeiro com quem foi casado por cinco anos e não teve filhos. 

No alto Rio Môa, no Seringal República, casou com Rosali Evaristo da Silva do povo Nukini. Do novo casamento, que dura eté hoje, tiveram 5 filhos, todos bem sucedidos. 

Na República, cultivou um grande canavial e montou um engenho de ferro para produzir açúcar. Curiosamente, o engenho foi adquirido de Luiz Felipe, seu antigo patrão por 12 contos de réis. 

Durante o governo Sarney, com a nova constituição e a criação do Parque Nacional da Serra do Divisor, foi obrigado a abandonar (sem indenização) o seringal se fixando definitivamente em Mâncio Lima.
 
A vocação para a cana de açúcar o levou a manter um pequeno canavial (de onde retiramos as mudas) e um engenho artesanal nos fundos da casa situada na Avenida Japiin próximo ao Colégio São Francisco.

Bolota é um homem admirável, um senhor de 85 anos com a energia de um garoto. Bolota e sua maneira alegre e franca é a História que fala. Fala de muitas coisas, principalmente de uma época de heróis.          


3 comentários:

Alma Acreana disse...

Franciney,
interessante a história do Bolota, nossa história viva, como tantas por aí 'ofuscadas' pelos "Grandes Heróis" do Acre.
Um valioso recorte histórico.´
Salve nosso Juruá!

Abraços!

silvioafonso disse...

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Eu venho muito ao seu blog
para saber das novidades a-
través dos textos que escre-
ve.
Tenho como hábito frequen-
tar a mesma página mas não,
deixo comentários como ras-
tros. Hoje, no entanto, resol-
vi agir deferente e por isso
gostaria que você me visitas-
se e se possível, seguisse o
blog do Palhaço Poeta que é
meu.

Obrigado,

Palhaço Poeta.
(silvioafonso)





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Antonio José Nunes disse...

É interessante a história do Sr. Bolota, que conheço desde que me entendo por gente, lá nas margens do rio Moa no seringal República. Quero acrescentar a força e a criatividade que quem o povo do Juruá: Essa engenhoca que aparece na foto,foi construida aqui em CZS numa oficina de fundo de quintal pelo Sr. Osmar Nunes (meu Pai) e depois comprada pelo sr. Bolota por R$2000,00. O Sr. Bolota pagou parte deste valor vendendo caldo de cana, de um canavial que ele tinha atrás de sua residencia aqui e CZS.