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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

PORQUE NÃO SOU MARCELO TASS
Texto de Marcelo Longo*

Na falta de munição, a estoica resistência antilulista reduzida a 4% da população brasileira, tem lançado mão de velhas armas que já deram o tiro pela culatra da reeleição do Lula. Petistas e lulistas em geral, doidos para eleger a sucessora indicada pelo líder, agradecem.

Da minha parte, continuo acreditando que faz muita falta ao país uma oposição inteligente e consequente. Já escrevi sobre isso e quando se criou o PSOL até exortei petistas a considerar os benefícios de uma nova linha de esquerda que oferecesse ao eleitorado e à população em geral novos parâmetros, desenvolvesse novos paradigmas para futuras evoluções da tão retrógrada percepção política nacional, há 500 anos monitorada pela mesma elite ainda quase medieval. Eu disse quase?

Pra minha decepção, só o que mudou é que ao contrário de quando o Amazonas se desentendeu com o Prestes e criou-se o PCdoB, a Heloísa Helena foi sentar no colo do que há de mais reacionário na direita brasileira!

Não que eu fique com ciúme, pois esse negócio de mulher que diariamente usa blusa de rendinha branca, abotoada até o pescoço, sempre me cheirou a encrenca. Mas logo o Arthur Virgílio?! Mais à “esquerda” que isso, só a Eva Braun!

Por essa razão fiquei todo animado ao receber um desses reaproveitamentos bélicos dos demotucanos, assinado pelo Marcelo Tass. Nunca havia lido o Tass; mas, apesar de seu programa na Bandeirante me parecer uma versão dos Mamonas Assassinas com pretensões de jornalismo político, aprendi a admirá-lo quando minha filha Lucinha não perdia o Rá-Ti-Bum por nada. E adorava um professor não lembro das quantas, personagem interpretado pelo Tass.

Na versão desse ano, até que o programa do Tass na Bandeirante voltou um pouco melhor. Não digo isso porque nos que assisti puxaram o saco do Lula, o que seria de esperar: quem não vai querer aproveitar o vácuo dos 96% de popularidade do Presidente para avançar na corrida pela audiência? Até o Serra, se tiver chance.

Nas edições do CQC que assisti no ano passado, procurei manter a impressão de que futuramente Tass viria a ser aquilo o que Jô Soares deve ter sonhado na vida, mas não lhe alcançou o conteúdo.

Lamentavelmente, nesse texto percebo que o Marcelo Tass sofre do mesmo problema do Jô. Confesso que gostei muito do Jô em seu início. Chamava-se Jô Show e ainda era em branco e preto. Isso deve ter sido lá pelos anos 60... Mas nas décadas seguintes o Jô Soares foi definhando, definhando, até virar esse gordo vazio e cheio de ventos da fatuidade que todos conhecem, mas ninguém mais tem saco pra assistir.

Além de oposição política consequente, outra coisa que faz muita falta nesse país é vida inteligente na mídia. Principalmente no humor. Melhorzinho e que nas raríssimas vezes em que me cai na mão, procuro na Folha de São Paulo, é o Macaco Simão. Despretensioso e bastante repetitivo, mas consegue me fazer rir.

De resto: tédio total! Pra se divertir um pouco só restam os William Waack, as Lúcia Hipólito e Mirian Leitão mesmo. Isso sem contar, é lógico, com a Eliane Catanhede que depois da massa cheirosa do PSDB fez por merecer o primeiro lugar do quadro Top Five do Tass. Mas tem de ser o Top Five do Ano, ainda que mal tenha começado este promissor ano eleitoral.

Pois foi por essas e outras que quando recebi o texto assinado pelo Marcelo Tass, com o título: “Porque não sou PT”, fui ler ansioso de encontrar alguma crítica apropriada com humor inteligente.

Quê decepção!

Por esse texto, fica difícil imaginar para o quê servirá o Tass.Já começa plagiando o que eu sempre acreditei como incomparável idiotia de outro. Pois nesse texto, o Tass chegou junto. Nem isso! Chegar não chegou, pois não fez esforço nenhum. Simplesmente copiou!

Será que, com o caso Arruda, já deu pro Tass ter alguma prévia do que se trata? Ou já terá esquecido o Arruda como no texto demonstra ter se esquecido das privatizações? Da promessa de venda da Petrobrás com a reserva do Pré Sal de brinde?

Esqueceu também, ou não conseguiu perceber, dos interesses de quais “trabalhadores” estiveram envolvidos no caso Alstom e os governadores de seu próprio estado? Tantos enroscados ali, ao seu lado, por qual razão divaga nos enroscos do presidente da França? O que é que esse rapaz andava usando na época em que escreveu esse texto?

Quem haveria de se querer como alguém que se autoassume tão totalmente néscio que nem tenta entender como uma nação inteira, numa primeira eleição após quase 3 décadas impedida de exercer a democracia, leve para segundo turno o candidato de um partido que, na debilidade do Tass, é entendido como de gente que não faz nada na vida.

É verdade que o extinto e meteórico PRN do Collor de Melo nunca havia feito coisa alguma ou sequer existido, mas todo mundo sabia que o verdadeiro partido do Collor era o que só mais tarde Paulo Henrique Amorin reconheceu como PiG, o Partido da Imprensa Golpista. Roberto Marinho declarou isso: “Nós o colocamos na presidência”. Impossível que Marcelo nunca tenha sabido disso!

Se Lula, então, perdeu apenas para a associação de esforços das 4 famílias detentoras do estrito monopólio de comunicação e informação do país, vencendo os mais tradicionais movimentos políticos da história do Brasil, como o getulismo ali representado por ninguém menos que Leonel Brizola, o maior ícone depois da morte do próprio Getúlio; certamente não foi porque, como sugere Tass nesse infelicíssimo texto, um dia Lula tenha aparecido na porta da fábrica para combinar com seus “cumpanhero”:

“- Oi aqui, ô Florestan, você é o mais conceituado do país na sociologia; e você, Freire, já tá consagrado pelo mundo como dos maiores pedagogos da história; e você, ô Sérgio, além de ser o mais importante historiador do Brasil já tem um irmão famoso como dicionarista e um filho famoso como sambista... Então vamô juntá aqui cum os cumpanhero das oficinas e vamo fundá um partido político. É porque o Frei Beto, o Dom Paulo e o Boff disseram que vão dar uma força, já tá tudo acertado lá em Recife com o Dom Helder e vai ser uma boa porque daí a gente não precisa fazer mais nada na vida. Já chamei o Suplicy, o Mercadante, o Dirceu, o Genoíno, o pessoal todo. Ah! O Vicentinho também tá nessa. Ele e o Bittar. Tem mais uma turma aí: tem o Tarso lá de Porto Alegre, o Olívio. Tem o Palmeira lá do Rio, um tal de Chico Mendes do Acre. O Singer, o Apolônio, a Conceição Tavares, essa raça toda. E essa gente tá doidinha pra fazer um partido político pra não ter mais de trabalhar, nem o que fazer na vida.”

Claro que não dá para fazer aqui a relação inteira dos fundadores do PT, mas é difícil compreender como pode um pretenso jornalista ignorar o significado histórico desses a que chama de vagabundos!

Que o Cony, o Alexandre Garcia, o Boris Casoy e outros dessa geração se passem por estúpidos para defender os interesses de seus patrões, justificando melhores salários, vá lá! Estão mesmo perto da aposentadoria e o negócio é faturar o que puderem no fim de carreira. Mas alguém com tanto futuro pela frente como o Tass, se prestar a fazer papel de total beócio, incapaz para o exercício de qualquer atividade que exija desenvolvimento de raciocínio elementar, é muito triste!

O pior de tudo é que o tonto não só escreveu, como (pasmem!) fez editar. Como alguém que se queira jornalista pode publicar um texto de própria lavra onde demonstre não ter a menor noção do que tenha realizado um dos mais notáveis dirigentes sindicais de sua época, em todo o mundo? Eram apenas dois: o Lula e o Lech Wallesa.

Wallesa promoveu a greve do estaleiro de Gdansk, fez a central de trabalhadores Solidarsnosk, mobilizou os poloneses e com o apoio de seu patrício papa, o Karol Wojtyla (João Paulo II), tornou-se o primeiro Presidente da Polônia depois da ditadura comunista. Foi uma presidência fracassada e Wallesa hoje está esquecido.

Lula promoveu a maior greve da história do país; criou a CUT, talvez a maior central sindical do mundo; promoveu o maior movimento de massas da história do Brasil: o das Diretas Já; fundou o segundo partido trabalhista da história política do país (o primeiro foi o PTB de Getúlio Vargas); e como não teve o apoio de ninguém, muito pelo contrário, foi o terceiro presidente eleito democraticamente depois da ditadura nazista.

Hoje, além de indicado como Estadista Global pelo Conselho de Davos, possui tantos títulos de honra e mérito, concedidos por academias e instituições públicas e privadas internacionais, que seria fastidioso relacionar a metade. É verdade que essa bobagem que torna a circular, Tass escreveu lá por 2006, quando Lula ainda só recebera algumas dessas honrarias; mas se fosse minimamente inteligente, já que fez questão de se declarar tão anti PT, não devia deixar tamanha brecha para que aqui, eu, que nem sou petista, fale sobre Lula ser o Presidente mais reconhecido e homenageado internacionalmente que tivemos em toda nossa história.

É como dizia o Serra: tem de ter capacidade para fazer. Então, se vou malhar o Serra, não deixo brecha pra tucano botar azeitona na minha empada. E se deixar, é porque quero comer a azeitona na volta. Aí eu pergunto: quanto pagam por estes textos mais cheios de buraco do que queijo bola? No Brasil se pratica o maior desperdício de verba de marketing político do mundo! Vou propor à Dilma Roussef que me prepare um clipping de cada texto desses. É material suficiente para duas eleições garantidas. Nem precisa maiores informações sobre programa e propostas de governo, tá tudo fornecido nas besteiras que essa gente escreve e fala pelas rádios e emissoras de TV.

E o jovem jornalista que, por amor à Lucinha, um dia imaginei inteligente, descubro no que escreve que não passa de mais um informante desinformado! Mais um comunicador desconectado! Um formador de opinião que se revela sem opinião formada sobre as funções e utilidades dos sindicatos.

“Que será um sindicato?” – pergunta-se o Tass naquele estilo de adolescente sequelado, em que aqui se especializa – “Quem inventou? Os gregos? Os romanos? Os etruscos?”

Num lampejo ou arranco, deduz: - “Os soviéticos, é claro!” – mas, recaindo em dúvidas sobre a própria astúcia: “E se foi o Fidel Castro? Quem sabe o Chavez?”

E o mais incrível é que o cara não só escreve isso, como (pasmem!) faz publicar. Não foi em qualquer Veja, Folha ou Estado de São Paulo, não! Se apenas houvesse proferido tais besteiras pela TV, como faz o Arnaldo Jabor, tudo bem. Passava batido. Mas não! O mané fez questão de publicar no próprio blog!

Tô pra ver alguém dando caô maior em si mesmo! É coisa de fazer avestruz enfiar a cabeça na pedra! Vá ser assim despojado de inteligência lá adiante! Fosse aqui, toda mão que saísse pra rua, alguém ia perguntar: - Tás tolo, Tass?

Pobre Lucinha! Certamente não contava com tamanha estupidez no interprete de seu personagem preferido quando criança. Melhor se, ao invés do Ra-ti-bum, tivesse passado suas tardes infantis assistindo ao Chapolin Colorado.

*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta, colabora com a Agência Assaz Atroz

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