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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Datafolha, cartomantes e realejos

Está cheio de gente por aí vaticinando que a eleição presidencial acabou, vai dar Dilma Rousseff mesmo, não tem mais jeito. E está cheio de gente por aí dizendo também que o Datafolha não vale nada porque em 2006 Lula estava bem à frente de Geraldo Alckmin neste mesmo momento da campanha, e dali para frente Alckmin subiu muito e Lula não ganhou um único voto. Ou então, o que é pior, que o Datafolha só deu o que deu porque não "captou" a performance de Serra no Jornal Nacional.

Bem, há argumentos para todos os gostos e este blog lamenta dizer que estão quase todos furados.

Em primeiro lugar, a eleição não está decidida ainda. O horário eleitoral na televisão e no rádio é fundamental e decisivo. Se a propaganda de Dilma for um desastre, se a candidata chamar eleitor de burro, como fez Ciro Gomes, se for flagrada com R$ 2 milhões em cash, como ocorreu com Roseana Sarney, é óbvio que perde a eleição, talvez até no primeiro turno. Se nada disto ocorrer, porém, a tendência é mesmo de Dilma vencer o pleito, pois tem sido assim em eleições presidenciais desde 1989 - quem largou na frente no início do horário eleitoral, ganha a eleição. Foi assim com Collor, Fernando Henrique, duas vezes, e Lula, duas vezes.

Os argumentos oposicionistas chamam atenção pelo ridículo. Alckmin nada tem a ver com Serra e só subiu nas pesquisas graças à lambança dos "aloprados", às vésperas do primeiro turno. E também, em parte, à ausência de Lula nos debates finais, da rede Globo. O que aconteceu em 2006 foi um acidente: Lula teve de enfrentar o segundo turno graças aos erros do PT, muito mais do que aos acertos da oposição, que já nem esperava a passagem para o segundo escrutínio e ficou meio mês pensando no que fazer...

Agora, o cenário é bem diferente e a lógica desta eleição é simples: o povão quer continuar na mesma toada, gostou do que viveu nos últimos anos. E a cada dia que passa, Dilma Rousseff é associada, por Lula, pela mídia, pelos demais atores do processo, como a candidata do presidente. Serra tentou uma estratégia, inteligente, até, de não bater em Lula e se apresentar como mais preparado para tocar o barco. Ocorre que a associação de seu nome com o de Fernando Henrique Cardoso derruba esta idéia de "continuismo pela oposição", e, ademais, o que o povão queria mesmo era a permanência de Lula, de maneira que ele se tornou o Grande Eleitor deste processo.

Ao contrário do que imaginam os mais exaltados, não há nada de errado nisto. É do processo democrático o presidente lutar para fazer o seu sucessor. É o que Lula tem feito. Quem não o fez, porque não queria a vitória de Serra, foi Fernando Henrique Cardoso. Fosse Pedro Malan o candidato, FHC estaria em cada birosca pedindo votos para Malan...

Tudo somado, a coisa está mais para Dilma, mas Serra ainda tem chances, cada vez mais remotas. O maior risco para o tucano é Marina começar a levantar uma onda de simpatia no campo da oposição. Se nas próximas pesquisas Marina cresce e Serra cai, pode haver um fenômeno semelhante ao que elegeu Luiza Erundina, mas desta vez apenas provocando a desidratação da candidatura do PSDB. Na melhor das hipóteses, Serra consegue "desconstruir" Dilma logo nos primeiros dias, correndo o risco de uma estratégia que utiliza o ataque como arma e deixa a adversária como vítima. E por fim cumpre lembrar que o tempo agora corre a favor de Dilma, contra José Serra.

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