Quem sou eu para julgá-las? Essa
pergunta ficou na minha cabeça desde que ouvi do Papa Francisco a seguinte
frase a respeito do tema “gay”. Disse ele:
“Se uma pessoa é gay e procura
Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O catecismo diz que não se
deve marginalizar essas pessoas, devem ser integradas à sociedade. Devemos ser
irmãos.”
Diante do tema, acho oportuno partilhar
aqui um artigo publicado num dos maiores jornais do Brasil.
GAYS NA JORNADA MUNDIAL DA
JUVENTUDE – Clóvis Rossi
(Publicado na Folha de São Paulo
de 28/07/2013)
Apresento seis jovens invisíveis
entre os milhares que vieram participar da Jornada Mundial da Juventude.
Chamam-se Delfin Bautista, Amelia Blanton, Lauren Carpenter, Ellen Euclide,
Megan Graves e Sara Kelley.
Fazem parte do coletivo batizado
"Igualmente Abençoados" e estão no Rio para "despertar a
consciência a respeito dos temas de gênero e sexualidade na vida dos católicos
e, ao mesmo tempo, desafiar os ensinamentos danosos e as práticas pastorais que
desumanizam, em vez de celebrar a bênção que são lésbicas, gays, bissexuais e
transexuais para a igreja e para o mundo".
A dificuldade que a igreja tem
para lidar com a temática LGBT fica outra vez evidente no fato de que a pequena
tropa do "Igualmente Abençoados" ficou invisível na JMJ, apesar de o
carnaval midiático ter apresentado nos últimos dias uma coleção de personagens.
Descobri o grupo apenas graças
ao National Catholic Reporter, publicação especializada em Igreja Católica,
dirigida por John Allen Jr., vaticanista que esta Folha eventualmente usa para
análises sobre sua especialização.
O coletivo escolheu um nome
perfeito. Não parece razoável que mesmo o mais refratário a LGBTs negue que
eles são "igualmente abençoados" por Deus. Indiretamente, até
Francisco o admitiu ao usar trecho do Evangelho de João, na sua alocução na
Comunidade da Varginha, para dizer que Jesus Cristo veio "para que todos
tenham vida, e vida em abundância".
Todos são todos,
independentemente da orientação sexual. E o que os "Igualmente
Abençoados" pedem é precisamente viver a sua vida, da forma que
escolheram, dentro da Igreja Católica, e não como marginais maltratados e dela
expulsos.
Sei que os conformistas dirão
que o papa não vai mudar posições rígidas tradicionalmente adotadas pelo
Vaticano. Acredito até que não vá mesmo.
Mas deveria ser coerente com a
sua própria palavra, sempre na Varginha: "A realidade pode mudar, o homem
pode mudar", afirmou.
Além disso, o pontífice foi
"absolutamente direto e intrinsecamente provocador", para um dos
grandes do jornalismo argentino, Gustavo Sierra ("Clarín"), em sua
mensagem aos jovens argentinos com os quais se reuniu na quinta-feira.
É uma interpretação de fato
cabível para o trecho em que o papa diz: "Quero que saiam à rua a armar
confusão (lío, em castelhano), quero confusão nas dioceses, quero que a igreja
saia à rua, que a igreja abandone a mundanidade, a comodidade e o clericalismo,
que deixemos de estar encerrados em nós mesmos."
Uma igreja que vá à rua
fatalmente encontrará os "igualmente abençoados", encontrará mulheres
que querem um papel menos marginal nas atividades da igreja, para não falar dos
pobres aos quais Jorge Mario Bergoglio se refere sempre, desde os tempos de
Buenos Aires.
Visitá-los nas "villas
miseria", as favelas portenhas, não mudou um ápice a situação de
indigência desse outro tipo de invisíveis.
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