Ontem, na missa das 7 da manhã e após
60 anos de serviço religioso (começou em Porto Walter), o conterrâneo Alberto Brito anunciou a aposentadoria.
Vai aposentar da obrigação de
abrir e fechar a catedral, mas duvido que consiga participar de missas sentado
ali por baixo como toda gente comum faz.
Duvido. Duvido que durante as missas ele resista à boa tentação de tocar os
sinos durante a consagração.
Para registrar a bela
contribuição e o seu exemplo de serviço religioso, posto um texto escrito por Juracy Xangai e publicado
no
site Página20 de 16 de outubro de 2005.
Os sinos da Glória
Há 53 (60) anos, Alberto
Rodrigues toca os sinos da catedral de Cruzeiro do Sul
Além de tocar o sino, Alberto é
também ministro da eucaristia da Igreja
Cruzeiro do Sul acorda às cinco
horas da manhã com as potentes badaladas dos sinos da Catedral de Nossa Senhora
da Glória.
Assim começa mais um dia na vida
de todos os cruzeirenses e de um em especial: Alberto Rodrigues de Brito,72
(81) anos, pai de oito filhos e que há 53 (60) anos é o responsável por tocar
os sinos anunciando missas, novenas, mortes e até a escolha de um novo papa.
Nascido na comunidade de (Campo de) Santana, no seringal Cruzeiro do Vale, morou ainda alguns anos em Porto Walter,
ali, antes de partir para Cruzeiro do Sul onde chegou em sete de abril de 1952,
aprendeu com um certo “Luiz” que trabalhava na igreja local, a arte de tocar
sinos.
Assim o jovem ex-seringueiro
chegou a Cruzeiro de emprego certo para tocar os sinos da antiga matriz
localizada no Alto da Glória, onde mora até hoje. Dali parte todas as madrugadas,
pontualmente às 20 para as cinco, a fim de tocar o sino da catedral.
Com simplicidade ele esclarece:
“Tocar sino não tem segredo, só é preciso saber qual é o tipo de batida certa
para cada ocasião”, esclarece. A chamada aos fiéis para missas é repetida três
vezes com intervalo de cinco minutos entre cada uma. “Cada chamada conta três
badaladas no sino, a última acontece cinco minutos antes do início da missa ou
novena”.
Ele lembra que na antiga matriz
do Alto da Glória havia um carrilhão de três sinos, mas na Catedral há apenas
dois: um de som grave e outro agudo. Domingo é o dia em que mais se ouvem os
sinos, pois há missa às seis, às 8h15min e às 19h30min. De terça a sexta-feira
elas acontecem às seis da manhã.
Quando morre alguém o toque dos
sinos se faz com badaladas lentas e bem compassadas. As batidas são no sino
menor quando é corpo de mulher e no sino maior se for homem. Anjinhos, ou seja,
o enterro de crianças mortas é anunciado com repique no sino menor. “O sino é
tocado até que o corpo esteja dentro da nave da igreja para ser encomendado”.
Ele também marca ocasiões tão
especiais quanto a morte e a escolha de um novo Papa e, para isso também há um
toque especial. “Seja na morte ou no momento em que se anuncia o nome daquele
que foi escolhido para ser o novo papa nós tocamos os sinos em repique”.
Mas vida de tocador de sino tem
lá suas aventuras como esclarece seu Alberto. “Muitas vezes a corda do badalo
escapa do sino então não tem jeito, tenho de subir por essa escada estreitinha
até lá em cima para que esteja funcionando quando for hora de tocar de novo”. A
aventura está em subir os mais de 40 metros da catedral a qualquer hora do dia
ou da noite porque o sino não pode deixar de tocar.
Outro acidente, ou quase isso, é
o fato de que vez por outra algum adolescente não resiste a tentação de tocar
os sinos, já que por não haver torre naquela catedral, a corda fica junto aos
bancos em que se sentam os fiéis. Roubam nessas ocasiões a cena que por direito
pertence a Alberto e, isso ninguém discute.
Mas como não podia deixar de
ser, a vida também prega peças nos tocadores de sino conforme relata seu
Alberto sempre bem humorado: “Acordei numa madrugada desci para a igreja e
toquei o sino às quatro horas da manhã pensando que já eram cinco, acordei a
cidade uma hora antes. Fiquei mais tranqüilo quando soube que o padre Égon que
tocava o sino da matriz, antes de mim, também fez a mesma coisa. Acontece”.
Faz-tudo - Além de tocar os
sinos da Catedral, Alberto é também ministro da eucaristia, leva comunhão à
casa ou onde estiverem os enfermos, quando o padre não está faz ele a encomenda
os corpos dos mortos na igreja ou na casa das pessoas. Também na falta de
padres para rezar missa faz um culto dominical para atender os fiéis.
Ele faz questão de explicar que
quando jovem, já em cruzeiro do Sul trabalhou como carpinteiro, mas passou a
dedicar-se totalmente aos trabalhos da igreja, assim criou os oito filhos ao
lado da esposa Maria Randélia Braga de Morais Brito que era professora desde os
tempos do antigo território. “Meus dois filhos, Alberam e Alberto, são músicos
e tocam violão e outros instrumentos, eu sou o único da família que toca sino”.
Um comentário:
Que saudades... Teu Blog encurta distancias, faz com que o coração abraçe a saudade.
Seu alberto é uma figura, vozeirão com sotaque carregado de firmeza, aqueles benditos que só ele sabe o ritmo, aquelas orações de velório que só ele sabe declamar e mais um monte de coisa que só o Sr. Alberto sabe.
Tava no páreo Alberto Brito (Cruzeiro) e Sebastião Correia (Porto Walter)! O segundo ainda está na ativa e pelo andar da carruagem ainda vai muito longe.
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