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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Em Cruzeiro do Sul o carnaval é na "Gamela". GAMELA?

Antigamente, até o final dos anos 90, na frente da Catedral de Cruzeiro do Sul havia uma modesta pracinha. Era a "praça de baixo"(Praça da Integração), em   oposição à "praça de cima" (Praça da Bandeira) onde em agosto era realizado o novenário. 

Aos sábados, depois da missa da noite, era na praça de baixo que os jovens paqueravam. Dali, dependendo do sucesso nas "conversadas" o destino era a praça de cima e dependendo da sorte, o cais, para "terminar o serviço".

Descrevo em parte situações vividas por jovens pobres, sem transporte (incluindo bicicletas e mobiletes), pois os ricos já ostentavam pelas ruas suas MLs ou Todays e levavam suas companheiras para o Plaza ou Cê-Ki-Sabe, os melhores motéis da cidade.

Isso até acertadamente mudarem o novenário para a Praça da Integração e construírem a Praça do Centro Cultural. 

Acontece que de maneira escrachada, como sempre, o povo já faz uma piada. Pode ser o que for, de procissão a velório, tem sempre alguém fazendo uma graça. Lembra do "Festival da Mandioca" (ou macacheira, nem lembro ao certo) que o ex-quase-tudo Aluízio Bezerra inventou? Era cada uma...

Pois bem, por essas gracinhas é que rapidamente o Centro Cultural (que na conta dos puxa-sacos nos últimos 3 anos em qualquer evento realizado pela prefeitura reúne mais de 15 mil pessoas) passou a ser conhecido como GAMELÃO e esse ano em particular, apenas GAMELA. 

De tanto o povo falar, a imprensa e as autoridades ligadas à segurança pública em suas entrevistas sedimentaram os termos: GAMELA, GAMELÃO, GAMELEIRA(ops! assim um repórter descuidado, ao vivo, falou).

Mas foi GAMELA, o nome que me motivou a fazer esta reflexão. Principalmente porque lembrei que GAMELA a menos que o significado tenha mudado, sempre foi o prato do porco.

Poderia encerrar por aqui, mas como não estou muito apressado...
Imaginando que o significado pudesse ter mudado, pesquisei no google e selecionei duas fontes. Uma delas é do dicionarioinformal:


Gamela -Vasilha de madeira, utilizada principalmente utilizada para dar comida a porcos, galinhas e outros animais domésticos. Ex.: Dê ração aos porcos na gamela.

Tem sido na GAMELA que o povo cruzeirense tem recebido dos “seus donos” as rações de “pão e circo”. É no carnaval, no Dia das Mães, no Dia das Crianças, no Natal e no Ano Novo, que os miseráveis vão aplaudir seus deuses – deuses aproveitadores, demagogos e carrascos.

No Ano Novo a bestialidade chega ao extremo. Milhares de coitados prendem a respiração enquanto o dono da festa faz a contagem regressiva: “...Quato, treizi, doizi...” e aplaudem enquanto do Alto da Glória os tiros das bombas torram nossa riqueza.

Já a outra, do Wikipédia, embora reforce a idéia de “vasilha para alimentar animais”, apresenta um elemento novo, desconhecido para a maioria das pessoas. GAMELA como um termo da política brasileira:

Gamela é uma vasilha com a forma de uma tigela ou bacia, esculpida em madeira retirada de árvores cuja madeira é macia, um exemplo é a gameleira.
Pode ser redonda ou ovalada e é utilizada, quer na alimentação humana, como prato ou vasilha para levar a comida à mesa, quer para dar de comer aos porcos, para banhos, lavagens e outros fins.
Apesar de construção aparentemente simples, a gamela, que atualmente é utilizada apenas por pobres ou como ornamentação em casas mais abastadas...
Victor Nunes leal, autor de Coronelismo, Enxada e Voto, também empregava o termo de gamela para compreender o processo de apatrinhamento político das famílias tradicionais (filhotismo).

Olha só a mensagem subliminar no nome GAMELA. Apadrinhamento político, famílias tradicionais, Coronelismo... meu Deus, que semelhança...!

Ver um carnaval do palanque ou da “beirada da Gamela” é sentir vergonha de ser cruzeirense.

É sentir pena de um povo que feito animais vai esperar sua cota de ração.

Olhar para o palanque é sentir nojo dos que fazem questão de aparecer, de se lançarem candidatos com três anos de antecedência, de ser visto pelos animais, pelos porcos, para que estes não esqueçam quem é ainda o dono dos porcos.

De Centro Cultural a GAMELA... Eis uma prova da sabedoria do povo.

Não há mesmo um nome mais apropriado para LOCAL ONDE SE DÁ RAÇÃO AOS ANIMAIS E ONDE É POSSÍVEL SE PERDER A DIGNIDADE.

De Praça do Centro Cultural a GAMELA... Doravante GAMELA, para toda a eternidade...

Um comentário:

Jairo, o Nolasco disse...

kkkkkkk depois desta nunca mais verei o local "com os mesmo olhos". Adiós, gamela e suas encrencas. Muito bom.