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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Escrevi o poema abaixo há mais de 15 anos. Poucas vezes escrevi algo tão profundo e verdadeiro.
Na época eu ainda não sabia, mas ele foi escrito para hoje. Na época, assim como hoje, eu ainda não conhecia a infelicidade, mas pelo menos agora ser infeliz já não me aterroriza tanto.
Se pelo menos eu pudesse recomeçar...
Diria sim, ao invés de não. Diria não ao invés de sim. Ou, não diria nada, e não teria conhecido a felicidade.
Triste é quem alguma vez sentiu inveja de mim.


Teus Poemas
Queres ser poeta?
Serás um poeta.
Escreverás como ninguém.
Queres uma puta?
Terás um harém.
Minha felicidade?
Toma também as minhas aparências
Minhas máscaras, meus crimes.
Sonhas com uma estátua,
Um busto na praça,
Uma medalha com teu nome gravado?
Te asseguro também tais regalias.
Mas sabes do amanhecer,
Do entardecer, do espaço além?
Não te angustia a pequenez
Da imensidão do mundo?
Teus poemas não sobrevivem a uma olhada fugaz
Não tem a cor do sangue
A tessitura do vento
O cheiro de relva, de esgoto, de química.
Não comportam sentimentos.
A ciência literária?
Teus poemas não sobrevivem ao paralelo.
Serás um poeta.
Mas teus poemas terão apenas o tamanho do poeta
A religião que ele perdeu 
E os sonhos que ele não pôde sonhar
(Quatro Colinas, pg-35)

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