Na época eu ainda não sabia, mas ele foi escrito para hoje. Na época, assim como hoje, eu ainda não conhecia a infelicidade, mas pelo menos agora ser infeliz já não me aterroriza tanto.
Se pelo menos eu pudesse recomeçar...
Diria sim, ao invés de não. Diria não ao invés de sim. Ou, não diria nada, e não teria conhecido a felicidade.
Triste é quem alguma vez sentiu inveja de mim.
Teus Poemas
Queres
ser poeta?
Serás um
poeta.
Escreverás
como ninguém.
Queres
uma puta?
Terás um
harém.
Minha
felicidade?
Toma
também as minhas aparências
Minhas
máscaras, meus crimes.
Sonhas
com uma estátua,
Um busto
na praça,
Uma
medalha com teu nome gravado?
Te
asseguro também tais regalias.
Mas sabes
do amanhecer,
Do
entardecer, do espaço além?
Não te
angustia a pequenez
Da
imensidão do mundo?
Teus
poemas não sobrevivem a uma olhada fugaz
Não tem a
cor do sangue
A
tessitura do vento
O cheiro
de relva, de esgoto, de química.
Não
comportam sentimentos.
A ciência
literária?
Teus
poemas não sobrevivem ao paralelo.
Serás um
poeta.
Mas teus
poemas terão apenas o tamanho do poeta
A
religião que ele perdeu
E os sonhos que ele
não pôde sonhar
(Quatro Colinas, pg-35)
Nenhum comentário:
Postar um comentário