Este é um blog de opinião. As postagens escritas ou selecionadas refletem exclusivamente a minha opinião, não sofrendo influência ou pressão de pessoas ou empresas onde trabalho ou venha a trabalhar.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Um "príncipe" não deve manter a sua palavra se esta lhe é prejudicial...


Diante da reportagem acima, da TV Juruá, sob o título “Fiscais da prefeitura expulsam camelôs do centro da cidade” em outros tempos eu diria “quem for tatu que cave, quem for macaco que trepe”, mas quero me solidarizar com os camelôs do centro da cidade.
Não que morra de amores por camelôs, que tenha esquema para defendê-los, que ganhe algum desconto em alguma bugiganga que só eles vendem. Nem sei ao certo, mas suponho que por alguma razão de humanidade e compaixão que me tocou ao ver o desespero de uma senhora que se vê diante de algo maior que sua valentia de mãe e mulher – a retirada do seu ponto.
Diante do perigo ela evoca pela sua fé, não a fé em Deus como se poderia supor, mas a fé num líder ainda mais poderoso se tratando de negócios que envolvem camelotagem e fiscais da prefeitura – o prefeito.
Só o grande líder poderá salvá-la, portanto ela o cutuca, dando-lhe a oportunidade de ser (pelo menos) igual ao Aluízio e a Zila Bezerra, que até incomodaram, mas nunca a perseguiram como “agora”.
Aprendi que melhor que julgar, ou antes disso, melhor mesmo é tentar se colocar no lugar do outro e avaliar o que ele está passando. A reportagem já nos coloca no lugar dos camelôs, mas gostaria de pelo menos neste caso, me colocar no gabinete do prefeito. Para uma pessoa tão humilde, que entende como ninguém o sofrimento dos miseráveis, deve ser uma peça terrível de julgar. Como também sou humilde, nascido numa vila humilde do alto Juruá, como também já fui analfabeto (até os seis anos de idade) e conheço como ninguém o sofrimento dos miseráveis, vou arriscar.
Em primeiro lugar, procuraria saber exatamente onde é que os eleitores, digo, os camelôs, estavam acampados, tipo assim, qual é a calçada de qual supermercado ou comércio eles estão ocupando.
Depois, buscaria informações sobre qual candidatura o comerciante incomodado apoiou na última eleição.
Se ele consta entre os doadores da campanha, se é fornecedor, se vende fiado, se estamos devendo a ele e se ele reclama muito.
Quantos são os camelôs (para calcular o tamanho da manifestação e do piquete).
Quanto (em anos) falta para a próxima eleição, (para calcular se até lá, há tempo suficiente para o assunto morrer e ninguém mais lembrar do caso).
Pediria a cabeça do “desaforado” que levou ou deixou levar ao ar aquela cena ridícula de uma mulher chorando diante da câmera para comover a população.
Pesaria todas as medidas, cuidadosamente, levando em conta principalmente, o impacto nas urnas, o prejuízo causado por uma medida tão impopular e desgastante que é o confronto com camelôs.
Talvez até falasse (antes de me assegurar que não tinha nenhuma câmera ligada): Bando de ‘felas’ da puta...!  quem sabe, Se não saírem vou mandar descer a porrada...! ou ainda, Se reclamarem digam que podem meter o voto deles no...!
Talvez, dependendo do caso, procurasse algum livro interessante na minha estante para me aconselhar. Pensando bem, para não errar, melhor pagar logo o meu favorito - O Príncipe, de Maquiavel. Veja se Maquiavel não combina comigo:

“Cada um entende que é muito louvável para um Príncipe manter sua fé e viver integramente, não com ardis e enganos. Contudo, vê-se por experiência que muitos Príncipes se tornaram grandes porque não levaram em grande conta sua fé, e souberam, por ardil, enganar o espírito dos homens e, por fim, sobrepujaram os que se fundaram na lealdade[...]
Não é pois necessário a um Príncipe ter todas as qualidades supracitadas, mas é preciso que pareça tê-las. E até ousaria dizer, que se as têm e as observa sempre, elas lhe trazem danos, mas fazendo de conta que as têm, então são proveitosas, como parecer ser piedoso, fiel, humano, íntegro, religioso e sê-lo, mas detendo então seu espírito de modo que, se for preciso não sê-lo, possa e saiba usar o contrário.
Um príncipe é freqüentemente obrigado, para manter seus Estados, a agir contra a sua palavra, contra a caridade, contra a humanidade, contra a religião. É por isso que é preciso que ele tenha o entendimento pronto para mudar, segundo os ventos da fortuna e as variações das coisas lhe pedem e, como já disse, não se afastar do bem se puder, mas saber entrar no mal, se há necessidade.
O Príncipe deve, pois, cuidadosamente tomar cuidado de que nunca lhe saia da boca propósito que não esteja pleno das cinco qualidades que citei acima e parecer, a quem o ouve e vê, misericordioso, fiel, íntegro, religioso. E não há coisa mais necessária que a de parecer possuir essa última qualidade.
Os homens em geral julgam antes pelos olhos, porque cada um vê o que aparece, mas bem poucos têm o sentimento do que você é  e estes poucos não ousam contradizer a opinião do grande número, que tem do seu lado a majestade  do Estado que os sustenta, e como o pequeno número não conta, quando o grande número tem em que se apoiar .
Que um Príncipe se proponha, pois, como seu objetivo, vencer e manter o Estado: os meios serão sempre considerados honrosos e louváveis por cada um. Um Príncipe de nosso tempo, que não é bom nomear, não canta outra coisa senão paz e fé; e é grande inimigo de uma e de outra, e se de uma e da outra tivesse observado bem, não teria tirado daí seu prestígio e o prestígio de seu Estado”.

Rapaz, que texto atual, que autor verdadeiro... Por isso Maquiavel é o  guia espiritual e político (visto que eles confundem) de quase todos os nossos líderes. 
Mas, voltando à reportagem, é uma pena ver justamente os que cultivam maior fé, diria até, fanatismo em relação ao futuro e aos mil anos de paz e prosperidade, se decepcionarem em tão pouco tempo. 
Ah, e sobre ter que decidir sobre o futuro dos camelôs, Deus me livre de ter que decidir uma coisa dessas. Melhor ser, ou tentar ser eu mesmo e pensar e agir livremente. Melhor deixar cada um decidir com o peso das suas responsabilidades ou dos seus compromissos.

Nenhum comentário: