Cavalos na avenida?
Estive nos desfiles de 7 e 28 de Setembro. No primeiro faltou o povo e no segundo, faltou organização, faltou brilho, faltou criatividade.
No dia 7, é verdade, amanheceu serenando e com exceção dos militares e daquela onça amarrada em cima daquele carro e de algumas autoridades, ninguém mais. Uma parada militar que ninguém viu.
Fiquei pensando, que para representar o Dia da Independência do Brasil a comemoração deva ser daquela forma mesmo, como o ocorrido num barranco do igarapé do Ipiranga lá em São Paulo. Procurei um boiadeiro com seu carro de bois. O Seu Edilsom bem que poderia ter sido chamado e aí aquela pintura do Pedro Américo, “O Grito do Ipiranga”, elaborada muito tempo depois, em 1888, já no final do Segundo Reinado, estaria presente e bem representada. O 7 de Setembro foi essencialmente, como quase todas as nossas datas cívicas, um evento das elites. Uma parada militar.
No dia 28, o povo esteve.
Olha, eu devo estar envelhecendo mesmo, porque não acho a menor graça botarem alunos para marcharem como militares, crianças de oito ou doze anos seminus, meninas e meninos representando índios, ou cavalos montados por irresponsáveis embriagados cagando a avenida e emporcalhando tudo com uma fedentina horrorosa.
Seria engraçado se não fosse cruel admitir que nossos professore continuam reproduzindo em suas aulas uma “história-exaltação”, que exalta a figura do índio (idealizada infelizmente),como forma de disfarçar a opressão. Fica chato, né? Primeiro exterminamos os índios e depois, pintamos as crianças para representá-los?. Isso não pode estar certo.
Quanto ao fato de botarem as crianças para desfilar, três-a-três-alinhados, devo lembrar que isso ainda é resquício daquele tempo que para ser presidente o cara tinha que ser general. Não tenho a menor simpatia por eles, mas lá na terra do Destino Manifesto, e do Bush, no Dia da Independência, quem “desfila” é o cidadão, que vai às ruas com sua bandeira, a sua fantasia e expressa o seu orgulho, e a dignidade de quem lutou por algo e conquistou.
E fechando o desfile, a irresponsabilidade dos motoqueiros e dos cavalos montando seus cavaleiros, ou vice-versa. Me diga, com sinceridade, qual a relação cultural e histórica que o Aniversário da Cidade tem com cavalos e motos? Ë muita esquisitice, é muita falta de criatividade. Como é que um pai ou um mãe consegue ficar tranquilamente com o filhinho no braço a centímetros de um cavalo desembestado no meio da avenida? Ë irresponsabilidade dos pais também.
Os organizadores do evento sequer disponibilizaram uma corda para o isolamento da avenida. Tudo bem, não morreu ninguém ainda, mas apostar na consciência de um cavalo é querer demais, principalmente se o indivíduo que monta o cavalo tiver uma lata de cerveja na mão.
Um comentário:
Essa sem dúvida, foi a melhor até agora, vejo o quanto você mergulhou fundo em uma das mais tradicionais festas de Cruzeiro do Sul e no quanto o roteiro da comemoração não faz o menor sentido. Ou eu nasci velho ou nunca teve a menor graça em ver tudo como sempre foi, embora perceba que melhorou no fato de ser a noite, porque antes era debaixo de um sol escaldante, onde crianças passavam desmaiavam e a vendedora de quibe fazia de sua bacia um sombrinha.
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