CANDIDATOS DE ARRAIAL
Recentemente fiz a releitura de Nada de novo no front, uma obra de um escritor que conheci no curso de História. Essa obra é uma espécie de relato de um soldado alemão numa trincheira durante a Primeira Grande Guerra (1914-1918). Por aqui fica a história.
Por estranho que pareça, o título me fez divagar sobre a dureza da guerra, comparável hoje ao período eleitoral que estamos a participar, como civis indefesos, como estrategistas, como espiões ou como um combatente paramilitar cabo eleitoral.
Quero falar de política e embora as campanhas de hoje, tenham se tornado uma guerra infinitamente mais sangrenta que a primeira guerra tecnológica, não pretendo reler A ARTE DA GUERRA muito menos O PRÍNCIPE ou PINÓQUIO. Caso você queira se aprofundar em política não pode deixar de ler os três.
Como já fui professor de História, não poderia deixar de contextualizar o tema. E próximo do pleito municipal, analisando os nomes que se apresentam para concorrer às cadeiras na prefeitura e na câmara concluo que, com poucas surpresas (e é por duas dessas surpresas que vou procurar o meu título), infelizmente, pouco existe de novidade no front.
Tenho observado que as pessoas se candidatam pelos mais diferentes motivos:
Alguns podem até negar, mas não há quem me convença de que, sendo funcionário público, está mais é interessado no afastamento das funções que a lei obriga e assegura até o dia da batalha.
Arriscar sobre o futuro não é lá algo muito sensato para qualquer vivente, nem as academias tem cursos na área da adivinhação, mas dá até pena de ver uns coitados, que por mais lunáticos que sejam não possam prever a mais remota possibilidade do fracasso.
Tem os que se julgam mais inteligentes que a maioria e acham que os eleitores vão continuar engravidando pelos ouvidos acreditando em potocas ou projetos mirabolantes para a nossa realidade. Imagine que um ex-amigo meu, pretende SE ELEITO FOR, estimular o esporte e entre esses esportes, pasmem, o hipismo em Cruzeiro do Sul. Gente, o que é isso, política é coisa seria! (séria é modo de falar. Entenda séria, também, como sinônimo de dureza, entendeu?).
Um outro, SE ELEITO FOR também, pretende incentivar a plantação de soja no município. Por favor, será que poderia ser a transgênica? Pelo nome, deve ser a mais bonita.
Há entre eles, os que se candidatam apenas para ajudar seus caciques, ou como eles dizem o partido ou a legenda. Perguntinha idiota: Você sabe o que é essa tal legenda? Não consultei o dicionário, mas acredito que seja a maior autoridade em assuntos eleitorais, talvez uma juíza eleitoral extremamente mal humorada, que tem tanto poder que pode garantir a posse de um candidato com 500 votos no lugar de um candidato com 1000 votos. E aí, diga lá?
Agora, existem os candidatos de novenário. Imagino que você esteja pensando que me refiro à ala dos políticos na procissão anual de Nossa Senhora da Glória, não é? Bateu na trave, mas foi para escanteio, (o que não significa que não possa terminar em gol). Vejo em certos candidatos a mesma ilusão que via em conterrâneos meus na distante e inesquecível Porto Walter da minha infância.
Em Porto Walter por ocasião do novenário de Nossa Sra. da Imaculada Conceição, certos pobres, mais pobres que a maioria, tiravam terreno no arraial (pagavam pela concessão) e estabeleciam seus empreendimentos comerciais na forma de um botequim, uma pensão ou um bastidor. Tudo muito sério, respeitoso e profissional, como um artista compondo um personagem, o infeliz organizava o espetáculo. Tirava palha para o seu botequim, armava, cobria, fazia o balcão, sortia as prateleiras, e adormecia pensando no espetáculo do lucro. Para no fim das contas calcular o valor do prejuízo, fazendo água por todo lado, depois da ressaca voltar aos roçados de barranco, aos lagos, às caçadas, à mendicância. Para esperar o outro ano.
Pois se não dava futuro ter botequim no arraial, por que os pobres não abriam mão de ter o seu? Era por loucura, bobagem, tolice? Depende da altura que você estiver observando.
Suponho que pelas mesmas razoes que alguns lambaios de hoje se candidatam. Para ter pelo menos durante o novenário, ou seja, durante a campanha eleitoral, a ilusão do poder, das facilidades do poder, onde tudo é possível, de falar o que se quer e de quem se quiser e na altura que bem entender, sem medir conseqüências. De poder ser patrão, de ter votos, de ter importância.
Pelo menos enquanto durar a ilusão.
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