José Luiz Teixeira (*)
A compra das Casas Bahia pelo Grupo Pão de Açúcar, realizada
recentemente, seria proibida na minha ilha.
Assim como a "Utopia", de Thomas Morus, também tenho na
imaginação uma pequena porção de terra cercada de água por todos os lados na
qual estabeleceria minha sociedade ideal.
Ali não seria permitido que uma só pessoa ou grupo fosse dono de
grandes corporações - como está acontecendo agora com o empresário Abílio Diniz
que passa a deter, sozinho, o controle de várias redes de lojas de varejo do
Brasil.
Na minha ilha, cada cidadão só poderia ter uma unidade de cada
coisa - seja lá o que fosse.
Só poderíamos ter uma casa, um carro, um sítio, um supermercado,
um barco, um banco, um ônibus, um avião, uma fábrica e assim por diante.
Devo esclarecer que não tenho nada pessoal contra Abílio Diniz,
homem que merece admiração por seu extraordinário talento empresarial.
Cito-o apenas como exemplo, com a seguinte questão: por que só ele
precisa ter todos os supermercados que existem?
Não poderia ser apenas o proprietário da unidade da Praça
Pan-americana, no Alto de Pinheiros, em São Paulo , uma das mais chiques da rede?
Somente com a renda desse ponto, imagino que levaria o mesmo
padrão de vida que tem atualmente, com casa, sítio, barco, viagens,
incluindo-se aí até eventuais caprichos de sua jovem esposa.
Os demais supermercados da rede pertenceriam a pessoas diferentes,
todos integrados obviamente a uma cooperativa para que mantivessem a eficiência
do negócio.
Perderíamos um bilionário; em compensação, ganharíamos vários
ricos, todos eles consumindo praticamente os mesmos bens de consumo do Abílio
Diniz.
A indústria e o comércio venderiam mais lanchas, mais carrões, os
restaurantes caros estariam mais cheios...
Outro exemplo para ilustrar o sistema econômico da minha ilha: os
ônibus. Por que todo o transporte coletivo de uma cidade precisa ficar nas
mãos de três ou quatro empresários que acabam monopolizando o setor?
Seria muito melhor se cada ônibus tivesse um proprietário, como já
ocorre em São Paulo
com as cooperativas de ex-perueiros.
Parece que essa experiência está dando certo, apesar das guerras
que eles travam entre si por território e linhas da periferia. Mas essa é outra
história.
O fato é que não se pode dizer que um perueiro, dono de seu
próprio micro-ônibus, seja rico. Não se pode negar, igualmente, que ele esteja
melhor de vida do que um motorista assalariado.
Há muitos outros casos a comprovar que nesse sistema (capitalista,
é bom lembrar) a distribuição da riqueza seria mais justa.
Poderia me alongar no assunto, mas quero poupar de mais devaneios
aqueles que tiveram a paciência e a generosidade de chegar até o final desta
crônica.
E antes que alguém me mande ser utópico naquele lugar (na minha
ilha, espero), que me responda: por que não?
Teríamos mais milionários, mais ricos, mais classe média e, sem
dúvida, os pobres não viveriam na...(perdão, presidente, pela má palavra)
miséria.
* José Luiz Teixeira é jornalista. Formado pela Faculdade Cásper
Líbero, trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais as rádios
Gazeta, Tupi e BBC de Londres, e os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Folha
da Tarde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário