Kambô: a criminalização de um conhecimento
Leandro Altheman
Tomei minha primeira “vacina” em 1998. Em São Paulo, aplicado por um ex-seringueiro do rio Liberdade: Francisco Gomes Muniz. Foi uma verdadeira benção. Livrei-me de uma gastrite que já me incomodava há pelo menos uns três anos. Foi como se tivesse dado um “refresh” na minha memória corporal. Nunca me esqueço de quando abri os olhos depois desta aplicação: foi como se os estivesse abrindo pela primeira vez.
Na época, cursava a Faculdade de Jornalismo e um dos assuntos em pauta era a biopirataria. Vi ali naquele caso, um exemplo vivo de um conhecimento indígena com potencial terapêutico e que poderia ser alvo dos “biopiratas”. Acompanhei o trabalho de “seu” Chico em diversas capitais brasileiras. Seus “pacientes” relatavam melhoras em problemas de circulação, respiração, digestão, etc.
Nos anos seguintes vi o Kambô virar uma espécie de “febre”. Nas grandes cidades, todo mundo queria tomar e aqui no Juruá, onde falta quase tudo, inclusive emprego, vi o kambô se tornar uma espécie de promessa na vida de muita gente. Gente que não teria a mínima chance na vida a não ser carregar sacos na cabeça em alguns dos comércios de nossa cidade, mas que com o kambô, pôde desenvolver um trabalho próprio e dignamente pagar o sustento de seus filhos.
Vi também muito excesso. Gente que se iludiu e passou a iludir os outros. Sem o conhecimento adequado, a oferecendo esta medicina em São Paulo, Manaus, Espanha. Era uma espécie de “galinha dos ovos de ouro”.
Enquanto isso a ONG Amazon Link com sede em Rio Branco, denunciou que laboratórios dos EUA e Japão haviam patenteado pelo menos duas substâncias encontradas na secreção do Kambô: A deltorfina e a dermorfina. Uma delas, capaz de reduzir os efeitos da má circulação e outra capaz de imitar o comportamento das endorfinas e auxiliar no tratamento da depressão.
Em
2002, colaborei com os Katukinas em uma chamada ao Ministério do Meio
Ambiente. Por um lado, eles estavam preocupados com a rápida
popularização deste conhecimento. Por outro, queriam desenvolver seu
próprio estudo e o reconhecimento desta sabedoria.
A partir daí foi criada uma comissão no MMA para o estudo deste conhecimento tradicional.
Infelizmente,
as coisas fugiram totalmente ao controle. Onde as “leis de mercado”
falam mais alto, não há tempo para se regularizar uma prática que ainda
que milenar, não possuiu nenhum tipo de histórico nos grandes centros.
Sendo assim, o mais fácil, é proibir. Proibir algo que ainda nem sequer se conhece direito. E assim, o Kambô vira caso de polícia.
Cria-se então um novo tipo de “criminoso”: o aplicador de Kambô. São novos criminosos também as pessoas que coletam a substância na floresta e os que promovem as sessões de terapia nos grandes centros. Tudo resolvido com “carimbaço” de “biopirata” do IBAMA e da ANVISA. E enquanto isso, os grandes laboratórios desenvolvem uma nova linha de medicamentos que em breve estarão nas prateleiras das farmácias pelo mesmo valor absurdo que hoje eu e você pagamos por exemplo pelo “Legalon”, desenvolvido a partir de uma planta medicinal de uso popular, o “Cardo Santo”. E a promessa de se viver a partir da Floresta sem destruí-la, soa cada vez mais distante, uma ilusão bonita que um dia tolos como eu, acreditaram.
Tomei minha primeira “vacina” em 1998. Em São Paulo, aplicado por um ex-seringueiro do rio Liberdade: Francisco Gomes Muniz. Foi uma verdadeira benção. Livrei-me de uma gastrite que já me incomodava há pelo menos uns três anos. Foi como se tivesse dado um “refresh” na minha memória corporal. Nunca me esqueço de quando abri os olhos depois desta aplicação: foi como se os estivesse abrindo pela primeira vez.
Na época, cursava a Faculdade de Jornalismo e um dos assuntos em pauta era a biopirataria. Vi ali naquele caso, um exemplo vivo de um conhecimento indígena com potencial terapêutico e que poderia ser alvo dos “biopiratas”. Acompanhei o trabalho de “seu” Chico em diversas capitais brasileiras. Seus “pacientes” relatavam melhoras em problemas de circulação, respiração, digestão, etc.
Nos anos seguintes vi o Kambô virar uma espécie de “febre”. Nas grandes cidades, todo mundo queria tomar e aqui no Juruá, onde falta quase tudo, inclusive emprego, vi o kambô se tornar uma espécie de promessa na vida de muita gente. Gente que não teria a mínima chance na vida a não ser carregar sacos na cabeça em alguns dos comércios de nossa cidade, mas que com o kambô, pôde desenvolver um trabalho próprio e dignamente pagar o sustento de seus filhos.
Vi também muito excesso. Gente que se iludiu e passou a iludir os outros. Sem o conhecimento adequado, a oferecendo esta medicina em São Paulo, Manaus, Espanha. Era uma espécie de “galinha dos ovos de ouro”.
Enquanto isso a ONG Amazon Link com sede em Rio Branco, denunciou que laboratórios dos EUA e Japão haviam patenteado pelo menos duas substâncias encontradas na secreção do Kambô: A deltorfina e a dermorfina. Uma delas, capaz de reduzir os efeitos da má circulação e outra capaz de imitar o comportamento das endorfinas e auxiliar no tratamento da depressão.
Sendo assim, o mais fácil, é proibir. Proibir algo que ainda nem sequer se conhece direito. E assim, o Kambô vira caso de polícia.
Cria-se então um novo tipo de “criminoso”: o aplicador de Kambô. São novos criminosos também as pessoas que coletam a substância na floresta e os que promovem as sessões de terapia nos grandes centros. Tudo resolvido com “carimbaço” de “biopirata” do IBAMA e da ANVISA. E enquanto isso, os grandes laboratórios desenvolvem uma nova linha de medicamentos que em breve estarão nas prateleiras das farmácias pelo mesmo valor absurdo que hoje eu e você pagamos por exemplo pelo “Legalon”, desenvolvido a partir de uma planta medicinal de uso popular, o “Cardo Santo”. E a promessa de se viver a partir da Floresta sem destruí-la, soa cada vez mais distante, uma ilusão bonita que um dia tolos como eu, acreditaram.
Fonte: http://terranauas.blogspot.com/
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