Artigo do
Professor Ernani Pimentel publicado no Simuladão do Correio Braziliense:
O Decreto
n.º 6.583, de 29 de setembro do ano passado, assinado pelo presidente da
República Federativa do Brasil, fez nascer para o povo brasileiro a realidade
de que, a partir de 1º de janeiro último, entraram em vigor as nossas novas
regras de escrita, resultantes do acordo ortográfico, subscrito pelos governos
dos países falantes da Língua Portuguesa.
Independentemente
de estarmos todos preparados para adotar as novas regras, como já o fizeram
muitas empresas jornalísticas, educacionais e editoriais e muitas outras o
estão fazendo, é importante refletirmos sobre a necessidade de aprimorar esse
acordo para tirá-lo das premissas compatíveis com o século 20, época em que foi
pensado, e adaptá-lo à realidade prática e racional do século 21, período em
que passa a viger.
Se há algo
que sempre atrapalhou o ensino-aprendizagem do capítulo ortografia,
desmotivando alunos e professores, produzindo uma consciência coletiva de
incapacidade de escrita e de subordinação compulsória ao dicionário, chama-se
“exceção”. Se no século passado se aceitava que a “exceção comprovava a regra”,
hoje a consciência predominante é de que “a exceção destrói a regra”, torna-a
incapaz e desinteressante, porque transmite a sensação de perda de tempo: para
que estudar uma coisa que é falha, que não tem lógica, que é irracional? Ao
homem do terceiro milênio não interessam as formulações superficiais, não
práticas, não racionais e dogmáticas. É, pois, preciso adequar a ortografia a
essa nova etapa de evolução do ser humano, que deixa de ver o mundo sob a ótica
da linearidade e passa a captá-lo sob um ponto de vista quântico, holístico.
Qualquer
indivíduo inteligente, hoje, (e todos, em princípio, o são) não aceita
imposições irracionais docilmente e vai querer saber:
- Por que
blêizer se escreve com z, e gêiser, com s?
- Por que
estender com s, e extensão com x?
- Por que
água-de-coco com hífen, e suco de uva, sem?
- Por que
Nova Guiné, sem hífen, e Timor-Leste e Guiné-Bissau, com?
- Por que
eliminamos o trema de nossas palavras, e o usamos nas estrangeiras?
- Por que
proto-herdeiro com h e hífen, mas coerdeiro sem eles?
- Por que
duas grafias aceitas para uma mesma palavra, bi-hebdomadário e biebdomadário?
- Por que
cor de café, cor de bonina sem hífen, e cor-de-rosa, com?
- Por que
paraquedas, paraquedista, paratudo, sem hífen, mas para-raios e para-sol, com?
- Por que
para-raios e para-sol com hífen, mas contrarregra e contrassenso com rr e ss,
sem hífen?
- Por que
giravolta sem hífen, mas gira-mundo, gira-pataca (bobo) e gira-discos, com?
- Por que
guarda-chuva e manda-tudo têm uma só grafia com hífen obrigatório, porém
mandachuva está correto sem hífen ou com ele, manda-chuva?
- Por que as
onomatopeias com palavras repetidas ora têm hífen (reco-reco, blá-blá-blá), ora
o dispensam (panapaná, panapanã)?
- Por que,
em madre-forma, madre-mestra e madre-caprina, o hífen é obrigatório, mas não é
usado em madrepérola?
- Por que
água-de-colônia com hífen e água de cheiro, sem?
-Por que pé
de botina, pé de sapato, pé de chinelo sem hífen e pé-de-meia, com?
- A palavra
arco-íris tem quatro outras denominações arco de Deus, arco da chuva, arco da
aliança e arco-da-velha. Por que só a última tem hífen, se todas têm preposição?
- Por que há
duas grafias corretas para pré-embrião/preembrião, com ou sem hífen, mas uma só
para pré-embrionário, com hífen?
- Por que só
existe uma grafia, com hífen, para pré-esclerose, mas duas para seu adjetivo,
pré-esclerótico/preesclerótico, com ou sem hífen?
- Por que só
uma grafia para preeleger, sem hífen, mas duas, com ou sem hífen, para
pré-eleito/preeleito, pré-eleição/preeleição...?
- Por que
duas grafias para ab-rupto /abrupto, quando se deve ensinar que a melhor
pronúncia é a que separa os dois elementos?
- Por que
duas grafias corretas para adrenal /ad-renal, com ou sem hífen, mas uma só, sem
hífen, para adrenalina e adrenalite?
- Por que
futuro do pretérito se escreve sem hífen, mas mais-que-perfeito deve ser
hifenado obrigatoriamente?
- Por que se
mantiveram as grafias mal-andança (infortúnio), mal-assombro (fantasma),
malconceito (má fama), malcriação, se o mal está indevidamente usado como
adjetivo. - Deveria ser má-andança, mau-assombro, mau-conceito, má-criação?
Se você,
leitor, concorda que o ensino da ortografia deve ser simplificado eliminando-se
esses disparates, eliminando-se as exceções, entre no blog
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e os envie, e sua atitude valerá como uma assinatura de apoio à luta pela
racionalização e simplificação ortográficas.
Acredite em
você, em nós, em nossa causa, divulgue essas ideias o máximo que puder, e
conseguiremos, na hora de escrever, nossa independência dos dicionários, para
escrever.
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