Outro dia, ao passar por
uma rua no bairro Baixa da Colina, avistei um anúncio que me atiçou a
curiosidade. À saída dessa rua estava uma pequena placa com os dizeres: LAVA-SE
MOTO COM CERA – R$ 5,00.
No primeiro momento, devo
admitir, o que mais me chamou a atenção foi o preço, aliás, barato do serviço,
mas como não tenho moto nem sei pilotar, direcionei meu raciocínio para outras
abstrações, especificamente para a expressão “com cera”, associada à idéia de
como a cultura, a linguagem e os conceitos se modificam, se deturpam ou se
corroem com o tempo.
Logo passou pela minha
cabeça a origem da palavra “sincero”, e da situação depreendi então o seguinte:
dependendo do tempo e das palavras, a propaganda pode ou não pode ser a alma do
negócio.
Mas o que a origem da
palavra “sincero” tem a ver com a lavagem de moto com cera e suas implicações
no tempo?
Ora! Vamos às
explicações:
Várias são as versões
sobre a origem da palavra “sincero”. Apesar de ser considerada por alguns como
conto da carochinha, a história dessa origem, dita por alguns como fantasiosa,
lendária, ainda é interessante.
Como disse Malba Tahan,
“Sincero vem do velho, do velhíssimo latim... E eis a poética viagem que fez
“sincero” de Roma até aqui:”
"Sincero"
deriva da expressão latina “sine cera”, que significa “sem cera”, literalmente.
A expressão “sine cera”
tornou-se generalizada durante o auge da arte romana, quando as esculturas se
tornaram pela primeira vez um meio de expressão artística popular.
Quando a escultura tinha
uma falha, escultores desonestos ocultavam com cera as microfissuras de suas
estátuas de mármore. A cera era usada para servir como disfarce, mascarando
imperfeições no que parecia ser cerâmica barata. Na hora, o comprador não
percebia as falhas. Mas depois de um tempo as imperfeições vinham à tona, e se
descobria que era uma escultura "cum cera". Uma peça
indiscutivelmente perfeita ou de qualidade deveria ser, portanto, "sine
cera".
Sabedores dessa fraude,
os escultores honestos faziam questão de ressaltar que suas estátuas eram
"sine cera", ou seja, verdadeiras, autênticas, honestas. Alguns
chegavam a carimbar suas peças com a frase "sine cera" como prova de
autenticidade. Os romanos ludibriados aprenderam então a escolher as estátuas e
a exigir dos vendedores: “Sine cera!”
A expressão chegou até
nós como "sincera", derivando daí “sincero”. Da antiga cerâmica
romana, o vocábulo passou a ter um significado muito mais elevado. Sincero é
aquele que é franco, leal, verdadeiro que não oculta, que não usa disfarces,
malícia ou dissimulações.”
Infelizmente, porém, não
há muitas – ou mesmo nenhuma – provas de que a versão acima seja a verdadeira.
Independentemente de sua
precisão histórica, a mensagem gerada pela expressão "sine cera"
continua a ser uma boa história. "Sine cera" exemplifica o ideal, a
perfeição na honestidade, a virtude de falar a verdade.
E a propósito disso,
voltamos agora ao início do raciocínio: se fizermos, grosso modo, uma
comparação deste caso com a lavagem de moto com cera na Baixa da Colina, o dono
do negócio de lavagem, se morasse na Roma Antiga, teria feito do seu negócio um
fiasco com tal propaganda.
Mas como ele mora no Acre
atual... Que esta pequena fábula nos sirva pelo menos de lição, pois o tempo
constrói, destrói e reconstrói tudo – ou quase tudo –, e daí vêm as verdades!
Fonte: O texto foi pescado no blog http://assimfalouwallace.blogspot.com/.
Um comentário:
Muito bom esse texto. Vivendo e aprendendo!
Olá Franciney! Gostei do seu blog* Muito bom!
Ah! Obrigada, é sempre um grande prazer ter amigos acreanos no meu blog.
Um bom dia pra você!
Abraços,
Lu
Postar um comentário