Para
quem veio de São Paulo, uma das cidades mais violentas do país, ás
vezes soa estranho quando falam sobre a violência em Cruzeiro do Sul.
Uma das figuras que costumo usar era do tempo em que eu saia para
comprar pão e deixava o carros estacionado do outro lado da rua, com o
motor ligado. Nunca fui assaltado. Em São Paulo, me levaram 4 carros em 6
anos.
Não quero com isso, minimizar o sentimento das pessoas de que a violência esteja aumentando. Mas será que está mesmo?
Trabalhei
durante quatro anos divulgando as notas policiais no rádio. Nestes
quatro anos, os casos de violência foram em 90% das vezes, agressões
cometidas com arma branca em situações de bebedeira, combinado ou não ao
uso indevido de drogas e aqueles casos que costumávamos chamar de
"problemas chifrários". Crimes como os que foram cometidos na vila São
Pedro, por exemplo, chocam a população pela forma com que violência que
foi cometida, mas não se pode associá-lo diretamente à questão do
policiamento. Como antever um crime como este? A menos que tenhamos um
dispositivo a lá "Minority Report", capaz de prever o futuro, crimes
como este não podem ser evitados pela polícia.
Mais notável,
contudo foi o aumento dos casos de violência cometidos em escolas e
arredores, este sim, um problema digno de preocupação para autoridades
não apenas policiais, mas também de ensino.
O fato é que a
polícia tem aumentado tanto seu efetivo quanto sua atuação. A Policia
Federal realizou inúmeras apreensões de drogas, desbaratou quadrilhas e
tem dificultado a vida dos traficantes. Hoje contamos com 6 delegados,
depois de anos em que tivemos apenas 1 único delegado para cuidar de
todo vale do Juruá. A Policia Militar também aumentou seu efetivo,
principalmente depois da criaçaõ do IAPEN, que liberou policiais da
carceragem para outros trabalhos.
Mas por que então cresce a sensação de insegurança em alguns bairros?
A
reunião convocada pela Associação de Moradores da Várzea me fez
refletir que existe uma grande diferença entre a violência e a sensação
de insegurança. Ainda que a violência seja "pequena" se copmparada com
outros centros urbanos, a sensação de insegurança tem crescido nos
bairros. Esta sensação é proporcional ao aumento das grades nas
residências. As "pessoas de bem" deixam de frequentar as praças, ruas e
espaços públicos dos bairros que passam a ser pontos de encontro de
usuários de droga, arruaceiros e afins. Não é necessario um grande
número de ocorrências para que os moradores deste bairro passem a
conviver com a incômoda sensação de insegurança. É algo com que tive que
conviver no período em que vivi em SP. Uma sensação horrível de
opressão e de perda de liberdade. Por isso, na reunião da Váreza, me
pareceu que autoridades policiais e população falavam línguas
diferentes. Enquanto a polícia mostrava
números, mostrando que as
ocorências graves vêem diminuindo, a população retrucava, não com dados,
mas com uma espécie de revolta justificada pela crescente perda de
liberdade. São pessoas, que diferente de mim, tiveram a oportunidade de
jogar bola nas ruas de seu bairro, frequentar os cultos e missas
noturnos em suas igrejas, bater papo até tarde da noite, sem serem
incomodados, e o que incomoda de fato é perceber que nada mais disso é
possível.
Ainda que os comunitários apontem como solução
uma maior presença policial nas ruas e esquinas, pessoalmente não
acredito que seja esta a melhor resposta.
Acredito que a
sociedade deva retomar os espaços públicos, com esportes e atividades
culturais e de lazer.Uma solução já apontada pela própria juventude
durante os encontros sobre segurança e cidadania do ano passado. Isto
pode ajudar a devolver a sensação de segurança aos bairros e mais do que
isso, fazer com
que novamente possamos sentir que somos os "donos do
pedaço", retomando o espaço que nos foi tirado pelas drogas e pela
violência.
Fonte: Blog Terra Náuas
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