Até aos 11 anos acreditei em Papai Noel. Não tinha o direito de duvidar, mesmo porque invariavelmente, todos os anos, fosse qual fosse a situação econômica do país ele aparecia lá por casa.
Era o tipo de mistério que nunca me fez perder o sono. Só às vezes, em sonho, me imaginava desvendando seu segredo e como uma maldição ou truque de mágica, da forma que a mãe falava pra gente, ele sumia. Por aquela época, as minhas crenças já andavam avariadas.
Em Porto Walter, corria (se arrastava, é melhor) pelo mês de dezembro o ano de 82. Meu pai, hoje sexagenário, tinha a mesma idade que tenho hoje, e minha mãe contabilizava já o oitavo filho, (a Dani, que ouvi nascendo no quarto ao lado). Naquele ano, perdi a crença na cegonha, no Serginho Chulapa e no Papai Noel.
Pela manhã do dia 25, depois da missa celebrada pelo Padre Jorge, ali mesmo na frente da igreja, onde as pessoas ficavam conversando depois da missa, assassinaram o Papai Noel.
Foi o Alcidemar da Tia Darcy quem espalhou a notícia. Durante a noite, já desconfiado, não se deixou vencer pelo sono e surpreendeu a própria mãe colocando presentes nos sapatos embaixo das camas. O Cida é, pelo menos para mim, o meu assassino do Papai Noel. Não o culpo totalmente, mais cedo ou mais tarde eu acabaria descobrindo também.
Perdendo a inocência, mesmo que eu não acreditasse (em segredo, é bem verdade), todos os anos ele supria as necessidades mais necessárias. Um sapato, uma muda de roupa, uma cueca, um caderno, e às vezes até um brinquedo.
Hoje, tenho tudo, além até do que pedi a Deus. Posso comprar muita coisa, posso nem querer certas coisas, mas as boas lembranças daqueles anos de dificuldades e suas grandes lições de humildade, não há dinheiro que compre.
Quantos não foram os cachos de banana, as mãos de milho ou os paneiros de farinha, que meu pai teve que trocar nos botequins da vila para garantir aos filhos a tradição natalina...
Papai Noel existe. Lenda inocente e serviçal do capitalismo. Não importa! Na minha casa e na casa de minha mãe, ele continuará sobrevivendo, pois é uma espécie de passaporte para as lembranças de um tempo de fantasia, de sonhos, de dificuldades, de fé e de esperança.
Esta é a minha lembrança do Natal.
FELIZ NATAL!
2 comentários:
Humm... Acho q levei um pouco mais de tempo acreditando na imagem rechonchuda do velho papai noel, e ficava com raiva com quem me desapontasse dizendo que n existia... Uma vez, tentei ludibriar papai noel, eu queria mais presentes e achava q colocando mais sapatos ao lado da cama ele colocaria presentes em cada um, arrumei uns sapatos velhos e grandes de um tio meu, acreditando também q os presentes seriam maiores, que nada!!!, p minha decepção no dia seguinte ainda de madrugada, acordávamos eufóricos, todos juntos numa algazarra... "rizadagem" e cochichos, afinal o pai e a mãe ainda estavam dormindos, ou fingindo q estavam dormindos, e vi q os sapatos q eu tinha colocado a mais estavam vazios, só o meu tinha meu presente, enfim a breve decepção deu lugar a alegria de mais uma vez papai noel ter vindo de tão longe e lembrado da gente...
Fram, meu irmão primo e amigo... Acho q somos os últimos saudosistas de uma era inocente, pura e alegre, aquela magia acabou e temos q nos render a isso, mais as lembranças jamais acabarão, pelo menos podemos contar a nossos filhos nossas "traquinagens"
Valeu, cara! Pelo seu comentário, meu texto já valeu a pena. Receber um comentário assim é o que nos motiva a continuar.
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